
14 de novembro de 2010 | 00h00
Parece que vamos apenas acompanhar o cotidiano trivial de uma turma de universitários largados, mas em pouco tempo a história dá um salto e mexe completamente no ritmo bucólico e entediante daquela rotina.
A história em si - Scott tem que enfrentar os sete ex-casos de uma nova paixão, uma menina de cabelo colorido chamada Ramona - não é grande coisa.
Mas a forma como ela é apresentada talvez faça do filme um dos mais influentes deste ano, principalmente no que diz respeito à estética.
Um tanto dessa culpa vem do próprio quadrinho original, que transforma a briga de Scott com seus rivais em um cenário de videogame em que cada ex de Ramona é o equivalente a um chefão de fase, como nos jogos eletrônicos.
Mas o filme vai além de simplesmente adaptar a linguagem dos games para o cinema, coisa que já foi tentada por vários diretores antes desse filme.
O trunfo do inglês Edgard Wright é usar o videogame como mais um dos elementos para compor uma narrativa moderna, de edição ágil e cortes rápidos, e que fuja do padrão MTV, quase sempre associado a esse tipo de recurso.
O problema é que o formato inventado pela MTV já tem mais de 30 anos - e ainda é associado a uma narrativa "jovem" e "descolada" (adjetivos entre aspas, pois são normalmente ditos por pessoas que não são jovens nem descoladas).
Em Scott Pilgrim, Wright leva esse conceito para linguagens que estão mais associadas à modernidade do que um canal de TV que exibe videoclipes.
É aí que ele injeta os games e a internet como referência. Os jogos são evidentes desde a primeira cena - o logo do estúdio Universal exibido como se fosse um game do Mega Drive - e a internet entra junto com a onipresença atual do texto escrito, em que palavras, termos, frases e listas surgem como links ou tags junto às cenas.
Assim, Scott Pilgrim Contra o Mundo pode parecer rápido demais até para quem é acostumado à linguagem MTV. Talvez porque tenha sido feito mirando em uma geração que, vista de fora, parece sofrer seriamente de déficit de atenção. Só isso já vale o filme.
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