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Na estante da semana, 100 anos de São Paulo, com a cara de seus habitantes

Por Agencia Estado
Atualização:

"1860-1960 - A Paisagem Humana" mostra o povo na cidade que cresce. E mais: as variadas formas de violência contra a mulher, lembranças de Rachel de Queiroz, o poder das telenovelas, a militância política da Igreja Católica... AS RUAS DA SÃO PAULO DE 450 ANOS. DURANTE UM SÉCULO. Um livro que mostra o paulistano dos primeiros registros fotográficos da cidade, a começar de 1860, até o ano emblemático de 1960. Ele trabalha, briga, sorri, canta, posa para a câmara. É emocionante vê-lo entre aqueles que foram contemporâneos de nossos bisavós, avós, pais. São Paulo, 1860-1960 ? A Paisagem Humana reúne uma seleção rara de fotos. Uma longa viagem pelas ruas, avenidas e outros recantos da cidade que comemora seus 450 anos. Mas a preocupação não é mostrar apenas a construção da cidade, do pequeno sobrado ao primeiro arranha-céu, como o velho Martinelli. Agora, gente. Moda, costumes, etnia mutante, pobreza e riqueza. O livro (252 págs., R$ 140,00) é a estréia da Editora Albatroz, de Ruy Mesquita Filho, em parceria com a Terceiro Nome (www.terceironome.com.br). Nele, o povo de São Paulo é mostrado, nas primeiras páginas (1860-1869), como o típico habitante de uma pobre vila de pouco mais de 25 mil habitantes ? tropeiros, padres, burocratas, estudantes. Naquele tempo, segundo o jornalista e escritor Fernando Portela, autor dos textos que apresentam cada um dos períodos retratados, a cidade era "pacata, até sonolenta, um tanto sombria e naturalmente pobre. Ruas vazias de dia e, mais ainda, de noite". No capítulo (1880-1889), no entanto, a vila já é outra ? mais robusta. "Agora, sim", diz Portela, "as ruas estão cheias. De tílburis e tróleis, a disputar o espaço com os bondes de tração animal". As fotos (cerca de 230, de vários autores) navegam por muitos momentos marcantes da história do paulistano e de São Paulo. O aparecimento dos primeiros bondes (não mais puxados a burros), a Revolução de 1924, o movimento constitucionalista de 1932, o quebra-quebra de 1947, as comemorações do IV Centenário, em 1954, e, por fim, as ruas cheias durante eleições. O último texto de Fernando Portela, no capítulo sobre os anos 1950-1960, começa com a pergunta: "Final feliz?" E ele mesmo responde: "Mais ou menos. O crescimento continua, não vai parar nunca. Nós, que conhecemos o filme muito além dessa data, sabemos disso. Manifestações coletivas, eleições, agitações, demolições, reformas ? e a poluição, começando a incomodar". EM DISCUSSÃO, A VIOLÊNCIA (NÃO FÍSICA) CONTRA A MULHER. Uma notícia a cada dia mais freqüente, e às vezes até parece impressa em sangue: mulheres vítimas de violência. Uma escalada nas páginas de polícia ? o abuso sexual, rostos marcados por hematomas, assassinatos. Nos últimos anos, segundo estatísticas, cresceu muito a exposição dos chamados "crimes da paixão". Mas existe uma outra violência, não menos dolorosa, que não costuma aparecer nos jornais: a dos abusos não-físicos, que também proliferam na privacidade dos lares. Esse tipo de agressão é o tema da psicóloga norte-americana Mary Susan Miller em seu livro Feridas Invisíveis. Nele, a autora, que durante anos atuou como conselheira no Centro Metropolitano de Reabilitação, a prisão federal do Estado de Nova York, exibe exemplos dessas feridas. Estão expressas, segundo ela, no abuso psicológico, na coerção econômica, na restrição social. Atos sutis ? e cotidianos ? de poder e submissão, que muitas vezes escapam da percepção das próprias vítimas. Em Feridas Invisíveis (Summus Editorial, 288 páginas, R$ 31,00), Mary Susan Miller, ao descrever a experiência de numerosas vítimas de abusos não-físicos, analisa as causas históricas, sociais e conjugais desse tipo de violência, e denuncia o quanto o sistema social ainda está despreparado para enfrentá-lo. Ao mesmo tempo, permite ao leitor compreender o sofrimento e a devastação existencial dessas mulheres. UMA MENINA DO CEARÁ CHAMADA RACHEL. ELA MESMA, RACHEL DE QUEIROZ. Em Memórias de Menina (José Olympio, 32 páginas, R$ 23,00), estão onze histórias. Histórias que recuperam a infância não só da autora, a saudosa Rachel de Queiroz (1910-2003), mas de toda mulher ou homem, não importa a idade, que goste de lembrar dos seus tempos distantes. A escritora, nascida e criada no Ceará, fala não apenas de seu Nordeste, mas também de outros recantos do país, pois mudou-se para o Rio de Janeiro muito jovem. Narra os costumes de cada região e faz um paralelo entre a vida dos pobres e ricos, das moças do interior e das cidades. Com gosto de doce lembrança, ela recorda, em Capote, do palhaço e mágico abandonado pelo circo. É a magia do circo que marca as recordações de qualquer infância. Em Vida de hoje, a escritora diz que, atualmente, as crianças precisam aprender a enfrentar a vida, porque as mães tiveram que sair de casa para o mercado de trabalho. Já Menina do Interior lembra que na roça as meninas de oito anos precisam ajudar a criar seus irmãos. UMA TERRA DE MALANDROS? SIM, SÃO PAULO TAMBÉM FOI. A História oficial, aquela que se aprende na escola, não registra uma única linha. Mas a São Paulo da garoa, que tanto se orgulha de sua dedicação ao batente, já teve, sim, seus dias de glória ? e quanta glória! ? no exercício da malandragem. As provas estão em Malandros da Terra do Trabalho, da professora Márcia Regina Ciscati, editado pela Annablume (274 págs., R$ 23,00). O livro é resultado de sua tese de mestrado na Unesp, a Universidade do Estado de São Paulo. A pesquisa da professora vai de 1930 a 1950. A partir da análise desse período, voltando às vezes no tempo, ela, paulistana do bairro da Penha, reconstrói, ao menos em parte, a história da cidade. Recorrendo a testemunhos variados ? depoimentos, notícias de jornal e crônicas literárias ? recriou ambientes como a Boca do Lixo e o chamado Quadrilátero do Pecado, no centro da cidade, e outros pontos de malandragem, boêmia e jogos, espalhados pelos bairros. Um deles é o tão celebrado edifício Martinelli, por exemplo, símbolo da urbanização paulistana, que abrigava pelo menos quinze cassinos. UM GRANDE BEST SELLER DO DIREITO. AGORA NA OITAVA EDIÇÃO. Uma marca que, sozinha, já bastaria para explicar o sucesso de um livro, principalmente tratando-se de um livro técnico, direcionado a um público restrito: Ação Civil Pública ? Em Defesa do Meio Ambiente, do Patrimônio Cultural e dos Consumidores, de Rodolfo de Camargo Mancuso, acaba de chegar à oitava edição. Mas pode-se dizer mais. Lançado pela primeira vez em 1989, não durou sequer um ano nas prateleiras. Mais recentemente, a sua sétima edição saiu da gráfica no primeiro semestre de 2001 e em outubro já estava praticamente esgotada. Uma trajetória, sem dúvida, digna de nota. Mas o que são as ações civis públicas de que se ocupa o livro? O autor cita como exemplo a que foi movida pelo Ministério Público de São Paulo, no começo dos anos 80, contra a prefeitura da cidade. Qual a acusação? A prefeitura é apontada como omissa (ou responsável por falha administrativa) na preservação de um dos ícones de São Paulo ? o Monumento das Bandeiras, esculpido por Vitor Brecheret, que se destaca na paisagem do Parque do Ibirapuera. Nos termos da ação, o monumento estava sendo "conspurcado, dentre outros fatores, pelo flagelo da pichação." A oitava edição de Ação Civil Pública (Editora Revista dos Tribunais, 447 páginas, R$ 62,00) revista e atualizada, acaba de chegar às livrarias. Na nota introdutória, Camargo Mancuso, professor associado do Departamento de Direito Processual da USP, explica que o livro mantém a sua estrutura original, mas o texto é o mais atualizado possível, de forma a continuar a merecer a confiança de profissionais e estudantes do Direito. UMA ANDANÇA PELAS LENDAS E FÁBULAS DOS BICHOS. LEITURA PARA CRIANÇAS. Depois do recente Rio Acima Mar Abaixo, um sucesso de vendas, Rogério Andrade Barbosa apresenta-nos agora Lendas e Fábulas dos Bichos de Nossa América, um livro de contos da literatura oral das Américas do Sul, Central e do Norte. Contos por ele selecionados. As ilustrações são de Graça Lima. O livro (Melhoramentos, 32 páginas, R$ 23,00) reúne um conjunto de histórias bem-humoradas entre as quais A raposa e o tatu (Argentina), Siripita, o rei dos insetos (Bolívia), Por que o japim e o maribondo são amigos (Brasil), A festa dos pombos (Costa Rica), O castor, porco-espinho e a canção do vento (EUA), Por que os ratos tem medo das mulheres (Guatemala), Xdzunúum, o colibri (México) e A menina que se transformou numa garça (Peru). Rogério Andrade Barbosa, escritor e professor, publicou pela Melhoramentos, em mais de 15 anos, 13 dos 34 livros que escreveu. DE OLHO NA TV. O PODER (TERRÍVEL) DE UMA TELENOVELA. Um livro com a marca da Summus, editora que tem em seu catálogo alguns dos mais importantes títulos da bibliografia brasileira sobre a televisão. Em Vivendo com a Telenovela: mediações, recepção, teleficcionalidade estão os resultados de uma pesquisa sobre a "A Indomada", da TV Globo, veiculada em 1997. As autoras - Maria Immacolata Vassallo de Lopes, Silvia Helena Simões Borelli e Vera da Rocha Resende ? estudaram a recepção da telenovela em quatro famílias de diferentes condições sociais. O objetivo era descobrir: Como uma telenovela atua sobre o cotidiano das famílias que a acompanham? Como ela modifica o comportamento dos espectadores? Como as pessoas reagem à medida em que a trama se desenrola? Com qual personagem cada um se identifica e por quê? As respostas estão (todas) em Vivendo com a Telenovela (400 páginas, R$ 63,00), um livro que retrata uma apaixonante e rara aventura intelectual. Um pouco de informação sobre as autoras: Maria Immacolata Vassallo de Lopes é doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). Silvia Helena Simões Borelli é professora do Departamento de Antropologia e da Pós-graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Vera da Rocha Resende é psicóloga, doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP. ESTÁ DE VOLTA A OBRA PRIMA DO ESPANHOL CAMILO JOSÉ CELA Um livro publicado pela primeira vez em 1951, em Buenos Aires, pois Camilo José Cela teve problemas com a censura na Espanha. Em A Colmeia, agora reeditado, ele enfoca a vida em Madri, sem conformismo e outros disfarces. Os críticos batizaram de caleidoscópio a técnica de Cela na narrativa. Em A Colmeia (Bertrand Brasil, 416 páginas, R$ 50,00), o escritor assemelha-se a um fotógrafo, que sai à rua com sua câmera para retratar tudo que vê, apresentando assim a vida miserável de um grupo de pessoas na Madrid dos anos imediatamente posteriores à Guerra Civil Espanhola. São mais de trezentos personagens, que se entrecruzam em três dias de dezembro por dois ou três bairros da cidade. Os temas abordados no romance são a humilhação, a pobreza, o aborrecimento, a repetição e a ameaça, o que dá um colorido todo especial àquele momento espanhol por volta de 1943. Camilo José Cela, Prêmio Nobel de Literatura em 1989, foi um dos mais criativos escritores da atualidade. Falecido em janeiro de 2001, aos 85 anos, o autor espanhol manteve sua produção intensa até o final. O PAULISTA RIBEIRO COUTO. AGORA, OS SEUS BONS POEMAS. Em poucos meses, a Global Editora fez reaparecer um nome quase esquecido no mercado editorial. Em maio, trouxe Ribeiro Couto em prosa, dentro da coleção Melhores Contos, e, agora, traz-nos a sua poesia, no livro Melhores Poemas. A apresentação e seleção é do escritor José Almino. A poesia de Ribeiro Couto pertence à segunda geração do Modernismo. De acordo com a crítica especializada, o poeta, um paulista de Santos (1898-1963), sempre conseguiu contrapor, aos temas nobres, os do dia-a-dia, aqueles ao alcance do olhar de qualquer cidadão. Tudo isso em linguagem ponderada e em meio tom. Em seu primeiro livro de poemas, ainda era possível detectar um leve tom simbolista. Depois, Ribeiro Couto aproximou-se do Modernismo, mantendo sua originalidade no trato lírico do cotidiano. Sua poesia caracteriza-se, em geral, pela musicalidade. Na apresentação do livro (200 páginas, R$ 25,00), que na realidade é um estudo sobre a trajetória do acadêmico Ribeiro Couto na poesia, José Almino vê na poesia do autor o mesmo que Otto Maria Carpeaux viu nos poemas de Toulet. "Há versos de Toulet que poderiam ter sido escritos por Ribeiro Couto (...) Poetas como eles não tiveram muita influência nem deixaram linhagem. Mas são pontos luminosos. Inapagáveis". A OBRA DO PSICANALISTA AUSTRIACO WILHELM REICH, EM ONZE TEXTOS BRASILEIROS. Um livro de onze autores, mas um único tema: a obra (vasta) do médico e psicanalista austríaco Wilhelm Reich (1897-1957). Em Reich: o Corpo e a Clínica (Summus Editorial, 134 Páginas, R$ 17,80), a amplitude do pensamento reichiano merece diferentes leituras e pontos de vista sobre as suas formulações, seus conceitos e, especialmente, sua riqueza. A organização do trabalho coube ao psicólogo Nicolau Maluf Jr., coordenador científico da Associação de Psicoterapia Corporal do Rio de Janeiro e membro fundador da Escola da Clínica Somatopsicanalítica. Na apresentação do livro, Nicolau Maluf Jr. afirma que os reichianos brasileiros, embora poucos ? numericamente falando ?, estão entre os mais instigantes e questionadores do mundo e, como se verá em cada um dos onze artigos, são também de uma capacidade ímpar na produção de enfoques interdisciplinares. UMA HOMENAGEM À MILITÂNCIA POLÍTICA DA IGREJA CATÓLICA. Está de volta às prateleiras um pouco da História da ação política da Igreja Católica nos anos de chumbo da ditadura militar. Uma reflexão sobre o pensamento de Frei Carlos Josaphat, o dominicano. Aliás, dominicano, ator, construtor e filho da História, como o define, na orelha do livro, escrito por mais de quatro dezenas de mãos, o cardeal dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito de São Paulo. Um livro que começa com versos de dom Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix do Araguaia: Querido e venerável e garotão Frei Carlos Josaphat, filho da senhora dona Emília, companheiro que sustenta a companheirada, conversador saboroso como um prato típico de Minas Gerais, exilado e cosmopolita, cidadão crítico e eclesiástico livre, intelectual orgânico do Reino, mestre espiritual, publicista profético, doutor em comunicação até para o Primeiro Mundo. Teólogo de cátedra e de chão, para suíços e para sertanejos. A organização do livro coube a Frei Beto, Adélia Bezerra de Menezes e Thomaz Jensen. Utopia Urgente (Casa Amarela, em parceria com a Editora da PUC, 565 páginas, R$ 49,00), uma homenagem a Frei Carlos Josaphat, reúne três tipos de matéria: a) ensaios que falam de sua obra, composta de livros publicados no Brasil e no exterior; b) os seus assuntos mais caros, como a justiça social, Mística e engajamento, teologia feminista, comunicação social, direitos humanos, estudos bíblicos e ética; c) duas longas entrevistas concedidas por ele, uma delas a Frei Leonardo Lucas Pereira.. Os textos destacam também a sua atuação política, principalmente nos anos 60, quando esteve à frente do jornal Brasil Urgente. Sua proposta como jornalista, segundo recordam os organizadores do livro, era na linha do mais autêntico profetismo bíblico, ou seja, "a verdade, custe o que custar; a justiça, doa a quem doer". Quatro dos BONS CONTISTAS brasileiros. Os quatro no mesmo livro. Um livro que está chegando à 13ª edição, coisa rara no Brasil. Muito rara. Nele, O Melhor do Conto Brasileiro, estão o paulista Orígenes Lessa, a cearense Rachel de Queiroz, o maranhense Josué Montello e o mineiro Aníbal Machado. O livro (José Olympio, 176 páginas, R$ 19,00) publica dois contos de cada autor. De Aníbal Machado, o seu elogiado Tati, a garota e A morte da porta-estandarte; Josué Montello: Vidas Apagadas e Numa véspera de Natal; Rachel de Queiroz: A casa do morro branco e Tangerine-girl; Orígenes Lessa: Viúvas, enfermos e encarcerados e Esperança Futebol Clube.

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