Municipal do Rio encena "Madame Butterfly"

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Por Agencia Estado
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Quase cem anos depois de escrita, a ópera Madame Butterfly, de Giacomo Puccini, com libreto de Luigi Illica e Guiseppe Iacosa, ainda encanta o público. O trágico amor da gueixa Cio-Cio-San pelo soldado americano Pinkerton vai ser encenado novamente, a partir de amanhã, no Teatro Municipal do Rio, com direção de Carla Camurati, regência de Sílvio Barbato e os sopranos Eliane Coelho e Eiko Senda e os tenores Juremir Vieira e Marcos Paulo como protagonistas. É a mesma versão que estreou no Teatro Alfa de São Paulo, em 1999, e que segue para o Municipal da capital paulista após as cinco récitas cariocas. Esta foi a terceira ópera dirigida por Carla Camurati, que antes tinha assinado também outro título bastante popular, Carmen, de Bizet. "Agora só falta La Traviata", brinca ela. "É desafiador rever um clássico muito refeito. Meu papel nessa montagem é respeitar ao máximo o que foi escrito por Puccini, aproveitar a experiência dos cantores e do maestro e usar a encenação sempre a serviço da música. Felizmente, até hoje, só dirigi óperas com pessoas muito competentes e fáceis de trabalhar. Por isso, tem dado certo." Sílvio Barbato tem grande intimidade com a obra de Puccini por sua ascendência italiana e porque formou-se em regência em Milão, na mesma escola cursada pelo compositor. Em seu primeiro trabalho depois de assumir a direção artística do Municipal (após tumultuado concurso para preencher vagas no coro orquestra e corpo de baile), ele acha que a estabilidade dos músicos se reflete no desempenho deles. "Hoje eles trabalham com tranqüilidade e podemos traçar planos a longo prazo", garante ele. "Quanto à Butterfly, a música atrai o público, mas o grande motivo do sucesso é a história, uma tragédia sobre o choque de culturas que cria empatia com o público. Puccini tinha essa característica de aproveitar sucessos do teatro ou da literatura." A comunhão entre Carla e Barbato alcança até o entendimento da tragédia da gueixa que se mata ao ser abandonada pelo amado e tem de entregar à nova família dele o filho que tiveram. "Na verdade, Madame Butterfly narra os desentendimentos de um casal. Pinkerton não é vilão por seduzir e abandonar Cio-Cio-San, ele simplesmente não consegue comercializar sua sexualidade como os japoneses. E ela não entende por que ele age diferentemente dos outros homens e pensa que há envolvimento afetivo nessa atitude", explica Carla. "Qualquer mulher, mesmo que sem ser mãe, entende o que a leva a se matar." Veteranos - Os cantores dessa montagem são veteranos em seus papéis. "Sou especialista no Pinkerton, um personagem que não exige muito do cantor", diz Juremir Vieira. "Mas é muito agradável passar boa parte da ópera ouvindo a música maravilhosa de Puccini, cantada por essas duas grandes sopranos." Eliane Coelho aprecia a possibilidade de trabalhar cada detalhe do personagem, que começa como uma menina inocente e termina como uma mulher amargurada, enquanto Eiko Senda, japonesa radicada há sete anos em São Paulo, é o contrário da personagem. "Tive criação ocidental e acho que o difícil nesse papel são as mudanças por que ela passa", diz ela. "A música me atrai por ser emocional e a Butterfly faz sucesso porque ela é tudo que queremos ser, mas não podemos realizar." Madame Butterfly é também a primeira co-produção dos Municipais do Rio e de São Paulo dentro da estratégia de economizar e sem perder a qualidade e cobrar preços populares (entre R$ 30 nos camarotes e balcão nobre) e R$8 (galeria). "Essa é uma iniciativa importante", comenta Carla Camurati. "A ópera sempre foi um espetáculo popular, mas deixou de sê-lo porque pouca gente podia pagar os ingressos. Esperamos lotar o Municipal e tirar aquela formalidade que, erroneamente, muita gente considera obrigatória." A estratégia, em princípio, funciona. Já estão esgotados os ingressos mais baratos do primeiro fim de semana e 60% da segunda semana já foram vendidos.

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