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Na Estante da Semana, "Quando Alegre Partiste" - histórias da ditadura militar

No terceiro romance de Moacir Japiassu, de novo o talento do paraibano confiscado pelas metrópoles do sul. E mais: novas e sempre boas crônicas de Lourenço Diaféria, desta vez falando sobre o Brás; uma homenagem ao fumante, por Guillermo Cabrera Infante; e... o que é preciso para ser um executivo de sucesso?

Por Agencia Estado
Atualização:

UM ROMANCE AMBIENTADO NO RIO DE JANEIRO. NOS ANOS DA DITADURA MILITAR. O terceiro romance do jornalista Moacir Japiassu. Agora, em Quando Alegre Partiste ? Melodrama de um delirante golpe militar (288 págs., R$ 31,90), editado pela Francis, o cenário principal é a cidade do Rio de Janeiro, com passagens por Belo Horizonte. O autor presta uma homenagem aos amigos de juventude, velhos e queridos companheiros da redação da sucursal carioca do jornal Diário de S. Paulo. Ali estão o chefe do grupo Léo Guanabara e os redatores e repórteres Pery Cotta, Elio Gaspari, Paulo Goldrajch, apelidado Fogoió, e o abaixo assinado Nicodemus Pessoa. Adalberto Areias, outro redator da sucursal, empresta seu nome a um personagem assaltado por consternação e desenganos. A apresentação do livro coube a Augusto Nunes, também jornalista e escritor. Diz ele: ?O país constatou há pouco tempo que Moacir Japiassu, jornalista brilhante, era, na verdade, um romancista na clandestinidade. Paraibano confiscado pelas metrópoles do Sul quando mal saíra da adolescência, não demorou a ganhar fama e respeito entre craques da imprensa. O Nordeste produzira um repórter talentoso, admirável domador de letras, capaz de capturar a palavra exata com a naturalidade certeira do sertanejo que laça a rês fugidia. Poucos aprendem a localizar a fronteira difusa que separa o deboche da mordacidade. Japiassu nasceu sabendo onde fica?. MUITAS HISTÓRIAS DO BRÁS, POR LOURENÇO DIAFÉRIA. O Brás, um dos bairros mais antigos de São Paulo, em novo livro. Agora, na visão do jornalista e escritor Lourenço Diaféria. Brás ? Sotaques e Desmemórias (Boitempo, 200 págs., R$ 26,00) faz parte da série Trilhas, um dos quatro conjuntos temáticos da coleção Paulicéia, um projeto que pretende resgatar histórias e imagens da cidade. Os livros terão, todos, visões pessoais sobre bairros e regiões. Ao retratar o Brás, Diaféria evita atribuir-se o papel de historiador ou de sociólogo. Prefere o registro em forma de testemunho, e apresenta ao leitor um pedaço vasto de São Paulo, sem falsos sentimentalismos ou saudosismos. Percorre as ruas da região com a mesma sem-cerimônia com que descreve as pernas de Isaurinha Garcia, os milagres do Padre Eustáquio, o assassinato do sapateiro Martinez durante a greve de 1917, as pizzas do famoso restaurante Castelões e as lojas da rua do Gasômetro. Lourenço evita o pitoresco, o típico e o exótico. Com simplicidade e leveza, revê o lugar em que nasceu com os mesmos olhos do garoto que não fazia idéia de que aquilo fosse um bairro. Não por acaso, prefere chamar suas lembranças de desmemórias e destaca a sonoridade dos diferentes sotaques do Brás, para registrar as falas e as vidas dos muitos homens e mulheres, desde os portugueses, espanhóis e italianos dos primeiros anos do século XX, até os nordestinos de tempos mais recentes. UMA LONGA, MUITO LONGA VIAGEM DE LILIANA. UMA ITALIANA IMPORTADA. As histórias de Liliana Laganá estão de volta às livrarias. Depois do sucesso do seu A Última Fábula (2002), em que a paisagem e os personagens são de uma pequena aldeia dos Apeninos, encravada no espinhaço da península italiana, agora chega-nos o relato de uma longa viagem. Em Terra Amada (204 págs., R$ 34,90), também editado, como A Última Fábula, pela Casa Amarela, a escritora leva-nos, a bordo de um navio de imigrantes, do porto de Nápoles ao Brasil dos anos 50. Nos dois livros estão um impressionante casamento entre a realidade e a ficção. Nascida em Roma, Liliana Laganá veio com a família para o Brasil em 1955, aos dezesseis anos. Formou-se pelo Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, onde foi docente por 25 anos. Mestre em língua e literatura italiana. Traduziu do italiano obras de Giuseppe Ungaretti, Elio Vittorini, Ítalo Svevo, Carlo Levi, Cesare Pavese, Giuseppe Bonaviri, Gavino Ledda. O PROTAGONISTA, AQUI, É O PÊNIS. MAS NADA, NADA DE PORNOGRAFIA. O autor, Paulo Ludmer, é homem de muitos talentos. Um engenheiro que se tornou, primeiro, jornalista, mas depois percorreu muitos outros caminhos: professor, artista plástico, jazista, psicodramatista e consultor de empresas na área de energia. Circuncisão (Espaço Editorial, 80 págs., R$ 18,00) é a sua quarta andança pelo mundo da ficção. Antes, lançou Linguaçodada (1994), Outrarias (1998) e Ancinhas (2002). Em Circuncisão, Ludmer reúne pequenos contos que desnudam a intimidade masculina. O pênis é o protagonista (ou personagem?) principal, mas tratado sem pornografia, escatologia ou urologia. O livro é um contraposto à banalização do corpo e das qualidades femininas, colocando seus personagens ?másculos? nessa mesma tela do deboche e da tristeza, do riso e da tragédia que contorna a vida humana. O QUE É PRECISO PARA ALCANÇAR O SUCESSO? VEJA AS RESPOSTAS. A competência técnica de um executivo ? e os seus próprios dotes pessoais ?, já não são mais suficientes para que alcance o sucesso na carreira. As empresas, segundo Jean Bartoli, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec/SP) e da Fundação Getúlio Vargas, autor de Ser Executivo ? Um ideal? Uma religião? (240 págs., R$ 24,50), da Editora Idéias & Letras, estão exigindo muito mais. As principais exigências: mais agressividade, dedicação apaixonada, ambição, espírito de equipe e capacidade de assumir riscos. ?As companhias passaram a adotar um discurso permeado de ideais, que chega às raias da religiosidade?, afirma Bartoli. A disposição de adotar essa postura, segundo ele, pode comprometer o profissional de forma definitiva. Na análise que faz em seu livro, Bartoli sugere caminhos para que todo profissional torne-se protagonista de sua própria aventura de viver. DANE-SE O POLITICAMENTE CORRETO. AQUI A HOMENAGEM É AO FUMANTE. O primeiro livro de sucesso de Guillermo Cabrera Infante, um intelectual cubano exilado em Londres depois de algum tempo de briga com o governo de Fidel Castro, foi Três Tristes Tigres. Um lançamento dos anos 60. Agora, ele reaparece nas livrarias brasileiras com Fumaça Pura (Bertrand Brasil, 420 págs., R$ 49,00). A tradução é de Mário Pontes. Fumaça Pura é vários livros ao mesmo tempo: uma história do tabaco que começa com o seu descobrimento, em 1492, por um marinheiro da nau capitânia de Colombo, Rodrigo de Jerez. É também uma celebração do tabaco e do hábito de fumar essa estranha folha e, finalmente, uma rapsódia tendo como centro o charuto, mas com espaço garantido para o cigarro, o cachimbo e o rapé. Além disso, o livro é uma crônica erudita, mas divertida, da relação entre o charuto e o cinema. Não é por acaso que, na capa, aparece a figura de Groucho Marx.

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