Muitas versões do visionário H.G. Wells

Obra do escritor inglês está no filme A Máquina do Tempo, em novas traduções e no relançamento, em DVD, de A Guerra dos Mundos

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Por Agencia Estado
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O estranho chegou no início de fevereiro, num dia gelado e com neve, sob um vento cortante... O Explorador do Tempo (pois convém chamá-lo assim) estava expondo uma questão complexa para nós... Ninguém teria acreditado, nos últimos anos do século 19, que este mundo estava sendo vigiado malévola e detalhadamente por inteligências maiores que a do homem... Basta ler estas primeiras linhas de três dos livros mais famosos de H. (de Herbert) G. (de George) Wells, O Homem Invisível, A Máquina do Tempo e A Guerra dos Mundos, para ver que ele era um especialista em prender a atenção dos leitores. Tanto que, até hoje, seus livros não param de ser reeditados (a Editora Nova Alexandria acaba de lançar nova tradução de O Homem Invisível). E a atenção transborda para outros meios: uma nova versão de A Máquina do Tempo estréia nesta sexta nos cinemas e um DVD com a mais célebre adaptação de A Guerra dos Mundos ganha lojas e locadoras. Wells morreu há 56 anos, mas o impacto de suas obras não diminuiu. Embora o que mais o interessasse na ficção - uma mensagem de cunho socialista e visionário - não tenha dado muito certo, o público parece continuar bastante interessado no que seus livros têm de imaginação e aventura. O filme A Máquina do Tempo segue esse caminho. Joga para baixo do tapete boa parte dos princípios wellsianos e investe só na aventura. O livro de Wells, de 1895, seu primeiro romance, fala de um sujeito que busca um mundo justo e vai para o futuro em busca disso. Por um acidente de percurso é lançado a um futuro muito distante, o ano 802701, onde há duas raças - paródia do sistema de classes britânico -, a dos Elois, fracos e pequenos, que vivem na superfície da Terra, que é um paraíso aparente, e a dos Morlocks, criaturas bestiais que vivem nas profundezas e comem os Elois. Com A Máquina do Tempo, Wells se tornou um dos pais da ficção científica. No filme, um cientista, Alexander Hartsegen (Guy Pearce), estuda a viagem no tempo e constrói uma máquina, mas só a usa para tentar mudar o passado, quando sua namorada é morta por um assaltante. Ele vai para 800 mil anos no futuro, passando por algumas escalas - entre elas a do ano 2030 em que visita um museu e conversa com uma holografia (Orlando Jones), que guarda a sabedoria ali encerrada. No futuro remoto, a holografia ainda existe, soterrada nas ruínas de Nova York. Alexander encontra os Elóis, que têm um jeito meio polinésio e moram em casas penduradas em escarpas. Eles são caçados pelos Morlocks, que parecem um cruzamento de vampiros com babuínos. A primeira versão de A Máquina do Tempo, dirigida nos anos 60 por George Pal, é mais próxima das intenções, por assim dizer, didáticas de Wells, embora esta tenha sido dirigida pelo bisneto do escritor, Simon Wells A primeira versão tinha, assim como o livro, um elemento de estranho, de algo sobrenatural no futuro mostrado, que desapareceu no filme atual, talvez devido à sobrevivência de elementos do passado. Resta a aventura por várias épocas, em que Alexander enfrenta os morlocks, descobre que a Lua está desabando sobre a Terra na Nova York que está sendo evacuada, enfrenta o assaltante que mata sua noiva. É verdade que ela encontra uma garota elói, Mara (Samantha Mumba). O filme descamba para o final quando Alexander encontra um super-Morlock (Jeremy Irons, falando inglês com seu perfeito sotaque britânico) destruindo de vez a tese wellsiana de parodiar as duas classes em luta. Mas dá para assistir sem tédio. Byron Haskin foi o diretor de A Guerra dos Mundos, o filme de 1953, com Gene Barry. Lançado em DVD pela Paramount, ainda é um filme muito eficiente, mostrando como os marcianos invadem os Estados Unidos a partir de uma cidadezinha interiorana e, imunes a todas as armas terrestres, inclusive a bomba atômica (lançada de uma asa-voadora), ampliam sua conquista até serem derrotados pelas bactérias da Terra. A intenção de Wells era tratar da superpopulação e satirizar o colonialismo do Império britânico a partir dos marcianos. Wells , que nasceu em 1866, escreveu muito, tem ensaios, contos e romances memoráveis, mas é mais lembrado por A Guerra dos Mundos, A Máquina do Tempo e O Homem Invisível - este uma história trágica do cientista que consegue a invisibilidade, mas, numa troca faustiana, transforma-se numa aberração tipo Frankenstein. O cinema tem usado muito os temas abordados por Wells, mas nunca chegou ao nível do que ele escreveu. Aproveite que pelo menos os três títulos mais famosos do autor estão nas livrarias, lançados pela Nova Alexandria.

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