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Na Estante da Semana, a volta de Casa-Grande & Senzala

Por Agencia Estado
Atualização:

Entre os lançamentos recentes de livros, um grande destaque é a volta às livrarias do clássico Casa-Grande & Senzala, do mestre Gilberto Freyre. Nicodemus Pessoa chama a atenção também para o novo livro de Cristovam Buarque, sobre os excluídos brasileiros, e um romance quase autobiográfico de Norman Mailer. O CLÁSSICO DO MESTRE DE APICUCOS, NUMA REEDIÇÃO DE GALA. Está de volta Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre. Agora, na 48ª edição. Uma edição ricamente ilustrada. Publicado pela primeira vez em dezembro de 1933, trata-se de um livro indispensável para a compreensão da alma e da identidade do Brasil. Mesclando a linguagem das ciências sociais com o texto histórico-literário, Gilberto Freyre fez com que Casa-Grande & Senzala, setenta anos depois de sua publicação, se mantivesse vivo, atual, sendo considerado uma das mais importantes obras que retratam o pensamento brasileiro. Um livro tão importante que há quem diga que o Brasil foi descoberto em 1500 por Cabral e redescoberto em 1933 por Gilberto Freyre. Em 1944, por exemplo, Monteiro Lobato dedicou-lhe esta exaltação: "O Brasil futuro não vai ser o que os velhos historiadores disseram e os de hoje ainda repetem. Vai ser o que Gilberto Freyre disser. Gilberto Freyre é um dos gênios de palheta mais rica e iluminante que estas terras antárticas produziram". De fato, em seus 87 anos de vida (1900-1987) ele se dedicou a investigar e entender o corpo e a alma do Brasil. Dedicação generosa, organizada e criativa. Metido nos seus chinelos e no sossego da biblioteca de sua casa de Apicucos, no Recife, ou metendo-se pelos caminhos do mundo em freqüentes viagens, o foco era um só: desvendar as tramas e os nós do emaranhado chamado Brasil. A nova edição (Global, 719 páginas, R$ 89,00) traz a apresentação escrita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além da atualização e revisão das notas bibliográficas e dos índices onomástico e remissivo. Palavras de FHC: "O Brasil urbano, industrializado, vivendo uma situação social na qual as massas estão presentes e são reivindicantes de cidadania e ansiosas por melhores condições de vida, vai continuar lendo Gilberto Freyre. Aprenderá com ele algo do que fomos ou do que ainda somos em parte". Além de Casa-Grande & Senzala, que acaba de chegar às livrarias, outros três livros do escritor pernambucano serão lançados pela Global ainda em 2003: Sobrados e Mucambos, Ordem e Progresso e Nordeste. UM SELETO TIME DE GÊNIOS, OS MAIORES, ENSINANDO A PENSAR. Em Como Descobrir sua Genialidade, que acaba de ser lançado, Michel J. Gelb propõe-se a ensinar a pensar. Mas como sabe que a tarefa não é nada fácil, divide-a com um time de gênios. Aliás, o subtítulo do livro (Agir, 400 páginas, R$ 39,00) é exatamente Aprenda a pensar com as dez mentes mais revolucionárias da História. Um time realmente da pesada: Platão, Brunelleschi, Colombo, Copérnico, Elizabeth I, Shakespeare, Jefferson, Darwin, Gandhi e Einstein. Um guia prático, para despertar e treinar nossos vastos e muitas vezes pouco utilizados recursos de inteligência e capacidade. Através de biografias fascinantes e acessíveis, o leitor desenvolverá um relacionamento pessoal com cada gênio e aprenderá como usar seu princípio condutor para enriquecer a qualidade de sua vida. Auto-avaliações pessoais o ajudarão a estimar de que forma cada princípio está funcionando em sua própria vida, seguidas de uma série de exercícios práticos e divertidos para ajudá-lo a desenvolver plenamente cada princípio. UMA CRONISTA DE SUCESSO INGRESSA AGORA NO MUNDO DA FICÇÃO A estréia de Yolanda Avena Pires como escritora aconteceu em 1993, com uma pequena antologia de crônica e artigos, reunidos sob o título de Caminhada em Defesa da Vida. Um sucesso, na época. Ela era, então, vereadora na cidade de Salvador, onde destacou-se na luta em defesa dos excluídos. Recebeu na ONU o título de mensageira da paz, em reconhecimento pelo seu trabalho. Em 2001, reapareceu como memorialista, com Exílio: Testemunho de Vida, em que a matéria-prima são os anos amargos em alguns países da Europa, ao lado do marido, Waldir Pires, ex-governador da Bahia e atual ministro da Controladoria Geral da República, expulso do país pela ditadura militar. A escritora baiana acaba de ingressar no mundo da ficção. Em O Fio da Meada (Casa Amarela, 78 páginas, R$ 15,00), um romance, ela reúne sentimentos e experiências que viveu como mulher brasileira e também muito do seu dia-a-dia como mãe e avó. Laura, a personagem principal do livro, editado pela Casa Amarela, se não foi criada à sua imagem e semelhança, recebeu muito da força de sua vivência interior e, principalmente, de sua capacidade de enfrentar desafios. OS VIOLEIROS CANTADORES DO NORDESTE, SEGUNDO O GRANDE LEONARDO MOTA. O prefácio de Cantadores, um livro a essa altura sessentão, editado a primeira vez pela Imprensa Universitária do Ceará, coube ao mestre Luís da Câmara Cascudo. Nada menos de 23 páginas de louvores à pessoa e ao trabalho do autor, Leonardo Mota (1891-1948). Diz coisas assim: "Ele, Leonardo, escreveu antes de ler e aprendeu a olhar antes de falar. Baixo, grosso, impetuoso, a máscara risonha, irradiante de simpatia. Era um toro de aroeira, ardendo ao sol do Ceará, povoado de violeiros. Ouví-lo era ver o sertão inteiro, tradicional e eterno, paisagem horizontal dos taboleiros, candelabros de mandacarus. Em qualquer parte do Brasil onde estivesse ressuscitava o Nordeste como nenhum escritor poderia fazer ou outro artista tentar". O que são os cantadores? São os poetas populares que perambulam pelos sertões, cantando versos próprios e alheios. No desafio é que se consolidam as reputações dos bardos populares do Nordeste. Todo cantador deve ser repentista: nem merece esse nome quem não é adestrado nas improvisações. Pois bem, a história desses personagens, escrita por Leonardo Mota, acaba de ser reeditada. A sétima edição. Cantadores (Editora ABC, 292 páginas, R$ 25,00). EM DEBATE, A NAÇÃO DOS EXCLUÍDOS. OU MELHOR, DOS INSTRANGEIROS. Um novo livro do professor Cristovam Buarque, ex-governador de Brasília e atual ministro da Educação. Agora, Os Instrangeiros. O que são os instrangeiros? A grande legião de estrangeiros dentro de seu próprio país de origem: embora nacionais politicamente, são estrangeiros socialmente. São considerados invasores quando constroem suas casas em áreas próximas aos ricos, ou quando ocupam terras improdutivas. Em Os Instrangeiros (Editora Garamond, 184 páginas, R$ 22,00), Cristovam Buarque explica, pela via da economia, da política e, sobretudo, da sensibilidade, o processo de construção das desigualdades sociais no mundo e no Brasil. A chamada exclusão social. O autor vê nessa exclusão das maiorias a origem das tragédias do Brasil contemporâneo: fome, desemprego, violência, escravidão, prostituição infantil, desastres ecológicos. E vai além, ao analisar o fenômeno da pobreza moral, que se expressa na indiferença, na falta de solidariedade, de cidadania e de humanidade por parte de setores expressivos das elites. Para ele, a exclusão não é apenas um problema econômico, mas principalmente, uma questão ética. "Por força de um modelo de crescimento que beneficia uma minoria, a desigualdade cresceu tanto que começa a se transformar em diferença", afirma o economista. UM NORMAN MAILER QUASE AUTOBIOGRÁFICO, COM O SELO DA RECORD. Norman Mailer, um escritor com mais de cinqüenta anos de carreira. Em Homem que é Homem não Dança, que acaba de ser lançado (Record, 320 páginas, R$ 35,00), está a história de um personagem com uma queda por nicotina, álcool e loiras endinheiradas. Um romance com óbvios toques autobiográficos de um autor que logo se mostrou polêmico, inovador e sempre em busca de novas formas de expressão. Tim Madden, um escritor em crise, vivendo em uma névoa de drogas, cigarro e bebida, acorda, mais uma vez, de ressaca. Em seu braço esquerdo, uma dolorosa tatuagem, em sua mão direita, um revólver e em sua mente, um vazio. A seu lado, no banco de passageiros do adorado Porsche, uma bela mulher mergulhada no próprio sangue e, no seu pé, o chefe de polícia. Norman Mailer nasceu em Nova Jersey, em 1923. Cresceu no Brooklyn e se formou na Universidade de Harvard. Durante a Segunda Guerra Mundial serviu nas Filipinas, experiência que lastreou seu romance de estréia, Os nus e os mortos, em 1948. A obra de Mailer inclui O evangelho segundo o filho, Um sonho americano, Parque dos cervos e Os exércitos da noite. HISTÓRIAS DE MULHERES. E TAMBÉM DE UM GRANDE LAGO SALGADO. A naturalista norte-americana Terry Tempest Williams apresenta seu livro Refúgio como uma história incomum sobre mulheres e meio ambiente. As mulheres, todas de sua família, ganham um longo capítulo, O clã das mulheres de um só seio. Os outros são dedicados ao massacre dos pássaros, que buscam guarida no Great Salt Lake, o Grande Lago Salgado do Estado de Utah. Em Refúgio (Ágora, 222 páginas R$ 22,00) a autora, pesquisadora do Museu de História Natural de Utah, em Salt Lake City, entrelaça dois episódios aparentemente distintos que ocorreram na década de 80 nas proximidades de Great Salt Lake: a destruição de um refúgio de pássaros migratórios, ao qual é muito ligada, e os últimos meses de vida de sua mãe, vítima de um câncer de mama. A causa do primeiro episódio é um inesperado aumento do volume das águas do lago, causando enchentes; a do segundo, o câncer, provavelmente em conseqüência da exposição a resíduos radioativos durante experiências com bombas atômicas na região, na década de 50. Uma narrativa comovente e também um alerta ao modo descuidado com que lidamos com a natureza. O escritor Jim Harrison, autor de Lendas da Paixão, vê em Refúgio "um ensaio sobre a mortalidade, a nossa própria e a do mundo, às vezes insuportavelmente intenso e habilidoso". UMA CERTA MULHER LÁ DA PARAÍBA. CHAMAVA-SE VANDA. Vanda, moça fina de João Pessoa, na Paraíba, sofre abuso sexual do próprio pai. Perturbada, foge para o Recife, onde passa a viver como prostituta. Temendo reencontrar o pai, transfere-se para uma pensão-cabaré em Belo Jardim, no interior de Pernambuco, onde acaba virando a preferida do prefeito. Na mesma ocasião, Ladislau Cardoso, rapaz pacato da cidade, desiste de sua azarada vida profissional e ingressa no cangaço. Ladislau acaba conhecendo Vanda e se apaixonando, mas não é correspondido. Inconformado, o cangaceiro comete mais e mais desatinos. Passada entre 1937 e 1940, a história de A Santa do Cabaré, do jornalista e escritor Moacir Japiassu, além de juntar personagens da ficção e da realidade, mescla a linguagem culta dos salões e o dialeto nordestino numa cumplicidade ousada. A Santa do Cabaré (Editora Globo, 256 páginas, R$ 28,00) nasceu com vocação de folhetim, no início dos anos 80, escrita para ser publicada em jornal, em capítulos semanais. O projeto foi retomado por Japiassu quase 20 anos mais tarde. O autor manteve a tal "vocação", com capítulos curtos e situações que se sucedem e se entrelaçam, dando ao romance uma agilidade cinematográfica. Japiassu, paraibano de João Pessoa, não reconhece influências concretas em seu trabalho. Exceto o cenário - o sertão nordestino - também palco de muitos outros escritores.

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