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Mundo pop redescobre estética das HQs

Por Agencia Estado
Atualização:

A cultura pop adotou com força em 2001 a estética das histórias em quadrinhos. O sucesso de projetos como o Gorillaz e o uso de animação por artistas como Daft Punk e Madonna colocam artistas gráficos em um novo patamar no mercado da música e do cinema, criando uma nova onda mainstream para a cultura de HQ, que ganha também o impulso do crescimento da ilustração no mercado editorial e de videogames. O ano de 2001 começou bem para os fãs de HQs, com a estréia do clipe de One More Time, dos franceses do Daft Punk, em janeiro. O trabalho foi criado pelo japonês Leiji Matsumoto, responsável pelos celebrados cartoons dos anos 70 Star Blazers, Space Battleship Yamato e Galaxy Express 999. O artista criou a estética e a dupla de música eletrônica, Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo, escreveu o roteiro. O vídeo logo tornou-se um dos mais exibidos na Europa, impulsionando o disco Discovery em todo o mundo. A colaboração deu tão certo que Matsumoto dirigiu outros dois vídeos do mesmo álbum, Aerodynamic e Digital Love. Os três trabalhos acabaram formando uma trilogia, sobre uma banda que é raptada de um planeta por forças misteriosas. Talvez influenciada pela dupla francesa, Madonna resolveu incluir um segmento de animação japonesa em sua Drowned World Tour, que estreou em Barcelona em junho. Por meio da produtora americana Veneno, responsável pelo conteúdo em vídeo do show, a pop star ajudou a levar o trabalho de Toshio Maeda e Koichi Ohata para um novo patamar de fama. Considerados uma das duplas mais inovadoras do mercado de animação na última década, eles são conhecidos entre os insiders por conta de clássicos como M.D.Geist, Humanoid e Legend of the Overfiend. Segmentos dos três filmes, com cenas eróticas e violentas, foram editados para acompanhar um remix de What It Feels Like For a Girl. "O uso destes trabalhos por Madonna é mais uma prova de que animação é próxima grande jogada do pop", diz Gamal Hennessy, que foi responsável pela negociação entre a dupla e a cantora. Maeda e Ohata foram recebidos como celebridades no Big Apple Anima Fest, o auto-proclamado "festival de Cannes" da animação, realizado em Nova York em outubro. Coincidência ou não, Madonna, que já havia virado personagem de desenho no videoclipe de Music, em 2000, vai se transformar em um hipopótamo de zoológico no próximo longa metragem de animação da DreamWorks, Magadascar. Ela integra o elenco que inclui Ben Stiller, Chris Rock e Jason Alexander. A direção é de Eric Darnell, de FormiguinhaZ. Mas o maior passo que a estética das HQs deu nos últimos tempos foi o sucesso do Gorillaz. Para os fãs, a chegada da banda ao mainstream também tem sabor de vingança, já que o projeto tem as mãos de Jamie Hewlett, criador da Tank Girl, a personagem cult que perdeu parte de seu apelo por conta de um equivocado filme produzido por um grande estúdio de Hollywood. Hewlett e o amigo Alan Martin criaram a Tank Girl. No início dos anos 90, a garota punk aparecia nas páginas da The Face e inspirava estilistas como Vivienne Westwood em coleções influenciadas pela estética das bad girls, garotas com cabeças raspadas e tatuagens, cuja musa maior era a modelo canadense Eve Salvail. Com o fracasso do filme estrelado por Lori Petty, o caráter cult do universo da Tank Girl acabou se perdendo, ao mesmo tempo em que a cultura pop adotava outras estéticas. No ano passado, Hewlett, que passou a segunda metade dos anos 90 fazendo capas de discos e outros trabalhos com alguns dos mais influentes músicos de Londres, criou o Gorillaz em parceria com Damon Albarn, do Blur, e Dan "The Automator". A idéia de lançar uma banda formada por personagens animados deu mais certo do que o esperado: o grupo conquistou as paradas e ganhou alguns dos principais prêmios do ano com os clipes de Clint Eastwood, 19-2000 e Rock the House e chegou a despertar o interesse de Steven Spielberg, que estuda produzir um longa-metragem estrelado pelos Gorillaz. Ainda é impossível saber se uma nova tentativa de casamento do universo cult da animação com o mundo de Hollywood vai dar certo. Mas a onda já serviu para impulsionar um forte mercado paralelo de animação, que, é claro, usa a Internet como principal veículo. Os clipes que utilizam a estética também ganharam reconhecimento no festival Cinema Electronica, que percorreu os Estados Unidos, a Europa e a Ásia nos últimos meses.

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