Músicos apostam em trilhas de comerciais

Licenciar canções para anúncios de TV acabou sendo a melhor forma de divulgar um CD, até mesmo para artistas consagrados

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Por Agencia Estado
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Em tempos de vacas magras na indústria fonográfica, a única publicidade que tem dado certo para o lançamento de alguns álbuns são os comerciais de TV. O que antes era considerado por artistas como quase "vender a alma" está cada vez mais comum. Nomes como Madonna e Moby aumentaram seus números de vendas e sua exposição na mídia ao licenciar os direitos de algumas canções para anúncios. Kid Rock estreou no meio na semana semana com um comercial para a cerveja Coors Original que usa sua canção Forever. Ele espera dar um impulso nas vendas do disco Cocky, que não tem feito tanto sucesso quanto o músico esperava. O álbum foi lançado no ano passado, mas ainda tem uma chance de virar hit se a faixa emplacar nas rádios. O uso de uma canção em um comercial de TV rende ao artista, em geral, alguma coisa entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão. Um videoclipe, que também pode ser considerado um "anúncio", custa pelo menos o mesmo preço e quase nunca consegue a mesma penetração. Artistas novos são os que mais têm a ganhar, porque podem encontrar um público que dificilmente teria ouvido falar de seu trabalho. A estratégia funcionou para o grupo Wiseguys, que vendeu sua canção Start the Commotion para uma série de anúncios do carro Eclipse Spyder, da Mitsubishi. A faixa está no disco The Antidote, lançado em 1999. O álbum entrou na parada Top 40 da Billboard apenas em abril de 2001, logo depois de o comercial de TV começar a ser veiculado, em 19 de março. O mesmo esquema deu certo para o grupo britânico Dirty Vegas, que cedeu o single Days Go By para os comerciais do Mitsubishi Eclipse 2003. A propaganda, que começou a ser veiculada em 11 de março, forçou o lançamento antecipado do disco Dirty Vegas nos Estados Unidos, que foi logo parar no topo da parada de música eletrônica da Billboard. Outro exemplo de sucesso é o do remix de A Little Less Conversation, hit de Elvis Presley em 1968, que trouxe o rei do rock de volta para as paradas de vários países. O remix do DJ holandês JXL apareceu em alguns comerciais de TV da Nike para a Copa do Mundo. O anúncio ajudou e muito na estratégia da empresa BMG Entertainment e da gravadora RCA Records de ressuscitar este ano a carreira do ídolo, com o lançamento de coletâneas, caixas de CDs e DVDs. Para artistas consagrados, os anúncios podem ajudar a aumentar as vendas de discos encalhados nas prateleiras das lojas. É o caso de Sting, que vendeu Desert Rose à marca de carros Jaguar para dar força nas vendas do disco Brand New Day. O álbum aproveitou a promoção grátis e subiu nas paradas no início de 2000. O campeão de merchandising é Moby, que teve todas as 18 faixas de seu disco de estréia, Play (1999), licenciadas para comerciais de TV (nada menos do que 100 empresas). O disco foi hit por conta da estratégia, mas o músico não quer repetir a dose desta vez. Ele disse que seu nome já é conhecido o suficiente e não vai fazer o mesmo com as canções de seu novo trabalho, o recém-lançado 18. Já era o tempo em que músicos não queriam saber de vender sua arte para o mundo capitalista. Alguns anos atrás, o R.E.M. recusou uma oferta da Microsoft para a compra dos direitos de It´s the End of the World as We Know It (And I Feel Fine), do disco Document (1987). A percepção mudou. Madonna, que não tem problemas de dinheiro nem com as vendas de seus discos, licenciou Ray of Light (do disco homônimo) para a mesma Microsoft no ano passado, para um anúncio do Windows XP.

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