Na estante da semana, os anos 50, em reportagens de Pierre Verger

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Por Agencia Estado
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Textos foram escritos originalmente para a revista "O Cruzeiro". E mais: uma campanha eleitoral vista pelos olhos do mercado financeiro, a viagem do poeta Thiago de Melo pelo Rio Amazonas, o povo de Angola nas lentes de dois fotógrafos brasileiros, as traquinagens dos papas no Vaticano... UM NOVO PIERRE VERGER. AGORA, O MELHOR DO SEU TEMPO DE REPÓRTER. O livro Pierre Verger ? Repórter Fotográfico (Bertrand Brasil, 248 págs., R$ 34,00), organizado por Ângela Lühning, diretora da Fundação Pierre Verger (Salvador, BA), reúne fotos e textos inéditos, produzidos nos anos 50 para a revista O Cruzeiro. Como repórter, Verger é bastante eclético. Quando fala do café da Costa do Marfim, aproxima-se do jornalismo econômico. Ao desvendar as cidades da Mauritânia, torna-se repórter de turismo e, ao descobrir personagens díspares como o pintor de afrescos nas paredes de Guiné, revela-se um escritor de perfis. O livro destaca 30 das últimas reportagens produzidas por Verger, mas nunca publicadas pela revista. Ao desistir da carreira de repórter, depois de ter 130 matérias engavetadas, Verger passou para o outro lado. Como etnólogo e babalorixá, virou assunto e foi cobiçado pela imprensa. O etnólogo francês Pierre Verger (1902-1996), que chegou à Bahia em 1946, dedicou-se aos estudos dos costumes e religiões afro-brasileiros. Mas, para sobreviver, tornou-se repórter, um brilhante repórter fotográfico. O seu olhar observador revelou um Brasil ainda pouco conhecido, mostrando especialmente o Nordeste brasileiro com a sua cultura e o seu cotidiano, contribuindo de forma importante para a documentação e a divulgação da cultura e vida da região. UM LIVRO DE UM EXPERIENTE JORNALISTA, MAS COM UMA BOA DOSE DE FICÇÃO. Um registro das memórias políticas de Flávio Tavares, jornalista gaúcho de 70 anos, que durante o regime militar esteve exilado no México, na Argentina e em Portugal. No exílio, privou da intimidade de João Goulart e Juscelino Kubitschek. Ainda jovem, quando dirigente da UNE, a União Nacional dos Estudantes, cultivou uma improvável camaradagem com o presidente Vargas. Por acaso, segundo diz ele, aproximou-se de Salvador Allende, além de Frida Kahlo, Che Guevara, Perón e De Gaulle. E não permitiu que esses laços se perdessem. Em O Dia em que Getúlio Matou Allende (Record, 336 págs., R$ 42,00), Tavares desfia suas lembranças como quem relata um sonho da noite anterior, com emoção quente, ainda tenso, preocupado em reter detalhes, um tanto confuso em relação às próprias lembranças, mas cheio de paixão. NOS BASTIDORES DE UMA ELEIÇÃO, UM NOVO ROMANCISTA. Um especialista em mercado financeiro estréia como romancista: Eduardo Caldeira, ex-vice-presidente da Oppenheimer, uma das maiores corretoras de valores dos Estados Unidos. Em seu livro, Operação Trinindad (Editora Mameluco, 384 páginas, R$ 26,00), ele tenta desvendar a construção de uma campanha eleitoral no Brasil. Com experiência em transações financeiras, Caldeira descreve um país que raramente aparece na ficção: urbano, metropolitano e onde a principal regra é salvar a própria pele, de preferência com os bolsos cheios. "Já vi muito operador envolvendo-se com esse tipo de falcatrua e colocando sua vida em risco, como o protagonista do livro", afirma ele. O personagem principal de Operação Trinidad, Tomás de Alameida, um operador do mercado financeiro internacional, preenche uma noite de insônia telefonando para dar palpites no programa de um pastor evangélico. No dia seguinte, é procurado pelo apresentador, e acaba envolvendo-se numa operação delicada: levantar 80 milhões de dólares em dinheiro ilegal para financiar a campanha de um candidato a presidente da República. UMA VIAGEM POR NOVA YORK, DA POBREZA À VIOLENCIA. O livro As Gangues de Nova York (Editora Globo, 384 páginas, R$ 43,00) enfoca a história da cidade desde os anos 1840 até 1863, período marcado por tumultos sangrentos. Na época, os limites entre o gangsterismo e a política eram pequenos. Os dois principais partidos políticos, o Tammany Hall e o Native Americans, usavam as gangues para a pilhagem do dinheiro público e a conquista do controle de Manhattan. A corrupção estava disseminada em todos os níveis do governo, incluindo a polícia. Ao mesmo tempo, os imigrantes chegavam praticamente sem nenhum dinheiro e qualificação, indo morar em cortiços decrépitos. Para sobreviver, tinham de recorrer ao crime e à prostituição. O livro tem um caráter cult, tendo merecido uma citação de Jorge Luis Borges em seu conto "O provedor de iniqüidades Monk Eastman", que está em sua História Universal da Infâmia. DEPOIS DOS PAPAS, AGORA A VIDA SEXUAL DOS DITADORES. COMO HITLER, POR EXEMPLO. O autor é o mesmo: Nigel Cawethorne, um jornalista inglês. Depois de ter escrito sobre a intimidade dos papas, livro também publicado há pouco no Brasil, agora ele aparece com A Vida Sexual dos Ditadores (Prestígio, 320 páginas, R$ 39,00). Nele, estão personagens como Napoleão, Lenin, Mussolini, Hitler e Fidel Castro. Ricamente ilustrado, apresenta uma vasta bibliografia, índice remissivo e uma relação de escândalos. A vida sexual de Hitler merece destaque. No começo, sugeriam que ele era homossexual, pois tinha jeito afeminado e mantinha contato com alguns gays assumidos. São contadas por Cawethorne suas fantasias. Fidel Castro também entra na galeria das turbulências sexuais. Foi criado por padres e não namorou ninguém antes de ingressar na faculdade. Casou-se cedo e logo depois separou-se, pois se apaixonou por outra mulher, com quem manteve um romance extraconjugal por um considerável período. UMA GRAMÁTICA DA LITERATURA POPULAR. TODA EM VERSOS. Um livro que acaba de chegar do sertão da Paraíba: a Gramática no Cordel, de Janduhi Dantas Nóbrega. Nela, o autor, professor de cursinhos na cidade de Patos e região, mostra como quase tudo é diferente ? muito diferente ?, nas páginas dos livretos magrelos: a fonologia, a morfologia, a sintaxe e também a semântica. Uma gramática em versos. Na introdução, ele começa explicando como a idéia nasceu: Quase todo dia, à tarde, depois de a gente almoçar, eu me deito com meus filhos numa rede a balançar. E as estórias de cordel eu fico a lhes recitar. Balançando-me na rede, comecei a explicar a gramática pros meninos. Em métrica, o verso a rimar... Esforcei-me pra que eles um dez pudessem tirar. Do capítulo Fonologia recolhemos esta sextilha: Colocar acento em coco é um erro bem danado! Principalmente no fim se o acento é colocado. Pois ninguém está maluco de beber "cocô gelado"! Um livro lançado pelo próprio autor. A Gramática no Cordel, 51 páginas, está nas livrarias por R$ 15,00. A VIAGEM DO POETA PELO GRANDE RIO Era o ano, agora distante, de 1953. De uma viagem do poeta Thiago de Melo pelo rio Amazonas e seus barrancos nasceu o livro Amazonas ? Pátria da Água, que andava desaparecido mas agora foi reeditado. São textos e poesias sobre o nascimento do grande rio e toda maravilha que é o universo mágico do mais belo espaço verde da Terra: a Amazônia. Uma viagem em pleno verão, lembra o poeta. A sua intenção, na época, era, com o livro, "despertar os homens do silêncio e da apatia, para que aprendam a linguagem da simplicidade, aprendam a ouvir os pássaros, a contemplar a grandeza do firmamento e a decifrar os mistérios da natureza". Logo no prefácio de Amazonas ? Pátria da Água (Bertrand Brasil, 144 páginas, R$ 22,00), Thiago Melo, que nasceu na pequena cidade de Barreirinha, fincada à margem direita do Paraná de Ramos, o braço mais comprido do Amazonas, começa a série de denúncias contra agressão ao rio e às matas. A floresta, escreve ele, precisa de cuidados: cada ano que passa, milhares de quilômetros verdes desaparecem, para nunca mais voltar. Um parágrafo do longo prefácio, escrito há quase cinqüenta anos, no qual se vê como são antigas as agressões, que continuam até hoje: "(?) Nem precisa ser cientista para saber o que andam fazendo com a floresta. Se for esperar pelo governo, a floresta estará com os seus dias contados, devastada, não pelo furor das motosserras, dos tratores e dos incêndios criminosos, mas pela fúria da má-fé, da incompetência e do descaso. Mas nem tudo está perdido. Há muita gente vigilante, aqui e pelo mundo afora, enfrentando os inimigos da floresta, que jamais dormem e são cheios de olhos, torpes figuras do Apocalipse". A CAMINHADA DOS JUDEUS. DESDE OS TEMPOS BÍBLICOS. O autor, Raymond P. Scheindlin, além de rabino e estudioso do hebraico, é também historiador cultural. Seu livro, História Ilustrada do Povo Judeu (400 páginas, R$ 39,00), conta, de forma concisa, a caminhada dos judeus desde os.tempos bíblicos até a modernidade, passando por todos os marcos importantes e chegando aos problemas atuais. De onde vieram os judeus? Por que deixaram sua terra natal? Como mantiveram sua identidade através de séculos? Quais são os padrões gerais que determinaram o caráter de suas diversas comunidades? O livro, um lançamento da Ediouro, não é uma história da religião judaica. Mas mostra também que, como todas as instituições humanas, como o próprio povo judeu, a religião judaica mudou através dos séculos, e a história dessa evolução merece ser "contada em seu próprio benefício". A PAISAGEM HUMANA DE ANGOLA, NAS LENTES DE DOIS FOTÓGRAFOS BRASILEIROS. As andanças de dois talentosos (e premiados) fotógrafos brasileiros por alguns recantos da República de Angola, a ex-colônia portuguesa, no sudoeste da África. Em Angola ? A esperança de um povo (62 págs., R$ 55,00), que acaba de chegar às livrarias com o selo da Editora Casa Amarela, Maria Eugênia Sá e Vinicius Souza retratam principalmente a paisagem humana do pequeno país africano que é a terra de origem da grande maioria dos escravos trazidos para o Brasil. O país, segundo o relato dois, na apresentação do livro, vive um momento diferente, depois de 27 anos de uma terrível guerra civil. Hoje, dizem eles, "o povo de Angola quer mostrar sua cara, se identificar, se conhecer, se enxergar. Não como pobres africanos que necessitam de ajuda, mas como um povo orgulhoso que enfrenta de cabeça erguida sua difícil situação e tem esperança no futuro próximo". Maria Eugênia Sá e Vinicius Souza são fotógrafos com experiência bastante eclética, tendo passado por diversos jornais e revistas. Seu maior interesse, no entanto, é por projetos de fotografia documental que mostrem a vida, as pessoas e os lugares por uma ótica não convencional. Como este de Angola, em que mostram uma face diferente do país: a sua luta e a sua esperança, em primeiro lugar. Os dois já documentaram, nos últimos anos, o cotidiano dos índios xavantes no Mato Grosso e dos guaranis em São Paulo, além de muitas cenas de rua na própria África, na Europa e nos Estados Unidos. Mais recentemente, cobriram o conflito na Caxemira ocupada pela Índia. Aliás, foram os únicos jornalistas brasileiros presentes na guerra, que resultou na morte de mais de 90 mil pessoas e cerca de 15 mil desaparecidos. O livro Angola ? A esperança de um povo mereceu uma edição bilíngüe: português e inglês. Mais informações sobre ele estão no site: http://mediaquatro.sites.uol.com.br. UMA ANDANÇA PELAS LENDAS E FÁBULAS DOS BICHOS. LEITURA PARA CRIANÇAS. Depois do recente Rio Acima Mar Abaixo, um sucesso de vendas, Rogério Andrade Barbosa apresenta-nos agora Lendas e Fábulas dos Bichos de Nossa América, um livro de contos da literatura oral das Américas do Sul, Central e do Norte. Contos por ele selecionados. As ilustrações são de Graça Lima. O livro (Melhoramentos, 32 páginas, R$ 23,00) reúne um conjunto de histórias bem-humoradas entre as quais A raposa e o tatu (Argentina), Siripita, o rei dos insetos (Bolívia), Por que o japim e o maribondo são amigos (Brasil), A festa dos pombos (Costa Rica), O castor, porco-espinho e a canção do vento (EUA), Por que os ratos tem medo das mulheres (Guatemala), Xdzunúum, o colibri (México) e A menina que se transformou numa garça (Peru). Rogério Andrade Barbosa, escritor e professor, publicou pela Melhoramentos, em mais de 15 anos, 13 dos 34 livros que escreveu. O RELATO DE UMA PEREGRINAÇÃO. NA ÁFRICA E NO ORIENTE PRÓXIMO Perdão África, Perdão é o segundo livro da jornalista Arcelina Helena Publio Dias. Nele, o relato de sua peregrinação de 500 dias entre os excluídos dos cinco continentes. O que diz ela. A quase totalidade dos habitantes da África é pobre e sofrida. Os nativos do continente, ao contrário das Américas, ainda estão vivos e falam mais de 1.500 línguas. O livro (330 páginas, R$ 20,00) é da Editora Rede, do Mosteiro da Anunciação, de Goiás Velho, onde a autora reside, como beneditina consagrada, desde 1998. Arcelina foi jornalista, durante muitos anos, em São Paulo e em Brasília - tendo trabalhado em O Estado de S. Paulo, no Jornal do Brasil e no Jornal do DIAP. É também professora aposentada da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília. Ela passou 115 dias em favelas da África do Sul, onde conheceu uma nova realidade do povo que, unido, venceu o aparthaid; em Angola, um país que enfrentou guerras durante quase meio século; no Quênia, onde conviveu com a epidemia da AIDS, no dia a dia das crianças portadoras da doença. Também esteve no Senegal, entre famílias de muçulmanos de Tambacounda e Fatick, pequenas e pobres cidades de maioria islâmica. No Oriente Próximo, entre cristãos, islâmicos e judeus, peregrinou por uma realidade totalmente diferente da África. OS PAPAS E SUAS TRAQUINAGENS NO VATICANO Um livro corajoso e bem humorado. Nele, A Vida Sexual dos Papas, o jornalista britânico Nigel Cawthorne revela as aventuras secretas- ou, às vezes, inteiramente públicas, vividas por pontífices de uma Roma dissoluta que ao mesmo tempo impunha, a toda a cristandade, as obrigações de castidade. A decadente corte papal de Avignon, as noitadas promovidas pelos Bórgia em Roma, a luxúria dos tempos de Leão X, Alexandre VI, Clemente VII, Gregório XIII e tantos outros, num mundo de orgias onde tudo valia. A Vida Sexual dos Papas (Prestígio, 351 páginas, R$ 45,00), que sai agora no Brasil, é o livro mais popular de Nigel Cawthorne, autor de mais de 60. "Já foi traduzido para 23 línguas, mas os lugares onde faz mais sucesso são os países católicos", diz o autor. Em capítulos marcados por irreverência e fidelidade aos fatos históricos, o jornalista apresenta histórias que ensinam e surpreendem da primeira à última página.

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