Mostra traz 130 peças do Museu Etnológico de Berlim

Exposição no CCBB do Rio reúne obras que encantaram o Velho Mundo em séculos passados

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Por Roberta Pennafort
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Por seu exotismo, diversidade e clima, o mundo tropical povoa o imaginário dos europeus desde que eles aportaram em outros continentes. A partir desta terça-feira, 4, o público carioca poderá ver uma amostra da produção de povos das Américas do Sul e Central, Ásia Tropical, África e Oceania, que encantaram o Velho Mundo em séculos passados.   Veja também: Galeria da mostra 'Os Trópicos'    Em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, a mostra Os Trópicos: Visões a Partir do Centro do Globo traz à cidade 130 obras de arte que compõem o acervo do Museu Etnológico de Berlim, um dos mais importantes do mundo em sua área - peças que jamais haviam deixado a Alemanha.   Nas salas do CCBB, a colorida e inventiva arte primitiva de países localizados entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio - a região de 5 mil quilômetros de extensão na qual estamos situados -, dialoga com 87 obras de 23 artistas contemporâneos, de nacionalidades diversas (nascidos abaixo e acima da linha do Equador).   Peças de vestuário, máscaras, esculturas em madeira e em ferro dos séculos 19 e 20 convivem com pinturas, fotografias, vídeos e instalações criados recentemente. Do Brasil, participam Lucia Laguna, Marcone Moreira e Walmor Corrêa e outros seis artistas. "Esta justaposição de arte antiga e contemporânea é inédita", vibra um dos curadores, Alfons Hug, diretor no Rio do Instituto Goethe, entidade alemã que organiza a mostra.   Os estudos do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, um dos grandes pensadores do século 20, que passou pelo Brasil nos anos 30 e, a partir daí, criou clássicos como Tristes Trópicos e As Mitológicas, lhe serviram de norte. Planta Monstro do Escritório, instalação de 30 metros de altura de autoria de dois suíços, Gerd Steiner e Jörg Lenzlinger, convida o público à exposição já na rotunda do CCBB. Ali, entre as colunas de mármore do prédio histórico do centro da cidade, passeiam representações de flores, folhas e galhos coletados por eles no Rio e em Brasília (a mostra passou antes pelo CCBB da capital federal). Até peças de fantasias de escolas de samba ganharam outra significação sob sua ótica.   "Entre os europeus, sempre existiram muitas fantasias sobre os trópicos. Fizemos uma celebração da diversidade da vegetação. As pessoas daqui podem não notar, mas é tudo muito colorido e fascinante", diz Lenzlinger.   Provenientes de países como Índia, Sri Lanka, Indonésia, Tailândia e Papua Nova Guiné, de nações africanas e da América Tropical, as peças do museu de Berlim chamam atenção por sua força. Não há uma unidade estética. "Estamos falando de um espectro muito amplo. Sou cético com relação à existência de uma arte típica dos trópicos", explica Peter Junge, que é curador do museu e também desta exposição (assim como a diretora da instituição alemã, Viola König).   Os temas, esses sim, são recorrentes: as salas abrigam esculturas que representam ancestrais, divindades, animais, mitos, utensílios e instrumentos musicais. Do Museu do Índio, no Rio, foram levados adereços como cetros de penas - dispostos próximos a vestimentas guatemaltecas e multicoloridos tecidos panamenhos. Na sala ao lado, encantadores bonecos de marionete da Indonésia; mais à frente, a figura de um espírito caçador, da Nova Guiné.   Entre as imagens contemporâneas do Brasil, estão as Cataratas do Iguaçu e a Amazônia, clicadas por fotógrafos de fora. "Na Alemanha, um país que tem 30% de seu território coberto por florestas, existe um interesse muito grande por este tema. Temos uma visão romântica sobre a floresta, que o brasileiro, por exemplo, não tem", acredita Junge.   Os Trópicos tem como objetivo fomentar as relações Sul-Sul, como entre América do Sul e Ásia Tropical ou Oceania e África. E, claro, mostrar aos brasileiros - e incitá-los a refletir sobre - outros trópicos. Na terça e na quarta, serão realizadas palestras com Alfons Hug, Peter Junge e Viola König, e com os artistas Mauricio Dias e Walter Riedweg. Os dois participam da mostra com suas fotografias que enfocam os mistérios do candomblé.

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