Na terra dos revolucionários

Após a crise financeira, empresas de entretenimento ganham fôlego e retornam a Hollywood

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Por Brooks Barnes
Atualização:

O boom do entretenimento digital - interrompido pela recessão e pelo congelamento do crédito - voltou a Hollywood. Quase todos os dias, surge mais uma companhia prometendo revolucionar o cinema ou a televisão.No dia 10 de maio, foi lançada a i-Trailers, uma empresa que faz publicidade de filmes pela internet e em celulares. No dia 11 de maio, a Diva Mobile definiu-se a "primeira solução de multiplataformas de serviços de vídeos por demanda" da indústria do entretenimento. Em 13 de maio, chegou o SulSet.com, site que prometia transmitir vídeos ao vivo dos bastidores dos sets de filmagem via streaming por US$ 9,99.E o frenesi não parou por ali. No dia 13 passado, surgiu a Xumanii.com, afirmando "revolucionar a mistura de entretenimento ao vivo e de redes sociais".É fácil perceber o que isso significa. Mas, a certa altura, vale a pena indagar: será um boom de verdade, respaldado por investidores sérios, com modelos de negócios claros? Ou o custo da criação de uma empresa caiu tanto que isso não passa de fogo de palha? Alguns acham que se trata disso mesmo."O problema é igual ao das corridas ao ouro: é mais fácil ver o ouro do que a mina", disse Lindsay Conner, advogado do escritório Manatt, Phelps & Phillips, especializado em finanças da área de entretenimento.Aos poucos, começa a aparecer gente mais séria disposta a investir, ele disse, "mas estamos ainda muito longe de lucrar com a redução dos custos ou com o potencial de geração de receita da internet para o entretenimento".Jordan Levin, diretor executivo da Generate, companhia de produção e distribuição digital, foi mais direto. "O dinheiro investido em publicidade está voltando, e pode ser que os negócios digitais estejam acelerando", afirmou. "Mas isso não basta para alimentar um mercado vigoroso e dinâmico, e estou me referindo a um mercado que não é representado apenas por um punhado de anúncios sem importância."As novas empresas, muitas delas com financiamento próprio, veem as coisas de maneira muito diferente. "Nós achamos que estamos reinventando a televisão", contou David Levy, CEO da Philo, um serviço de rede social criado há um mês que permite que grupos de pessoas interajam olhando a TV. "Agora, há muito mais gente que compreende que é preciso ter uma ideia séria", ele adiantou. "O fato de as barreiras ao ingresso no mercado serem tão reduzidas que qualquer um pode criar uma empresa não significa que todo mundo deva fazer isso."A tecnologia está cada vez mais madura para esse tipo de experimentação, segundo Larry Kramer, fundador da MarketWatch.com e autor do livro C-Scape: Navigating the Rapidly Changing Worlds of Media and Business, a ser lançado em breve. Ele observou que o iPad da Apple e a corrida das redes e dos estúdios de cinema para fazerem parte dele - a ABC ofereceu logo 20 programas via streaming para iPad - causaram uma explosão de atividade. Os aparelhos de TV equipados com internet também estão se tornando mais comuns.Vendas. As vendas digitais de filmes e programas de televisão continuam crescendo. O Digital Entertainment Group, organização do setor, informou que esta categoria gerou US$ 1,1 bilhão no primeiro semestre do ano, com um aumento de 23% em relação ao mesmo período de 2009. A maior parte das companhias de entretenimento digital bem-sucedidas opera nesta área, como a Netflix, que recentemente disse que o uso do seu serviço de streaming dobrou em comparação com o ano passado.O boom anterior no entretenimento digital ocorreu em 2007 e - com a exceção de alguns destaques como a Hulu.com - fracassou com a economia como um todo em 2009. ManiaTV, uma emissora da internet que produzia programas originais, não conseguiu refinanciar a sua dívida por causa da crise financeira e fechou as portas em março de 2009. (Posteriormente, voltou como um site de celebridades.) A Ripe TV acabou em junho de 2009. Há aproximadamente um ano, investidores, estúdios e anunciantes começaram a voltar, financiando companhias novas que chegaram ao mercado na primavera. Em outros casos, empresas recém-criadas que sobreviveram à crise - como a Break.com, voltada para os vídeos engraçados e de episódios exibidos somente na internet - começaram a chamar a atenção recentemente.Em parte, esta nova agitação produziu resultados concretos. A BermanBraun, produtora criada há três anos em Los Angeles, obteve grande sucesso com a Wonderwall.com e a Glo.com, que oferecem vídeos sobre celebridades e estilo de vida e noticiário em parceria com a MSN.com. A BermanBraun pretende lançar outros dois sites até o fim do ano. E a empresa Generate, de Levin, está canalizando com sucesso os recursos da publicidade para programação de script para rede.Na semana passada, um consórcio de estúdios de cinema, redes de TV e fabricantes de produtos eletrônicos de consumo apresentou o UltraViolet, um esforço ambicioso para facilitar o acesso dos consumidores e a administração do entretenimento digital, independentemente de onde foi adquirido.Celebridades. Entretanto, muitas companhias ansiosas por ação têm grandes objetivos, mas não são muito específicas. A WowioTV.com, um canal digital de histórias em quadrinhos, mexericos e celebridades, "tem grandes planos para o setor de entretenimento", afirma um comunicado. A Yowie.com (não confundir com ZoweeTV.Com) luta para se tornar outro canal que reúna celebridades e seus fãs para chats por vídeo.Lembram da SulSet.com, o site de cinema por assinatura que mostra os bastidores de filmagens? Teve logo problemas com o sindicato dos roteiristas, que protestou que o elenco não estava recebendo uma parte dos ganhos. Para resolver a questão, teve de começar a liberar o acesso ao site, mudando completamente o seu projeto de negócios.Brent Weinstein, diretor de mídia digital da United Talent Agency, acha muitas ideias que começam a pipocar como "coisas de colegiais". "Hoje em dia há mais do que nunca oportunidades digitais", garantiu. "Serão bem-sucedidos os que compreenderem os aspectos específicos da plataforma e do público." / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA

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