Na estante da semana, a história do seringueiro Chico Mendes em reportagens

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Por Agencia Estado
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Textos são do jornalista Zuenir Ventura. E mais: as fotos de São Paulo antiga, uma grande pesquisa sobre os índios ianomâmis, uma reflexão sobre a educação ambiental... A TRAJETÓRIA DE CHICO MENDES, NO TEXTO DE ZUENIR VENTURA. No começo de 1989, Zuenir Ventura foi enviado ao Acre para uma série de reportagens sobre o seringueiro Chico Mendes, assassinado em dezembro de 1988. Os textos deram-lhe o Prêmio Esso de Jornalismo. Zuenir voltou à região dois anos mais tarde e, em outubro de 2003, completou a série de matérias sobre o líder que chamou a atenção do mundo todo para a luta contra a devastação da Amazônia. Agora, em Chico Mendes ? Crime e castigo, da Companhia das Letras (241 páginas, R$ 37,50), estão as reportagens escritas pelo jornalista sobre o maior líder ambientalista brasileiro. Chico Mendes era mundialmente reconhecido por sua luta pela preservação da Amazônia. No Estado do Acre, o seringueiro desenvolveu táticas pacíficas de resistência para defender a floresta, que a partir da década de 70 sofrera um acelerado processo de desmatamento para dar lugar a grandes pastagens de gado. O New York Times já havia o considerado "um símbolo de todo o planeta" e a ONU já o premiara. Mas Chico Mendes precisou ser assassinado para ser reconhecido no Brasil. O livro de Zuenir Ventura é dividido em três partes. A primeira, "O crime", reúne as reportagens feitas para o Jornal do Brasil no começo de 1989, logo após o assassinato. Na segunda, "O castigo", estão as reportagens produzidas em 1990, juntamente com Marcelo Auler, que cobrem o julgamento dos assassinos. "15 anos depois" é a terceira parte, com textos de outubro de 2003, quando Zuenir revisitou lugares e personagens envolvidos no crime. A PAISAGEM DA SÃO PAULO ANTIGA, UM SUCESSO NAS LIVRARIAS. Um livro que acaba de chegar à segunda edição. Lançado no início deste ano, São Paulo de Piratininga ? De pouso de tropas a metrópole (Editora Terceiro Nome, 255 páginas, R$ 130,00) vendeu em semanas 5.000 exemplares. Uma nova tiragem já está chegando às livrarias. As 270 fotos reunidas no livro mostram uma São Paulo ainda pequena, na transição para a megacidade que acaba de completar 450 anos. O livro começa pelo centro histórico, saltando depois para o Vale do Anhangabaú, os bairros da Luz, Liberdade, Glória, Brás, República, Campos Elíseos e arredores. A leitura do livro é uma longa caminhada pelo passado de São Paulo. As fotos foram encontradas em meados de 2000, durante uma reforma no Centro de Documentação e Informação do jornal O Estado de S. Paulo. Um grande volume, empacotado com papelão grosso e certamente fechado há décadas, foi aberto, revelando seis álbuns encadernados. Lá estavam cerca de 700 fotos. A cidade entre os anos 1860 e 1930. É com certeza uma das mais importantes descobertas de coleções fotográficas dos últimos anos. No livro, que conta com projeto gráfico de Diana Mindlin, as fotos foram organizadas por regiões. As informações sobre as fotos foram obtidas com a consultoria do historiador José Alfredo Vidigal Pontes, estudioso há mais de trinta anos da memória visual de São Paulo, e do arquiteto e museólogo Julio Abe Wakahara, um dos maiores colecionadores particulares da iconografia paulistana. Ambos contaram com a valiosa colaboração de Ivany Sevarolli, também especialista na iconografia da cidade. A SÃO PAULO DE AGORA E A HISTÓRIA DE MILHARES DE RUAS Uma pesquisa persistente e dedicada. Durante dois anos, Silvia Costa Rosa percorreu os arquivos municipais, recorreu a revistas e jornais antigos, entrevistou familiares e vasculhou a internet para escrever 1001 Ruas de São Paulo, agora editado pela Panda Books. No livro (222 páginas, R$ 29,00), ela mostra o que cada homenageado fez pelo bairro, pela cidade ou pelo país, lista locais e datas de nascimento e morte, e conta até em que ano a rua foi batizada. É um belo documento, para matar a curiosidade de todos os paulistanos! Vejam alguns exemplos. Paulista, Avenida Paraíso/ Sé (1930) Aberta em 1890, recebeu esse nome de Joaquim Eugênio de Lima, antigo proprietário dos terrenos onde nasceu. Foi solenemente inaugurada em 8 de dezembro de 1891, já com iluminação, redes de água e esgoto e linha de bonde. Foi também a primeira via pública asfaltada e arborizada da cidade. Oscar Freire, Rua Jardim Paulista/ Pinheiros (1923) Oscar Freire de Carvalho. Nasceu na Bahia a 3 de outubro de 1882. Médico. Fundou a Sociedade de Medicina Legal e Criminologia e a Sociedade de Educação e Ensino. Deixou numerosos trabalhos no ensino de perícias. Faleceu em São Paulo, a 11 de janeiro de 1923. A EXPLORAÇÃO DOS SELVAGENS IANOMÂMIS. POR MUITA GENTE CIVILIZADA. Um dos livros que mais causaram impacto nos Estados Unidos nos últimos anos. Trata-se de um trabalho de investigação que conta a história da exploração dos índios ianomâmis e de suas terras amazônicas por pesquisadores estrangeiros, tanto jornalistas quanto antropólogos. Os ianomâmis foram considerados a tribo mais selvagem e guerreira. Escondidos nas selvas da Venezuela e do Brasil, eram vistos como o último povo "virgem", atraindo a atenção dos estudiosos interessados em pesquisar o comportamento humano em cenário primitivo. Quando foram encontrados por Napoleão Chagnon, Jacques Lizot e outros antropólogos, na década de 60, a "descoberta" de sua feroz beligerância e competição sexual assustou. E assustou de forma tão profunda quanto, quase meio século antes,havia ocorrido com as descobertas de Franz Boaz e Margaret Mead. As guerras brutais dos ianomâmis e seus hábitos de acasalamento geraram inúmeros filmes e livros, sendo o mais famoso deles The Fierce People ("O Povo Feroz"), de Chagnon, que vendeu mais de um milhão de exemplares e exerceu enorme influência no campo da sociobiologia. Agora, com Trevas no Eldorado, Patrick Tierney, pesquisador visitante da Universidade de Pittsburgh, não só contesta as teorias então estabelecidas, como, num relato explosivo, baseado em mais de uma década de pesquisas, faz denuncias extremamente sérias sobre a presença de cientistas e jornalistas entre os ianomâmis. Baseado em mais de dez anos de pesquisas, o autor demonstra em Trevas no Eldorado (526 páginas, R$ 43,50), da Ediouro, como a beligerância destrutiva dos ianomâmis foi uma reação às repetidas visitas de estrangeiros que buscavam o povo mítico, cuja existência situava-se, fundamentalmente, na imaginação dos ocidentais. UM CONVITE À REFLEXÃO: O QUE É MESMO EDUCAÇÃO AMBIENTAL? A preservação ambiental é uma unanimidade (ou quase) na sociedade contemporânea. Mas é preciso refletir criticamente sobre como esse consenso vem sendo construído e qual o papel, nessa construção, sobretudo das instituições (escolas, universidades) responsáveis pela Educação Ambiental e do movimento ambientalista (leia-se, principalmente, ONGs). Um convite a essa reflexão está no livro Educação Ambiental ? Repensando o espaço da cidadania, organizado por Philippe Pomier Layrargues, Carlos Frederico Bernardo Loureiro e Ronaldo Souza de Castro. Mais do que nunca, insistem os autores, é preciso reconhecer que a crise ambiental ? preocupante em algumas regiões do Brasil ?, é mais que uma questão ética. É também uma questão política. Mais que individual e privada, ela é coletiva e pública. No momento em que rumamos para a mercantilização da natureza, os autores reafirmam que a realização humana só pode ser produto do trabalho coletivo, da ação política articulada e vinculada às práticas educativas que almejam a concretização da cidadania plena e ecológica. A importante e vigorosa defesa teórica de uma perspectiva transformadora da Educação Ambiental favorece o reconhecimento dos recursos naturais como bens coletivos e do ambiente como resultante de múltiplos fatores históricos, sociais e naturais, cujos modos de gestão são objetos de debates públicos. Um livro (Cortez, 256 páginas, R$ 28,00) fundamental para ambientalistas e educadores comprometidos com a construção de modelos democráticos e sustentáveis de sociedade. AS MUITAS, MUITAS FÁBULAS QUE A QUERIDA NONNA CONTAVA. As histórias bem poderiam ser das ruas de Roma, onde Liliana Laganá nasceu. Mas, não. A Última Fábula (Casa Amarela, 174 páginas, R$ 25,00) conta a vida menos agitada de uma pequena aldeia dos Apeninos, no espinhaço da península italiana, onde a mãe da autora refugiara-se após a partida do marido para o front, no início da Segunda Guerra Mundial. A narradora é uma menina, que vive com encantamento na aldeia situada no alto de uma colina, circundada por muralhas seculares, o único lugar do mundo, para ela, onde crianças nascem, brincam e ouvem fábulas nas noites de inverno. As fábulas que, agora, Liliana Laganá decidiu passar para o papel. A autora, nascida em Roma, como dissemos antes, emigrou com a família para o Brasil em 1955, aos dezesseis anos. Licenciou-se e doutorou-se pelo Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, onde hoje é docente da pós-graduação. Fez também, na mesma universidade, mestrado em língua e literatura italianas, e traduziu para o português alguns dos maiores escritores da Itália, como Cesare Pavese, Elio Vittorini, Ítalo Svevo, Carlos Levi e Giuseppe Bonaviri. Escreveu também contos tendo como tema a imigração italiana para o Brasil. UMA BELA HOMENAGEM AO HOLANDÊS VAN GOGH, UM ARTISTA GENIAL. Um livro que reúne três nomes marcantes: O personagem, o pintor holandês Vincent Van Gogh (1853-1890). O autor, Antonin Artaud (1896-1948), diretor de teatro francês. E o tradutor, o poeta e crítico de arte brasileiro Ferreira Gullar. Van Gogh ? O suicida da sociedade é, como o apresenta a editora, um pequeno ensaio sobre o artista genial, mas nele estão belas ilustrações da obras que o holandês criou. Em seu livro (José Olympio, 104 páginas, R$ 28,00), Artaud é enfático: "Não, Van Gogh não era louco. Ou então ele o era no sentido desta autêntica alienação que os psiquiatras querem ignorar. Uma sociedade que confunde escrita com texto, e que taxa de loucura visões exorbitadas de seus artistas e sufoca seus gritos no papel impresso. Foi assim que calaram Baudelaire, Edgard Alan Poe, Gerard de Nerval e o impensável conde de Lautréamont". O livro Van Gogh ? O suicida da sociedade, agora editado no Brasil, foi publicado em 1947, alguns meses antes da morte do autor. UMA CRONISTA DE SUCESSO INGRESSA AGORA NO MUNDO DA FICÇÃO A estréia de Yolanda Avena Pires como escritora aconteceu em 1993, com uma pequena antologia de crônicas e artigos, reunidos sob o título de Caminhada em Defesa da Vida. Um sucesso, na época. Ela era, então, vereadora na cidade de Salvador, onde destacou-se na luta em defesa dos excluídos. Recebeu da ONU o título de mensageira da paz, em reconhecimento pelo seu trabalho. Em 2001, reapareceu como memorialista, com Exílio: Testemunho de Vida, um livro em que a matéria-prima são os anos amargos vividos em alguns países da Europa, ao lado do marido, Waldir Pires, ex-governador da Bahia e atual ministro da Controladoria Geral da República, expulso do país pela ditadura militar. Agora, a escritora baiana acaba de ingressar no mundo da ficção. Em O Fio da Meada (78 páginas, R$ 15,00), um romance, ela reúne sentimentos e experiências que viveu como mulher brasileira e também muito do seu dia-a-dia como mãe e avó. Laura, a personagem principal do livro, editado pela Casa Amarela, se não foi criada à sua imagem e semelhança, recebeu muito da força de sua vivência interior e, principalmente, de sua capacidade de enfrentar desafios.

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