Mundo da moda repensa sua obsessão pela magreza

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Por Agencia Estado
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A discussão sobre a obsessão do mundo da moda por modelos cada vez mais magras volta a esquentar nos Estados Unidos. Uma edição da revista Vogue celebrando "os diferentes tipos físicos" chega às bancas logo depois da realização de um novo evento de lançamento de coleções para mulheres cheinhas e da estréia de um documentário sobre as modelos tamanho grande. A movimentação é um reflexo da descoberta de uma nova fatia do mercado pela assumidamente preconceituosa indústria da moda. No último domingo, Kate Betts, a ex-editora da Harper´s Bazaar fez, em uma reportagem no New York Times, um pedido de desculpas a Renée Zellweger, que foi cortada da capa da revista no ano passado por estar acima do peso. Ela havia engordado para fazer O Diário de Bridget Jones, que acabou rendendo uma indicação para o Oscar. Na reportagem, Betts analisa a obsessão das campanhas publicitárias do mundo fashion pela magreza. "Quanto mais aumenta o peso médio dos americanos, mais esbeltos os ícones têm de ser." Embora seja difícil acreditar que as principais revistas resolvam mudar o perfil de suas modelos, a indústria da moda começa a refletir, ainda que tardiamente, as necessidades do mercado. Afinal, de acordo com o Centers for Disease Control, 61% dos americanos são obesos. Enquanto o mercado de roupas tamanho pequeno ficou estagnado nos últimos dois anos, a fatia destinada aos modelos grandes cresceu 18%. Grifes como Prada e Gucci ainda parecem fazer questão de não associar suas roupas a mulheres maiores, mas grandes redes, como Ralph Lauren, Donna Karan e Tommy Hilfiger, vêm aumentando cada vez mais a abrangência da numeração de suas coleções. Tanto é que a edição de abril da Vogue americana traz editoriais com roupas da atual estação, em numerações variadíssimas. "Chega de reclamação", declarou a editora Anna Wintour. "Há roupas maravilhosas aí fora para satisfazer qualquer mulher." A edição traz mulheres altas, magras, grávidas ou "cheias de curvas" vestindo roupas de marcas como Jean Paul Gaultier, Giorgio Armani, Michael Kors, Herms e várias outras. Embora seja a primeira vez em muitos anos que a Vogue esteja adotando formas diferentes das de modelos como Gisele Bündchen, Kate Moss e Carmen Kass, a revista está longe de mostrar as mulheres gordinhas que aparecem em catálogos de marcas como a Lane Bryant. Para se ter uma idéia, o traseiro avantajado de Jennifer "J.Lo" Lopez garante à atriz uma vaga na seção dedicada às mulheres "cheias". Curiosamente, os eufemismos também são usados pelos maiores defensores da indústria "plus size". O próprio release de apresentação do CurveStyle, o evento para lançamento de roupas tamanho grande, realizado em Nova York há poucas semanas, diz que "J.Lo fez pelos traseiros o mesmo que Cindy Crawford fez pelas pintas". Organizado por Catherine Schuller, ex-editora da revista Mode (que era dedicada ao público grande, mas fechou no ano passado), o CurveStyle teve desfiles de roupas de marcas como a americana Facelift, a francesa Code e a italiana Per Te, de Krizia. Uma edição de verão já está programada para a metade do ano. Embora ainda tenha apenas marcas do time B, o evento teve o amplo apoio das inúmeras agências de modelos tamanho grande e cobertura modesta da imprensa. Schuller também foi uma das principais investidoras do documentário Curves, sobre a indústria das modelos grandes, que acaba de ter pré-estréia em Nova York. O filme retrata o dia-a-dia de nomes como Gabrielle Taber, Tami Fitzhug-Thompson e Tomiko Peirano - e celebra o sucesso de estrelas como Kate Winslet, Kathy Najimi (uma das freiras de Mudança de Hábito) e da modelo Sophie Dahl (que recentemente perdeu 15 quilos e apareceu na campanha de Yves Saint Laurent). O crescimento da indústria fashion voltada para as gordinhas também vem criando um mercado paralelo de auto-ajuda, em forma de livros e seminários para melhorar a auto-estima. A modelo Gabrielle, por exemplo, viaja pelos Estados Unidos com um workshop chamado Beauty Knows No Pain ("a beleza não conhece a dor"), em que promete dar às mulheres uma "nova perspectiva da indústria da beleza".

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