Na época, foi preciso driblar a censura

PUBLICIDADE

Por Maria Eugenia de Menezes
Atualização:

Antes do golpe chegar, o teatro brasileiro já havia dado sua guinada política. O surgimento do Teatro de Arena, em São Paulo, durante os anos 1950, vinha inaugurar um novo momento na cena do País: as preocupações sociais ganhavam espaço. A dramaturgia nacional também. É dessa época Eles Não Usam Black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri (1958): texto que tratava de problemas que o público conseguia identificar em sua realidade. As estreias de Chapetuba Futebol Clube, de Vianinha (1959), e de Revolução na América do Sul, de Augusto Boal (1960), também engrossavam essa corrente. Com a instalação de uma ditadura militar, o Arena acirra suas posições e passa a querer responder aos acontecimentos de forma ainda mais contundente. Arena Conta Zumbi, criação de Boal e Guarnieri, inaugura essa fase. Fala de resistência a uma força opressora e da possibilidade de revolução. Com o AI-5, decretado em 1968, as peças de protesto contra a ditadura se reinventaram. Era um teatro que precisava driblar as restrições impostas e, ao mesmo tempo, conseguir dar conta da complexidade daquele momento nacional. Além da turma do Arena, tiveram importante participação nessa época, dramaturgos como Dias Gomes, Plínio Marcos, Leilah Assunção, Chico Buarque, José Vicente. Espetáculos como Rei da Vela e Roda Viva, ambos dirigidos por José Celso também foram marcos dessa geração, duramente reprimida. Atos heroicos à parte, é preciso dizer que o saldo da ditadura para o teatro foi a sua quase completa aniquilação. Morreram as companhias, faliram os produtores, perderam lugar os autores. Uma triste história da qual ainda somos vítimas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.