
08 de janeiro de 2011 | 00h00
Vorobov convenceu Ancona a transformar o porão do Belas Artes num salinha de pouco mais de 60 lugares. Este espaço luminar (que está inclusive "documentado" em Lilian M, Relatório Confidencial), foi o lugar onde cineastas da minha geração, eu inclusive, pudemos assistir em primeira mão - ou exclusivamente - filmes que mudaram nossas vidas e carreiras. Foi lá que Rogério Sganzerla viu Labareda, de Yoshishigue Yoshida, e resolveu usar o Cinemascope na mão do operador de câmera, em Copacabana, Mon Amour. Foi lá que descobrimos o cinema radical e avançado de Luiz Rosemberg Filho, testemunhando a única exibição de Imagens, em São Paulo, cujos negativos desapareceram. Fui lá que assisti Manhã Cinzenta, o filme maldito de Olney São Paulo. No Belas Artes vimos a maior retrospectiva do cinema revolucionário dos anos 60, com direito a Não Reconciliados, de Straub, Os Sem Esperança, de Jancso, O Jovem Toerless, de Schloendorff, e um vasto etecetera. Em suma, foi na "salinha do Bernardo" (era assim que nós chamávamos) que exercitamos - cotidianamente - a liberdade, nos anos ardentes.
Cada cinema de rua que fecha é o mesmo que uma biblioteca desativada ou uma praça pública depredada. Seja em São Paulo, ou pior ainda no interior, equivale a necrose da artéria da vida social da aldeia. Não vejo paliativos para "salvar" patrimônios culturais enfermos e/ou ameaçados; a solução será sempre extrema. Tombamento já!
CARLOS REICHENBACH É CINEASTA
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