Mozarteum completa 30 anos

Sabine Lovatelli, à frente da instituição desde sua fundação, relembra trajetória e fala sobre desafios da vida musical

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Por João Luiz Sampaio
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No começo dos anos 80, um anúncio publicado nos jornais de São Paulo convocava o público para uma temporada repleta de atrações internacionais, promovida por uma nova sociedade de concertos, "com preços de 2 mil a 16 mil cruzeiros". Desde então, a moeda e o País mudaram muito. Mas o Mozarteum Brasileiro segue estabelecido na vida cultural da cidade, completando 30 anos ao longo da nova temporada, que começa hoje na Sala São Paulo com concerto do conjunto L"Arte del Mondo, em programa dedicado a obras de Mozart.Por trás da instituição, desde sua fundação, em 1981, está a alemã Sabine Lovatelli. Natural de Hannover, viveu na França e na Irlanda do Norte antes de mudar-se para o Brasil em 1971, acompanhando o marido, empresário italiano radicado por aqui. Anos depois de sua chegada, resolveu criar uma instituição sem fins lucrativos que promovesse a atividade musical na cidade. Na época, falava à imprensa sobre a crença de que, em um país em desenvolvimento, a cultura tinha o poder de fazer as pessoas crescerem e encararem os desafios da sociedade de outra maneira. Trinta anos depois, o discurso é o mesmo. "O Brasil está na moda em todo o mundo, vivemos um momento muito especial e a cultura, mais do que nunca, tem que acompanhar esse quadro. Sem cultura, não há desenvolvimento", diz Sabine.Ao longo desses 30 anos, o Mozarteum Brasileiro trouxe ao País grupos como as filarmônicas de Berlim e Viena, além de uma infinidade de outras orquestras europeias e norte-americanas, comandadas por nomes como Claudio Abbado, Lorin Maazel, Christoph Eschenbach e Sergiu Celibidache; desde que surgiu, a instituição também promoveu concertos gratuitos no Auditório do MASP, tendo como objetivo formar novas plateias; além disso, foram pioneiros em apresentações de orquestras ao ar livre e na criação do Clube do Ouvinte, com palestras para o público antes dos concertos."A oferta hoje é muito maior", diz Sabine. "Quando começamos, eram poucas as opções de concertos, tínhamos filas gigantescas sempre por conta disso. Hoje o quadro é diferente, São Paulo não deve nada a outras metrópoles importantes em sua oferta cultural. O prazer que tenho é sentir que colaboramos um pouco nesse processo de transformação da vida musical da cidade." No começo, era difícil atrair artistas e orquestras ao Brasil, conta Sabine. Mas as parcerias com Buenos Aires e o crescimento das temporadas foram mudando o cenário. "Sempre tivemos a ajuda de empresários que acreditaram em nós e, ao trazer um grande artista para cá, podíamos usar isso como argumento para trazer outro e assim por diante. Hoje, é bom ver que os grupos já se interessam, querem conhecer o Brasil. E eles se encaixam na nossa proposta de dar aulas por aqui, o que é muito bom. Ao mesmo tempo, o Mozarteum tem trabalhado para mandar músicos brasileiros para a Europa para estudar", diz. Para Sabine, o crescimento da vida musical leva a algumas questões. "Faltam teatros", diz. "Há apenas um punhado de salas de 1.400 lugares, isso é pouco." Ela faz referência também aos mecanismos de investimento à cultura. "Hoje, dependemos totalmente da Lei Rouanet, e não somos os únicos. E torcemos para que ela não seja extinta pois, no final das contas, sem ela não haveria nada. Sinto que instituições como o Mozarteum poderiam ser mais respeitadas e apoiadas. O problema é que, de forma geral, ainda se vê a cultura no Brasil como forma de entretenimento, de lazer. E ela não é só isso. Todos precisam de cultura, a música precisa chegar às crianças, aos jovens, pois são eles que vão continuar a construir esse País. É um trabalho a longo prazo. Não é por acaso que somos parceiros de iniciativas como o Neojibá, programa de educação musical desenvolvido em Salvador."Do ponto de vista pessoal, Sabine lembra das amizades que fez ao longo desses 30 anos. "Lorin Maazel tornou-se não apenas um amigo, mas alguém que nos ajuda sempre a encontrar caminhos. O mesmo vale para Claudio Abbado, Zubin Mehta. Você já viu: gosto mesmo de maestros", diz, sorrindo. "É que o papo com eles é ótimo. Além disso, na Europa, eles chegam, regem e vão embora. Aqui, temos eles só para nós por uma semana inteira e, às vezes, ainda mais tempo. Temos muita sorte."L"ARTE DEL MONDOSala São Paulo. Praça Julio Prestes, s/nº, tel. 3223-3966.Hoje e amanhã, às 21 horas.De R$ 60 a R$ 130

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