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Museu Afro-Brasil inaugura mostra de Carmen Calvo

O museu passa por 30 anos da trajetória da artista espanhola que não se prende a uma técnica, reunindo trabalhos realizados entre 1974 e 2004

Por Agencia Estado
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Na Espanha pós-franquista (da ditadura do general Franco, encerrada em 1975), Carmen Calvo trilhou sua carreira artística. O dado não é mera citação, mas uma ponte para se entender a obra dessa artista que se tornou um dos fortes nomes de seu país. Naquele momento "revolucionário", pós regime ditatorial, entrando na década de 80, os artistas puderam experimentar a transgressão de limites depois de grande repressão e censura. Carmen Calvo, natural da cidade de Valência, participou desse momento e sua obra, como define a crítica Barbara Rose, passou a refletir "a ironia e o absurdo de uma situação que da noite para a manhã salta das proibições medievais para os excessos pós-modernos, de um catolicismo obscuro e carregado de culpa a um mundo de indulgência puritana." Aliado a esse ponto, tome-se também que a artista recorre a um universo particular para criar sua obra: um universo que fala de questões femininas (incluindo a sexualidade) e do familiar (o privado). Sua instalação "Uma Jaula para Viver", trabalho recente, de 2001, parece muito bem representar essa junção da transgressão de tabus com o particular: dentro de um cubo branco o espectador encontrará espelhos e um amontoado de objetos, predominantemente, um amontoado de bonecas com braços decepados e manequins - todos estamos embutidos nesse mundo ao mesmo tempo de excessos (tantos objetos para se estabelecer relações), ao mesmo tempo carregado de sentidos obscuros. Agora faz-se a oportunidade de os brasileiros poderem ver de forma panorâmica a obra plural de Carmen Calvo. O Museu Afro-Brasil inaugura uma mostra, com curadoria de Osbel Suárez, que passa por 30 anos da trajetória da artista, reunindo trabalhos realizados entre 1974 e 2004. Carmen Calvo não se prende a uma técnica, faz pintura, desenho, escultura, instalações, assemblages, colagens e recentemente adentrou no campo da fotografia. Em 1997, Carmen representou seu país na Bienal de Veneza. Mas, como se vê, muito antes ela veio traçando sua trajetória. No início, a artista se dedicou à série Paisagem, realizada com barro cozido - material ligado à sua terra de origem. Dando um salto na trajetória da artista, ela passa das Paisagens para as colagens e assemblages da década de 1990. Colecionadora de objetos, histórias do cotidiano e lampejos da memória afetiva e coletiva, realizou obras que, sobre fundo negro ou fundo dourado estabeleciam relações enigmáticas por meio de seus elementos: bonecas, letras, cruzes, sapatos, luvas e colheres, sem falar de seus próprios títulos - "o surrealismo de Carmen Calvo pertence ao terreno do cotidiano, não do exótico e do distante", como afirma Bárbara. Nas obras fotográficas, depois, a artista mascarou os rostos dos personagens anônimos das imagens. Carmen Calvo. Museu Afro Brasil/ Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega. Av. Pedro Álvares Cabral s/n.º, Parque Ibirapuera, portão 10, 5579-0593. 3.ª a dom., 10 h às 17h30. Até 22/10

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