Na TV, filmes nacionais dão banho nos estrangeiros

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Por Agencia Estado
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Durante muito tempo, difundiu-se a idéia de que o público da tevê não estaria interessado em ver filmes brasileiros. Uma grande balela, que só encontrava eco porque a tevê simplesmente não exibia filmes nacionais. A primeira prova evidente ocorreu em 1998, no Intercine, uma espécie de Você Decide cultural, no qual o telespectador vota para escolher a que filme quer assistir. Na ocasião, O Guarani, de Norma Benguell, bateu dois filmes americanos, Cada Vez Mais Perto e Nação do Medo (naquele ano, o formato do Intercine colocava três filmes em votação). De olho nessa aceitação e embalada pelo sucesso de O Auto da Compadecida nos cinemas, a Globo promoveu, na primeira semana do ano, o Festival Nacional, com sete filmes. Foi um trampolim para vitórias sobre o concorrente mais direto, o SBT. Somente na quinta-feira houve uma derrota, por 17 a 16. Mas ela é até desculpável. Amor & Companhia começou uma hora mais tarde que os demais e pegou logo de cara o Show do Milhão, programa que possui audiência consolidada. No primeiro dia,Zoando na TV atropelou o tradicional programa da Hebe (34 a 10, audiência média na Grande São Paulo). Na terça-feira, foram colocados frente a frente, no mesmo horário, Buena Sorte, de Tânia Lamarca, contra Titanic, não o famoso com Leonardo Di Caprio, mas um menor, de Robert Lieberman. Neste primeiro confronto direto, a despeito de todo o apelo que o nome Titanic agrega, Buena Sorte ganhou por 19 a 17. Mas foi a vitória mais significativa uma vez que o filme das terças do SBT vinha batendo a Globo o ano inteiro. Na quarta-feira, o bom For All, de Luiz Carlos Lacerda, encarou o poderoso Show do Milhão e não fez feio. Ganhou por 25 a 20. Na sexta, outra comparação direta com o cinema americano. O Corpo, de José Antônio Garcia, pegou um bom filme de terror, Na Lua Cheia, de Eric Red. Ao contrário do que os detratores do cinema brasileiro apostariam, a surra foi feia. O Corpo ganhou por 19 a 12. No sábado, Bela Donna, de Fábio Barreto, com Eduardo Moscovis, ganhou de A Praça é Nossa por 18 a 11 e, no domingo, outra vitória do cinema brasileiro: Orfeu, de Cacá Diegues, derrotou o tradicional Programa Silvio Santos por 24 a 17. "Não temos dúvida de que o telespectador tem interesse na produção brasileira e deveremos ter mais filmes nacionais na tevê", afirma Luis Herlanger, diretor de comunicação da Globo. "Assim que sair de cartaz do cinema, O Auto da Compadecida será o próximo a entrar na nossa programação." Atenta a essa tendência, a Bandeirantes tratou de lançar um festival nacional para as duas últimas segundas-feiras deste mês, às 22 h, no qual exibirá Dias Melhores Virão e Tieta do Agreste, ambos de Cacá Diegues. Os números comprovam a boa aceitação do cinema brasileiro junto ao público de tevê. O que falta é as emissoras perceberem esta tendência. A preferência pelos filmes americanos, que dominam 99% da programação, é unicamente financeira. Depois de ser exibido no mercado mais rico do planeta, o filme americano chega aqui com os custos já pagos (e com muita folga), podendo ser vendido barato, tanto para a tevê quando para os cinemas, sufocando as produções locais. O bom desempenhho do filme nacional na tevê pode significar o começo da reversão deste processo nem sempre leal.

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