Museu do Açude ganha novas obras

Obras de Lygia Pape, Nuno Ramos e José Rezende inauguraram hoje, suas escultura nos jardins do Museu do Açude (em plena Floresta da Tijuca) compondo uma galeria de arte a céu aberto

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Por Agencia Estado
Atualização:

Obras de Lygia Pape, Nuno Ramos e José Rezende inauguraram hoje, oficialmente, o Parque Permanente de Instalações, ajudando a transformar os jardins do Museu do Açude (em plena Floresta da Tijuca) em uma galeria de arte a céu aberto. New House (de Lygia), Calado (de Ramos) e uma obra sem título (de Rezende) juntam-se às esculturas monumentais já existentes no local desde 1999, assinadas por importantes representantes da arte contemporânea brasileira: o Penetrável Magic Square nº 5, de Hélio Oiticica; Dora Maar na Piscina de Iole de Freitas, e Aqui Estão, de Anna Maria Maiolino, construídas com o patrocínio do Banco Safra. Agora, depois que o projeto foi incluído no programa Petrobrás nas Artes Plásticas e a estatal entrou com R$ 300 mil, pela Lei Rouanet, foi possível ampliar o acervo. "Esse parque era uma idéia antiga, pois atende à vocação do Museu do Açude de integrar arte e natureza e dá continuidade ao trabalho de seu fundador, Castro Maya, que foi grande incentivador de artistas contemporâneos a ele", explica a diretora dos Museu Castro Maya, Vera Alencar. "Aqui, consideramos a floresta como patrimônio do museu. O seu acervo cultural é o imóvel, o mobiliário e as coleções, mas a vegetação compõe seu acervo natural." O curador, Márcio Doctors, ressalta que o Parque de Instalações difere dos Jardins de Esculturas comuns em cidades européias e mesmo no Brasil. "Lá, aproveita-se uma obra pronta para um espaço construído especialmente para ela. Aqui é o contrário, temos a natureza e a obra é criada em função do local onde será colocada", diz. "Um dos critérios na escolha desses artistas é estarem dispostos ao diálogo com a floresta, mas procuramos também reunir três gerações de arte contemporânea, a Lygia Pape que vem do neoconcretismo dos anos 50, o Rezende que é da década seguinte e o Nuno Ramos, que começou com a geração da década de 80." Não houve, da parte de Doctors ou de Vera Alencar, nenhuma sugestão aos três artistas, a não ser o local onde cada instalação foi construída. "Mesmo assim, a Lygia optou por outro e foi atendida", lembra a diretora do Museu. "Houve também uma tendência a não pensar a relação com a natureza de forma idílica, mas sim um desafio em integrar-se e modificar o meio ambiente que cerca a casa e as obras", completa o curador. "Mas os artistas tiveram total liberdade quanto a materiais, temas e estilos." Lygia Pape define sua New House como "uma pulsação, um pensamento de luz". Ela tem duas outras obras semelhantes no Porto, terra do famoso vinho português, e próximo do Centro Cultural Hélio Oiticica, no centro do Rio. Quis que a construção em alvenaria branca e um plástico resistente e transparente ficasse próxima do Magic Square e debruçada sobre um platô e de frente para a Baía de Guanabara. "É uma casa desconstruída, que funciona como se fosse invisível e muda conforme o sol bate em suas paredes", ensina ela. "Gosto de trabalhar com a luz e, nessa obra, ela funciona tanto próximo, dialogando com a paisagem, quanto de longe, por dialogar com o penetrável do Hélio." José Rezende criou uma lâmina de mármore branco com 20 metros contrastando com a floresta e o precipício próximo a ela. Dá impressão de que a obra flutua na mata. "Meu desafio era camuflar essa peça, que é um contraponto ao seu entorno", adianta o artista. "Acho que haverá interação na medida em que o mármore perder sua cor por conta da ação da natureza." Já Ramos preferiu o contraste do asfalto e do vidro com a terra e a vegetação, colocando sua peça (duas grandes rodas que se moldam à topografia) em meio a um barranco. "É um contraste porque, na idealização, a natureza é tudo que há de bom, enquanto o asfalto é a representação de tudo de ruim da nossa civilização. É associado ao arcaico, à poluição, mas está presente em nosso cotidiano de forma indispensável", teoriza. "Gosto de trabalhar com obras públicas, grandes espaços, mas no Brasil não há muito essa tradição. Normalmente o que se faz são monumentos." O Parque das Instalações deve crescer nos próximos anos, aproveitando a área de 150 mil metros quadrados de mata que envolve as duas casas principais do Museu do Açude. "Nos próximos meses, vamos publicar os catálogos das obras, com o acompanhamento de sua construção e espero que a nova administração dê continuidade ao projeto", conclui Vera.

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