Na estante da semana, a velha e boa rede para dormir

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Por Agencia Estado
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Hábito que vem desde os índios, o uso da rede é dissecado por Câmara Cascudo. E mais: ?Cantadores?, livro que fala dos poetas populares que perambulam pelos sertões; Adhemar de Barros, polêmico personagem da história política do Brasil; a história das Cruzadas, um novo Bourdoukan... O MESTRE LUÍS DA CÂMARA CASCUDO E A SUA REDE DE DORMIR Um novo Câmara Cascudo no catálogo da Global Editora. A reedição de Rede de Dormir ? Uma pesquisa etnográfica, que, embora publicado há mais de quarenta anos, continua como principal fonte de referência para pesquisadores e estudiosos. Segundo Câmara Cascudo, os portugueses quando chegaram ao Brasil já encontraram a rede no dia-a-dia dos que aqui viviam, tanto que Pero Vaz de Caminha, em sua carta à coroa portuguesa falando do descobrimento, cita a rede quando descreve os hábitos dos índios: "Uma rede atada pelos cabos, alta, em que dormiam." Batizou-a pela semelhança das malhas com a rede de pescar. Certamente, Caminha jamais teria ouvido "rede de dormir" em sua época. No livro (232 páginas, R$ 37,00), o autor disseca o tema, em dez capítulos, procurando, inclusive, textos e citações de outros pesquisadores sobre o assunto. Câmara Cascudo remete o leitor ao século XVI, quando o cronista e pesquisador espanhol Juan Lopez Velasques, em sua Geografia General de las Índias, assinalava o uso da rede em todo o continente americano ? desde o México até a Argentina, incluindo países da América Central e as Antilhas. Mais adiante, cita Von Martius e Saint-Hilaire, que no século XVIII falam sobre a quantidade de redes em São Paulo e Minas Gerais, além da qualidade de sua fabricação. UMA NOVA ESTRÉIA DE GEORGES BOURDOUKAN. DESSA VEZ NO TEATRO. Um novo Georges Bourdoukan. Depois do sucesso de A Incrível e Fascinante História do Capitão Mouro, um romance em que conta a história de Ali Saifudin, um árabe que se juntou a Zumbi no Quilombo dos Palmares, e de Vozes do Deserto, uma coletânea de contos (os dois também editados pela Casa Amarela) agora chegou a vez de uma passagem pelo teatro. O novo livro é O Apocalipse. Nele (131 páginas, R$ 18,00), está o mesmo humor sabor Bourdoukan de outros escritos. A apresentação coube ao médico e ex-deputado federal David Lerer. Diz ele: "O Apocalipse é um texto de repórter militante, enxuto e direto, sem adjetivos nem gorduras, com ritmo e vitalidade que fazem o leitor não parar até o fim de suas páginas. Mas o autor não se limita aos horrores da guerra entre irmãos, nem ao papel incendiário dos fanatismos ideológicos, nem ao veneno lento da hipocrisia religiosa. Ele vai além, e com ágeis pinceladas descreve, pela boca de Sarah, o mais doce e inteligente de seus personagens (honra às mulheres!), as verdadeiras razões econômicas e políticas do inferno que se abateu sobre o Líbano, mais acolhedor país do Oriente Médio". O jornalista Georges Bourdoukan nasceu em 1943 em Miniara-Akkar, Líbano. Seu nome inteiro é Georges Latif Bourdoukan. Quando completou 10 anos de idade, sua família veio para o Brasil. Terminou os estudos em São Paulo e com 18 anos já estava seguindo a carreira de repórter. Trabalhou no jornal Última Hora, escrevendo sobre o movimento estudantil, o que lhe custou uma prisão quando cobria um congresso da UNE proibido pelo então regime militar imposto pelo golpe de 1964. Em 1974 foi contratado pela TV Cultura. Depois, trabalhou também na Rede Globo. OS VIOLEIROS CANTADORES DO NORDESTE, SEGUNDO O GRANDE LEONARDO MOTA. O prefácio de Cantadores, um livro a essa altura sessentão, editado a primeira vez pela Imprensa Universitária do Ceará, coube ao mestre Luís da Câmara Cascudo. Nada menos de 23 páginas de louvores à pessoa e ao trabalho do autor, Leonardo Mota (1891-1948). Diz coisas assim: "Ele, Leonardo, escreveu antes de ler e aprendeu a olhar antes de falar. Baixo, grosso, impetuoso, a máscara risonha, irradiante de simpatia. Era um toro de aroeira, ardendo ao sol do Ceará, povoado de violeiros. Ouví-lo era ver o sertão inteiro, tradicional e eterno, paisagem horizontal dos taboleiros, candelabros de mandacarus. Em qualquer parte do Brasil onde estivesse ressuscitava o Nordeste como nenhum escritor poderia fazer ou outro artista tentar". O que são os cantadores? São os poetas populares que perambulam pelos sertões, cantando versos próprios e alheios. No desafio é que se consolidam as reputações dos bardos populares do Nordeste. Todo cantador deve ser repentista: nem merece esse nome quem não é adestrado nas improvisações. Pois bem, a história desses personagens, escrita por Leonardo Mota, acaba de ser reeditada. A sétima edição. Cantadores (Editora ABC, 292 páginas, R$ 25,00). NAS LIVRARIAS, A FASCINANTE E DRAMÁTICA HISTÓRIA DAS CRUZADAS. O autor, W. B. Bartlett, sempre mostrou-se fascinado pela história das Cruzadas. Era um projeto antigo escrevê-la. A sua História Ilustrada das Cruzadas (503 páginas, R$ 49,00), que chega ao Brasil numa tradução de Nelson Almeida Filho, faz parte da coleção História Ilustrada, da Ediouro. De fato, um livro amplamente ilustrado, e de fácil compreensão. Nele, W. B. Bartlett reporta o leitor para todo o drama do movimento que durante grande parte da Idade Média procurou estabelecer a cristandade no seu local de nascimento. Trata-se de uma saga rica em paradoxos e contradições: ambição mundial e auto-sacrifício espiritual, orgulho e humildade, valores extraordinários e covardias indignas. A trajetória das Cruzadas é um dos capítulos mais ricos da História da humanidade. Historiadores vêm discutindo por anos o significado do movimento, considerado um dos mais atraentes do mundo Medieval, talvez até de todos os tempos. A primeira Cruzada foi iniciada pelo Papa Urbano II, em 1095, e as posteriores até a última em 1291. O polêmico Adhemar de Barros, na visão de um jornalista. A história de um personagem polêmico da História recente do Brasil está impressa em novo livro: Adhemar de Barros ? Trajetória e Realizações. O autor, Paulo Cannabrava Filho, adianta que não se trata de uma biografia mas, sim, de um resgate histórico. O que isso significa? Cannabrava, um jornalista que amargou o exílio entre 1968 e 1980, pretende mostrar em Adhemar de Barros ? Trajetória e Realizações, que está chegando às livrarias com o selo da Editora Terceiro Nome, que seu personagem, um homem culto, poliglota, de personalidade forte, nascido politicamente depois da Revolução de 30, e duas vezes governou o Estado de São Paulo, deu importantes contribuições à construção da democracia. Adhemar, segundo Cannabrava, morreu no exílio (1969), arrependido de ter ajudado a conspiração que derrubou o presidente João Goulart, em 1964. Em 2001, no centenário de seu nascimento, a família de Adhemar doou ao Arquivo do Estado São Paulo centenas de reportagens, relatórios, discursos e livros, além de cerca de 30 mil fotos de seu acervo pessoal. O livro de Paulo Cannabrava Filho traz uma síntese do conteúdo desses documentos. Adhemar iniciou sua vida política na revolução paulista de 1932. Foi deputado estadual constituinte, interventor federal, nomeado pelo presidente Getúlio Vargas, governador eleito por dois mandatos, além de prefeito da capital. Disputou quatro eleições presidenciais, fundou e comandou o Partido Social Progressista. O autor, Paulo Cannabrava Filho, jornalista desde 1957, foi repórter dos jornais O Tempo, Correio da Manhã, A Nação e Última Hora, além de ter sido correspondente de jornais latino-americanos e europeus. UMA HISTÓRIA DE AMOR DO PREMIADO HARTLEY ACABA DE CHEGAR Um romance de Leslie Poles Hartley, o premiado escritor britânico, que levou anos para chegar ao Brasil. Em O Mensageiro (248 páginas, R$ 32,00), lançado pela Nova Alexandria, ele conta uma história de amor e traição. Em férias de verão na casa de campo de seu melhor amigo, em Norfolk, interior da Inglaterra, o garoto Leo Colston apaixona-se pela bela Marian Maudsley, a filha mais velha da família. A moça incumbe-o de fazer o papel de mensageiro entre ela e Ted Burgess, o arrendatário de uma fazenda próxima. Leo, sentindo-se amado e valorizado por Marian, cumpre a tarefa com satisfação. Porém, não demora a descobrir que entre Marian e o rapaz existe um ardente e secreto caso de amor. E vem a desilusão. O livro de L. P. Hartley foi escrito em 1953. Uma das mais expressivas obras da literatura inglesa do século 20, retrata o tema da perda da inocência e do fim da infância. A trama transporta-nos para uma dimensão sutil, onde os planos psicológico e moral das personagens confundem-se com as dores do sofrimento humano. Quem narra a história é um Leo Colston já sexagenário, que remexe o baú do passado e revive a desilusão do momento em que conhece a hipocrisia, a crueza e o egoísmo do mundo adulto. Nesse instante de revelação, o jovem personagem é obrigado a reconhecer sua insignificância e o equívoco de suas pretensões de ser correspondido em sua paixão. Essa decepção marcaria para sempre sua existência.

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