Na Estante da Semana, histórias inéditas da cidade de São Paulo

Levantamento traz um novo olhar sobre as origens da capital paulista. E mais: "O Príncipe", de Maquiavel, com comentários de Napoleão Bonaparte; muita graça nas histórias do sertão nordestino, por Moacir Japiassu; os problemas do campo, o teatro de Plínio Marcos...

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Por Agencia Estado
Atualização:

UMA ANTOLOGIA DE HISTÓRIAS INCRÍVEIS DA CIDADE DE SÃO PAULO Um livro repleto de histórias inéditas sobre a cidade que, no ano passado, completou 450 anos. Em Simbolismo e Profecia na Fundação de São Paulo ? A Casa de Piratininga, que acaba de ser lançado pela Editora Terceiro Nome, Luis Augusto Bicalho Kehl brinda os apaixonados pela história de São Paulo com uma visão muito particular e, ao mesmo tempo, sagaz e substancial. Uma das histórias incríveis: a fundação do Colégio de Piratininga, embrião da cidade, em 1554, não foi tranqüila. Os jesuítas subiram ao planalto à revelia do governador-geral e se estabeleceram na colina às margens do Tamanduateí, contrariando inclusive ordens vindas de Lisboa e Roma. Tamanha audácia por parte do superior da Companhia no Brasil, o padre Manoel da Nóbrega, faz supor a existência de um ideal maior e desvinculado do projeto colonial português, que valesse os enormes riscos da empreitada. Que motivações teriam levado aqueles homens a embrenharem-se na mata, enfrentando todos os perigos em nome de suas crenças e convicções? O levantamento e análise dos fatos e elementos simbólicos e doutrinais que cercaram a fundação da casa de meninos de Piratininga é o objeto do livro (176 págs., R$ 28,00), que lança uma luz inteiramente nova sobre as origens da cidade de São Paulo. Amparado nas cartas jesuíticas que relatam tanto o dia-a-dia quanto os momentos mais dramáticos que cercaram a fundação, o autor esmiúça fatos, datas e locais em busca dos sinais ocultos dessa empreitada. O autor, arquiteto, dedica-se, desde 1981, ao estudo do simbolismo tradicional e religioso presente na arquitetura e no urbanismo dos povos chamados primitivos, que lhe valeu o grau de Mestre em Arquitetura pela FAU-USP. Sua atuação eclética estende-se ainda à recuperação de sítios e edifícios históricos, à pesquisa sobre as formas de ocupação humana da paisagem, a trabalhos em reurbanização de favelas e projetos de recuperação de áreas ambientalmente degradadas. O CLÁSSICO DE MAQUIAVEL. AGORA COM COMENTÁRIOS DE NAPOLEÃO. Um livro escrito há mais de 500 anos, mas que permanece entre as obras de teoria política mais instigantes e influentes. O Príncipe, do florentino Nicolau Maquiavel, está de volta às livrarias. Roupa nova e um acréscimo precioso: um comentário de Napoleão Bonaparte. O manuscrito, publicado primeiro pelo abade Aimé Guillon, em 1816, teria sido encontrado na carruagem do imperador depois da batalha de Mont-saint-Jean, no dia 18 de junho de 1815. As anotações de Napoleão estão em alguns rodapés da nova edição (Editora Campus, 172 páginas, R$ 29,00). Por conta de seus conselhos, que, segundo alguns estudiosos, nem sempre privilegiam os princípios morais, Maquiavel mereceu muitas críticas. Ganhou o adjetivo ?maquiavélico?, quase sempre empregado em sentido pejorativo. Nem por isso o seu livro deixa de ser uma referência obrigatória para estudantes e profissionais de diversas áreas. Em O Príncipe, o autor ensina aos governantes como lidar, por exemplo, com os bajuladores e os opositores. Para ele, é mais importante (muito mais) o dono do poder estar afinado com a maioria da população do que com as minorias que só querem vantagens. UMA CERTA MULHER LÁ DA PARAÍBA. CHAMAVA-SE VANDA. Vanda, moça fina de João Pessoa, na Paraíba, sofre abuso sexual do próprio pai. Perturbada, foge para o Recife, onde passa a viver como prostituta. Temendo reencontrar o pai, transfere-se para uma pensão-cabaré em Belo Jardim, no interior de Pernambuco, onde acaba virando a preferida do prefeito. Na mesma ocasião, Ladislau Cardoso, rapaz pacato da cidade, desiste de sua azarada vida profissional e ingressa no cangaço. Ladislau acaba conhecendo Vanda e se apaixonando, mas não é correspondido. Inconformado, o cangaceiro comete mais e mais desatinos. Passada entre 1937 e 1940, a história de A Santa do Cabaré, do jornalista e escritor Moacir Japiassu, além de juntar personagens da ficção e da realidade, mescla a linguagem culta dos salões e o dialeto nordestino numa cumplicidade ousada. A Santa do Cabaré (Editora Globo, 256 páginas, R$ 28,00) nasceu com vocação de folhetim, no início dos anos 80, escrita para ser publicada em jornal, em capítulos semanais. O projeto foi retomado por Japiassu quase 20 anos mais tarde. O autor manteve a tal "vocação", com capítulos curtos e situações que se sucedem e se entrelaçam, dando ao romance uma agilidade cinematográfica. Japiassu, paraibano de João Pessoa, não reconhece influências concretas em seu trabalho. Exceto o cenário - o sertão nordestino - também palco de muitos outros escritores. O TEATRO DE PLÍNIO MARCOS, NUMA COLEÇÃO COM O CARIMBO DE MAGALDI. A coleção, dirigida pelo crítico Sábato Magaldi, já publicou O Melhor do CPC da UNE e O Melhor de Gianfrancesco Guarnieri. Agora, a Global Editora apresenta o Melhor Teatro Plínio Marcos (288 páginas, R$ 30,00). A seleção coube a Ilka Marinho de Andrade Zanotto, que compôs a antologia do escritor e dramaturgo (nascido em Santos, São Paulo) com cinco peças: Barrela, escrita em 1958; Dois Perdidos Numa Noite Suja, de 1966; Navalha na Carne, de 1967, O Abajur Lilás, de 1969 e Querô, uma Reportagem Maldita, adaptada para o teatro em 1979, a partir de um romance de 1976. O autor, que renovou os padrões da dramaturgia brasileira, mereceu de Décio de Almeida Prado estas palavras: ?Plínio tinha uma experiência humana ligada às classes pobres e levou este mundo para o teatro, até então em grande medida desconhecido. O teatro dele não era exatamente político, de pobres contra ricos, mas trazia uma experiência amarga dos pobres, e isso representou uma grande novidade. Navalha na Carne é uma peça com muita força, com três excluídos que sofrem e nos fazem sofrer?, disse sobre ele o historiador e crítico de teatro. EM DEBATE, OS GRANDES PROBLEMAS DO CAMPO. Um novo lançamento da editora Casa Amarela, dessa vez em parceria com a Paz e Terra. O livro O Campo no Século XXI ? Território de vida, de luta e de construção da justiça social (372 págs., R$ 50,00), que está chegando às livrarias, nasceu dos debates realizados no II Simpósio Nacional de Geografia Agrária, realizado na Universidade de São Paulo. A organização coube aos professores Ariovaldo Umbelino de Oliveira e Marta Inez Medeiros Marques, os dois geógrafos, professores da USP. A apresentação (orelha e última capa) coube ao economista Plínio de Arruda Sampaio e a Dom Tomás Balduíno, presidente da Comissão Pastoral da Terra, um dos vinte autores. Em seu texto diz Dom Tomás: ?A surpreendente novidade que o campo nos oferece hoje é a sua força de transformação política. Não se trata de um simples movimento que cessaria no dia em que se realizasse a sonhada reforma agrária. A conclusão é que terra é mais do que terra. Este símbolo, que se liga visceralmente à vida, é propriamente o lugar histórico dessas lutas, sucessoras das mais primitivas lutas dos índios, dos negros e dos camponeses que, na sofrida busca do próprio chão, foram descobrindo as outras dimensões do seu combate. Terra é dignidade, é participação, é cidadania, é democracia. Terra é festa do povo novo que, através da mudança, conquistou a liberdade, a fraternidade e a alegria de viver!?. O livro, pela sua qualidade, mereceu o patrocínio da Finep - Financiadora de Estudos e Projetos, que é vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. UMA LONGA VIAGEM PELOS CENÁRIOS DO PASSADO. CENTENAS DE ANOS ATRÁS. A autora, Eliette Abécassis, nasceu em Estrasburgo, na França, em uma família judia vinda do Marrocos. Seu pai, professor de Filosofia, é considerado um dos grandes pensadores contemporâneos do judaísmo. Foi no ambiente familiar, portanto, que ela começou amealhar os ingredientes que acabaria levando para o seu O Tesouro do Templo, agora editado no Brasil. Os principais ingredientes: suspense, aventura, religião, esoterismo e também uma pitada de romance. Em O Tesouro do Templo (Ediouro, 296 páginas, R$ 36,00), Eliette Abécassis leva o leitor a uma longa viagem por alguns acontecimentos marcantes do passado. O narrador é o escriba Ary Cohen. Os cenários percorridos são os de Israel, Paris e Portugal. O livro reúne uma seqüência de histórias de crimes, mistérios seculares e uma aula sobre os mais extraordinários enigmas da História.

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