
18 Janeiro 2019 | 03h00
Irritados com a negativa do reitor de recebê-los, estudantes universitários sequestram um professor a fim de forçar uma negociação para melhorar a qualidade do ensino. Logo, os bons ideais e os pensamentos sensatos são trocados por atitudes radicais e violentas, guiando a situação para um final indesejado. A trama de Avesso, o Musical, que reestreia nesta sexta-feira no Teatro Nair Bello, se sustenta no delicado jogo de poder – de um lado, os alunos que, inicialmente convencidos de que dominam a situação; do outro, a figura do professor e, por extensão, dos policiais que cercam o local onde todos estão, impondo a ordem pela força.
“Estamos em um mundo onde ninguém mais entende ninguém, onde não se pratica a empatia, e as confusões se tornam grandes torres de babel. Juca, meu personagem, traz isso, ele não consegue sair do conflito, nem tão pouco apaziguar as coisas”, explica o ator Jair Assumpção. “Avesso retrata a nossa atual sociedade, na qual as pessoas estão sempre lutando por algo, seja o bem comum ou individual”, pontua o diretor Hudson Glauber, também idealizador do projeto.
De fato, é justamente o choque entre desejo pessoal e o de uma comunidade que desequilibra o tênue limite entre paz e conflitos. E Glauber representa bem cada uma dessas figuras em seus personagens, divididos entre uma líder, um brutamontes, um recalcado e assim por diante. “Minha personagem não só lidera como tem um grande poder de persuasão. O problema é que está voltada para os seus próprios interesses”, comenta a atriz Vanessa Goulartt, que vive a líder da ação.
É justamente o conflito desses desejos que inspirou o autor do texto, Daniel Torrieri Baldi e, que contou com a colaboração de Maria Elisa Berredo e Gustavo Amaral. “Quando tudo parece estar do avesso, o que é que fazemos? Foi deste questionamento que meus parceiros e eu partimos para a criação desse musical, diante dos rumos de uma sociedade moderna que apresenta sinais claros de decadência”, observa Baldi.
O musical cresce em tensão e uma revelação chega a orientar a trama para outro rumo. E, ao final, independentemente de quem sai ganhando, resta o amargor provocado pela transformação de ideais em radicalismo. “Vemos isso nas fraudes políticas, nas leis desatualizadas e aplicadas erroneamente, naqueles que não se preocupam com o próximo. Tudo acaba por estimular as pessoas a se desligar do coletivismo e enxergar a real situação sem responsabilidade e consciência”, acredita Baldi.
Destinado principalmente aos jovens, o espetáculo tem canções originalmente compostas por Thiago Gimenez, que apostou em ritmos como o rap e o rock, além de estilos como MPB e até valsa. “Não se trata de levantar nenhuma bandeira, mas mostrar as reações das pessoas quando confrontadas com sua própria miséria humana”, completa Glauber.
Teatro Nair Bello. Rua Frei Caneca, 569 – 3º piso (Shopping Frei Caneca). 6ª e sáb., 21h. Dom., 19h. R$ 60. Até 24/2
Encontrou algum erro? Entre em contato