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Municipal terá escola dedicada à ópera

Plano faz parte da estratégia da nova diretoria de formação do teatro

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Por João Luiz Sampaio
Atualização:

O Teatro Municipal de São Paulo terá uma escola de ópera. O projeto estará ligado à diretoria de formação da Fundação Teatro Municipal, ocupada desde a semana passada pelo professor e compositor Leonardo Martinelli. A ideia, segundo ele, é dialogar com a vocação de produtor lírico do teatro, dentro do contexto da integração entre os diversos setores da instituição.

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"Não há, hoje, na escola municipal de música, cursos específicos na área de ópera", diz Martinelli. "Professores e alunos que se interessam pelo tema não têm a estrutura própria para isso e é nesse sentido que pretendemos trabalhar. O objetivo é criar um formato de ópera estúdio, com cursos de idioma, de atuação, de correpetição, de regência de ópera e, num segundo momento, trabalhar também com a formação técnica de cenógrafos, por exemplo." O objetivo seria, ao final de cada ano, produzir um espetáculo dentro de escola, que poderá ser apresentado também em teatros de bairro e em CEUs, em diálogo com um projeto de formação de plateias.

Ligados à diretoria de formação estão as escolas de música e de bailado, o Coral Paulistano, dirigido desde janeiro por Martinho Lutero, e a Orquestra Experimental de Repertório, comandada desde fevereiro pelo maestro Carlos Moreno. Também será criado um núcleo dedicado à música contemporânea. Segundo Martinelli, os grupos mantêm a individualidade e seus projetos artísticos independentes, sugeridos por seus diretores, mas será o papel da diretoria de formação articular o diálogo entre eles.

No programa de trabalho apresentado pelo novo diretor, está previsto o estabelecimento de alguns eixos, como uma maior ligação entre a escola de música, a sinfônica jovem e a Orquestra Experimental de Repertório. "Na proposta trazida pelo maestro John Neschling quando assumiu a direção artística, o intercâmbio artístico e pedagógico é fundamental. E a diretoria de formação vai trabalhar nesse sentido, aprofundando a relação das escolas com as orquestras, por exemplo."

Em outras palavras, o Municipal pretende assumir uma vocação dupla – a difusão de espetáculos, mas também a formação. "O que pretendemos fazer é integrar esses dois objetivos, incluindo nessa conta outro aspecto muito importante, que é o de formação de plateias. É preciso acabar com a ideia de que formar plateias é dar ingresso de graça. Temos que dar também informação, envolver o jovem no mundo da ópera, contextualizar aquilo que é visto no palco. O que queremos fazer é levar a ópera para as escolas, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, preparando material didático adequado e capacitando os professores para que a experiência com a ópera não se limite a um espetáculo. Nesse contexto, a itinerância é importante também porque amplia o público, que não precisa se limitar aos 1.500 lugares do teatro."

Relação. Martinelli, que atuava como professor de história da música na escola municipal, também fala na maior relação entre o que acontece na programação do teatro e as atividades das escolas. "Já está em estudo a realização de um seminário de regência do maestro Neschling na escola. E devo dizer que, em todo o meu tempo como professor da instituição, é a primeira vez que vejo interesse da parte da direção artística do teatro em atuar de maneira mais presente na escola. Da mesma forma, artistas convidados, sejam cantores, maestros e solistas instrumentais, também poderão aproveitar a vinda a São Paulo para se apresentar no teatro para dar master classes para os alunos."

Nesse sentido, as atividades vão além dos grupos ligados diretamente à diretoria de formação: na quarta, por exemplo, o Coral Lírico Municipal, dirigido por Bruno Faccio, fará, das 16 h às 19h30, na sala do Conservatório na Praça das Artes, um ensaio aberto de Carmen, de Bizet, que será interpretada em maio, para alunos de música da escola e outras instituições.

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No escopo da direção de formação, também está prevista a realização de cursos livres nas escolas do teatro, abertos ao público em geral. "História da ópera, história da música, apreciação musical: são temas que estarão abertos ao público em geral. Se olhamos o resultado das palestras que o crítico musical e professor Irineu Franco Perpetuo tem feito sobre as óperas encenadas no teatro, fica claro que há uma demanda para esse tipo de iniciativa."

Maestros falam em integração e em foco na área pedagógica

Dois meses depois de assumir a Orquestra Experimental de Repertório, o maestro Carlos Moreno diz acreditar que a tônica de seu trabalho com o grupo passará pelas possibilidades abertas pela percepção de que se trata de uma "orquestra escola". "Isso é muito importante. A Experimental pode ser não apenas o celeiro de músicos vindos da escola do Municipal, mas também um elo de ligação do teatro com outras escolas e o meio acadêmico", diz.

Do ponto de vista de repertório, ele investe este ano nos ciclos das sinfonias de Brahms e Beethoven – e inicia o trabalho de interpretação da integral das Bachianas Brasileiras, de Villa-Lobos. A orquestra também fará a estreia de quatro obras encomendadas a compositores brasileiros. "Estamos preparando artistas para o mercado. E um músico de orquestra precisa chegar ao universo profissional conhecendo essas obras. A primeira vez de um violinista na Quinta de Beethoven não pode ser quando ele for fazer um cachê com a Osesp."

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O Coral Paulistano Mário de Andrade, por sua vez, atua com uma função dupla. "Há dois objetivos fundamentais, colocados pelo conselho da fundação de modo muito claro: de um lado a difusão da música brasileira e, de outro, a difusão da atividade coral", diz o maestro Martinho Lutero. Ele cita como exemplo o programa do primeiro concerto do ano do coral. "Fizemos o Réquiem do Fauré e a Missa Breve do Aylton Escobar, ou seja, uma grande obra do repertório coral e uma importante peça de um autor brasileiro. Essa será a tônica da nossa atividade." O coral também fará concertos nos CEUs. "Não se trata apenas de ir cantar lá. No CEU Butantã, por exemplo, há um coral infantil e um coral adulto. Então, no mês que antecedeu o nosso concerto lá, cantores do Paulistano foram ao espaço, trabalharam com eles, deram cursos, cantaram, fazendo do concerto o ponto de chegada de uma ideia mais ampla."

Bruno Faccio, do Coral Lírico Municipal, também se diz animado com a possibilidade de colaborar com a diretoria de formação. "A ideia de abrir o ensaio para alunos de música oferece um olhar diferente sobre o trabalho do coro e pode ajudar a formar estudantes que, no futuro, vão se juntar a essa grande trajetória do grupo", diz.

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