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Mostra revela interferências na paisagem do Rio

Por Agencia Estado
Atualização:

Dos anos 40 aos 60, o Rio passou por transformações urbanas e políticas profundas que mudaram sua paisagem e deram ao carioca um novo estilo de vida. A cidade deixou de ser a capital federal e sua arquitetura colonial e da belle époque deu lugar à moderna. Essas alterações foram registradas em fotos que estarão na mostra Estampas do Rio, a partir de terça-feira, no Espaco Cultural do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O material vem do Arquivo Nacional, do Arquivo Geral da Cidade e do Correio da Manhã, jornal que deixou de circular nos anos 60. "São três tipos de registro. As fotos do Arquivo Nacional foram feitas para propaganda das autoridades brasileiras, as do Correio da Manhã têm enfoque jornalístico e preocupação estética e as do Arquivo da Cidade são postais que vieram de colecionadores particulares", explica Maria do Carmo Rainho, curadora da mostra junto com Cláudia Heynemann. Elas viram quase 10 mil fotos para chegar às 90 que estarão no BNDES. "Juntas, elas contam a história da cidade, pois até os fotógrafos do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), depois Agência Nacional, mostravam a paisagem que cercava as autoridades." Parte das fotografias são registros do cotidiano e das festas cariocas. Há o bloco de sujo com homens vestidos de havaiana, o bonde superlotado, a luta de boxe no Campo de Santana (praça do centro da cidade) e o desfile pela Avenida Rio Branco dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que voltavam vitoriosos da Segunda Guerra Mundial. Há também fotos do Palácio Monroe, onde funcionou o Senado, demolido, sob protesto dos cariocas, para dar passagem ao metrô. Outras imagens informam como o poder público organizou a cidade. Em 1956, os camelôs da Central do Brasil já usavam barracas padronizadas. Pouco antes, a Avenida Chile (projeto inacabado do arquiteto Affonso Reidy) rasgava o centro da cidade e demolia o Morro Santo Antônio. "Nunca tantos fizeram tanto por tão pouco", comenta o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Carlos Fernando Andrade. "O Morro foi demolido para desafogar a área, mas em seu lugar construíram a catedral, e os imensos prédios da Petrobrás, do BNDES e do antigo Banco Nacional da Habitação. São edifícios que o público não freqüenta, mas transmitem a mesma sensação que a montanha demolida causava." Segundo Andrade, os anos 40 foram o período mais drástico dessas mudanças, embora muitas obras tenham vindo depois. "Foi quando o governo manifestou um profundo desprezo pelo passado da cidade. O Rio moderno era feito de arranha-céus e o que foi construído antes tinha que desaparecer", cita ele. Para Andrade, essas mudanças privilegiaram o automóvel, pois acreditava-se que o importante é que todos chegassem rápido usando vias expressas, viadutos e túneis. "Hoje se sabe que, se todo mundo revolver sair de carro, a cidade pára num imenso engarrafamento." Vídeo - A exposição fica no BNDES até o fim de abril e, durante esse período será exibido também o vídeo Um Rio que Passou, montado com imagens de época do Arquivo Nacional e do produtor cinematográfico César Nunes. "Eram cine-jornais, exibidos antes dos filmes, numa época em que a televisão não existia ainda ou era restrita a poucas casas", Clovis Molinari, que pesquisou e editou o vídeo. "O vídeo funciona como um complemento da exposição, pois algumas das imagens foram feitas no mesmo momento das fotografias."

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