Musical sobre Carmem Miranda estréia em junho

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Por Agencia Estado
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O ano 2001 está sendo o ano de Carmem Miranda. Não há data redonda a ser comemorada (ela teria feito 92 anos em fevereiro e, em agosto, faz 46 anos de sua), mas a cantora não sairá da mídia tão cedo. A onda começou em fevereiro, mês em que o público do Museu Carmem Miranda, no Rio, chegou a 800 visitantes. No carnaval, a atriz Marília Pêra emocionou o sambódromo como a Pequena Notável, no desfile do Império Serrano. Logo depois, Eduardo Dussek lançou o songbook com disco e biografia dela. A onda chegará ao auge em junho, quando o musical biográfico escrito e dirigido por Miguel Falabella e produzido por Cíntia Graber (de "Somos Irmãs", sobre Linda e Dircinha Batista), estréia no Teatro Scala, de Chico Recarey. O espetáculo vem sendo preparado há um ano e meio e será uma superprodução de R$ 1 milhão, com patrocínio da Petrobrás, 20 atores no palco e duas atrizes vivendo a protagonista. Cíntia e Falabella pensam em Stella Miranda para fazer a cantora madura no período em que voltou aos Estados Unidos, depois da viagem ao Brasil em que teve uma recepção fria. "Esta Carmem contracena com a menina Maria do Carmo (nome de batismo da cantora), filha de portugueses pobres que sonha com o sucesso nos palcos. Vamos testar atrizes novatas para lançar alguém que ainda não pôs a cara na televisão", adianta Cíntia. "O Falabella pensa num espetáculo que atraia o público como um todo. Ele quer que, tal como na Broadway, o apelo seja a produção e não um ou dois nomes do elenco." Mas Falabella avisa que as semelhanças com a Broadway param por aí, porque o musical esbanjará brasilidade. O elenco ainda será testado, mas ele precisará de músicos que saibam representar, tocando ao vivo, como o Bando da Lua, que acompanhou Carmem Miranda na carreira dela nos Estados Unidos. "Se é para fazer, tem de ser direito", avisa Falabella. Até junho, ele divide-se entre o Rio (onde ensaia o musical) e São Paulo (onde é o Caco, de "Sai de Baixo", da Rede Globo de Televisão, e o Molina de "O Beijo da Mulher Aranha", no teatro). A intenção dele vai além de contar a vida de Carmem Miranda. "Quero provocar uma discussão sobre o Brasil, esse país que não se gosta, mas foi subvertido por ela. Foi um sentimento totalmente espontâneo, desembocou na Tropicália." O projeto de Cíntia e Falabella prevê ainda uma minissérie e, para isso, eles conseguiram com a família de Carmem exclusividade sobre o uso da imagem dela no palco e na telinha. É claro que não iam deixar todo mundo satisfeito, e Marília Pêra foi a primeira a protestar. O último desfile do Império Serrano foi só uma das muitas vezes que ela viveu a Pequena Notável, enredo da escola em 1972. Na época, Marília era Carmem no teatro, desfilou e a agremiação foi campeã. Sem concessão à modéstia e com bons motivos, a atriz sente-se a melhor intérprete de Carmem Miranda e pretendia lhe dedicar o espetáculo "Estrela Tropical", atualmente em turnê pelo Brasil. "Fomos surpreendidos por essa exclusividade, pois nosso projeto previa também a reforma do Museu Carmem Miranda. Abandonamos a idéia diante da impossibilidade criada com esse recurso legal", diz o empresário de Marília, Marcos Montenegro. "Isso é um assassinato cultural porque a Carmem Miranda é um personagem público e toda atriz deveria ter o direito de vivê-la. Ainda mais se essa atriz é a Marília." Impedida de viver o ídolo, ela decidiu homenagear outras estrelas de nossos palcos e a preferida ficou para três números do bis, no show. Cíntia Graber prefere não falar sobre o assunto, mas explica que teve de dar muitas explicações a possíveis patrocinadores que estavam indecisos entre dois ou mais projetos sobre a cantora. "Chegamos primeiro e fizemos tudo direitinho", diz ela para encerrar o assunto. "Nossa resposta a qualquer crítica será no palco, com o sucesso do nosso espetáculo." Alheio a essas disputas, que lembram a briga de Madonna e Meryl Streep, há anos, por Evita (que a Material Girl levou), Eduardo Dussek dá por completo o "caso" com Carmem Miranda, iniciado quando ele, ainda criança, foi com a mãe ver um filme dela, e encerrado (por enquanto) com o songbook. "É um livro para leigos. São melodias fáceis, de harmonia simples e sempre muito bonitas, contagiantes", diz Dussek. Não safisteito só com a música, escreveu uma pequena biografia da cantora e atriz, em que insere exatidão factual num texto de fã apaixonado. Como tempero, belas fotos de Carmem ilustram o livro, parte da coleção da Editora Vitale, que fez uma tiragem de 2 mil exemplares, mas prepara nova fornada. A origem desse pacote foi o show "Adeus Batucada", que Dussek fez em 1999, acompanhado do percussionista Beto Cazes e do saxofonista Chico Costa, a convite do Centro Cultural Banco do Brasil, para comemorar os 90 anos de nascimento de Carmem Miranda. Ele conhecia de sobra o repertório dela porque, nos anos 70, ainda aluno do curso de Regência da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estudou a fundo a orquestração da música popular brasileira das décadas de 30 e 40 época de ouro do rádio. "Carmem cantou boa parte dos sucessos desse período", comenta Dussek. No disco, ele gravou 30 músicas distribuídas em 15 faixas, mas não evitou (felizmente) copiar o estilo da cantora. Seus arranjos são atuais, assim como seu jeito de cantar: trocou a malícia de Carmem pelo vigor nas interpretações. O songbook tem texto também em inglês com vistas ao mercado americano, onde a brazilian bombshell é estrela até hoje. Dos 800 visitantes que o Museu Carmem Miranda recebeu em fevereiro, 300 eram alunos de escolas públicas e mais da metade do restante, turistas dos Estados Unidos. Esse público poderia ser maior, se o museu tivesse divulgação melhor. Afinal, lá estão os objetos pessoais de Carmem Miranda, dados pela família ao governo do Estado, ao qual a instituição está subordinada. São vestidos, saias, turbantes e bijuterias (os famosos balangandãs), expostos num galpão meio escondido no Aterro do Flamengo, na zona sul. A construção, projeto de Affonso Reidy (o mesmo do Museu de Arte Moderna), é um marco do modernismo brasileiro, mas o público vai lá para estar mais próximo da atriz e cantora. Ninguém sai decepcionado porque, ao lado de monitores de televisão que exibem filmes de Carmem Miranda, estão os figurinos, fotos dela e algumas frases recolhidas por jornalistas e amigos, que mostram não haver separação entre a personagem pública e a pessoa privada. A brejeirice começava em casa e chegava naturalmente aos palcos. Este ano, pela primeira vez, o museu não promoveu uma mostra temática aproveitando os 3 mil itens da reserva técnica (dos quais 2.500 são fotografias, recortes de jornais e revistas) para comemorar o aniversário da cantora. "Emprestamos parte de nosso acervo para a exposição Chica Chica Boom Chic, que ocorreu em janeiro e fevereiro, no Ibirapuera", diz o museólogo César Balbi. "Por enquanto, vamos renovando nossa exposição permanente e, em agosto, realizamos um grande evento para lembrar sua morte."

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