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Música conduz a versão carioca da celebração

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Quando morou em Roma, Joyce certa vez perdeu o caminho do banco em que trabalhava por causa de uma música. A canção tradicional Guarda il Mare Quant"è Bello, tocada num realejo, o emocionou tanto que o escritor passou o dia atrás de seu tocador. Mais tarde, a incluiria em Ulysses. O episódio ilustra a intensidade da relação de Joyce - que tentou se tornar cantor lírico profissional e deixou algumas composições - com a música. Foi esse o recorte dado pelo Instituto Moreira Salles ao Bloomsday carioca, o primeiro da instituição.A ideia foi do poeta Eucanaã Ferraz, responsável pela área de literatura do IMS. Pesquisando na internet, ele descobriu a dupla norte-americana Kevin McDermott, tenor, e Ralph Vichey, pianista, cujo repertório é formado por canções que perpassam toda a obra do autor irlandês - e não são poucas, já que as referências musicais estão por toda parte, de Música de Câmara (1907), seu primeiro livro, de poesias, a Finnegans Wake (1939), o último, cuja inspiração saiu de uma canção do teatro de variedades dos EUA da década de 1860, que acabou incorporada pelos irlandeses.McDermott e Vichey têm dois CDs gravados. "Acho que são as duas únicas pessoas no mundo que se dedicam a isso. É a primeira vez deles na América Latina", conta Eucanaã. O Concerto James Joyce será às 20 horas no auditório do IMS do Rio, que tem 130 lugares. Custa R$ 40 (estudante paga meia). "São canções lindas, as pessoas vão se surpreender.""O convite foi tão inusitado que eles aceitaram. Pensaram: "No Rio de Janeiro tem Bloomsday?"", brinca Samuel Titan, diretor cultural do IMS, joycemaníaco dos bons e veterano de Bloomsdays.Quem sabe, sonha, eventos como esse possam estimular os que se sentem intimidados pelas quase 900 páginas de Ulysses... "O livro é um desafio, mas é um enorme prazer. Todos os personagens são gente comum. Joyce jamais quis elevá-los para que se parecessem com Ulysses, Helena e Penélope."

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