Mostra reúne esboços e memórias de Brasília

Exposição Brasília Para Sempre, com serigrafias de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, é ampliada no Rio com coleção de documentos históricos, entre eles cartas de JK

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Por Agencia Estado
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Começa amanhã, na Academia Brasileira de Letras, no Rio, a exposição Brasília Para Sempre: serigrafias de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Os doze esboços da construção da capital já foram expostos ontem no Memorial JK em Brasília, mas no Rio o acervo ganhou documentos inéditos importantes: cartas do ex-presidente Juscelino Kubitschek aos acadêmicos Geraldo França de Lima, Carlos Heitor Cony, Murilo Melo Filho e a seu grande amigo Josué Montello, sub-chefe da Casa Civil nos primeiros anos de seu governo. Pode ser vista ainda uma carta histórica do arquiteto Lúcio Costa a Antonio Callado em resposta ao artigo publicado pelo escritor em que criticava a demora na conclusão de Brasília. Cony estará autografando seu livro JK: Memorial do Exílio, e Montello o seu, O Juscelino Kubitschek de Minhas Recordações. O projeto Brasília Para Sempre foi concebido pelo jornalista e historiador Ricardo Cravo Albim em 1985. A idéia era produzir um álbum com seis esboços arquitetônicos de Lúcio Costa, idealizador do projeto urbanístico de Brasília, e outros seis de Oscar Niemeyer, responsável pela criação dos prédios e monumentos da cidade. Os dois se dispuseram a reproduzir cada desenho em cópias serigráficas. O resultado demorou 15 anos para sair e ficou primorosamente produzido em pranchas de formato 50 x 70 cm. "O álbum foi originalmente pensado para servir de presente aos chefes de Estado em visita ao País. Antes, as primeiras-damas escolhiam inadvertidamente os presentes dados às autoridades estrangeiras, o que causava constrangimento algumas vezes", explica Cravo Albim. O presidente Fernando Henrique Cardoso presenteou o Princípe Charles com um exemplar, que ficou exposto no Palácio de Buckingham. A importância da criação de Brasília e da figura de Juscelino Kubitschek fez com que a exposição se ampliasse no Rio. A comemoração já começou ontem em Brasília, onde as obras foram expostas sob a curadoria de Sérgio Portela. Mas Juscelino tinha uma história muito íntima com a academia que não poderia ficar de fora nestas homenagens. Tanto que foi candidato a ABL, em 1975, perdendo por apenas um voto. Conta-se que ele reuniu a família para esperar o resultado da votação e quando soube da derrota, abraçou-se a sua filha Maristela e dançou o Peixe Vivo, seu prefixo musical. Sacudindo o gigante - Desde o início de seu governo, em 1955, JK sofreu oposição dos setores anti-getulistas, hostilidade que aumentou com o apoio de João Goulart à sua candidatura. "Quando ele anunciou sua candidatura à presidência, eu o alertei: esse será o seu maior erro, porque com isso o senhor une os seus amigos a seus inimigos. Quem quer ser presidente ficará contra o senhor", conta Josué Montello. O amigo escreveu em 29 dias as 570 páginas da mensagem programática do governo de JK com as famosas "metas" para o País. O decano da Academia conta que era responsável por muitos pronunciamentos de Juscelino e confidencia que as citações bíblicas presentes em seus discursos eram todas retiradas da Bíblia do pai de Montello. Sobre a ligação afetiva e política, Montello escreveu O Juscelino Kubitschek das Minhas Recordações, editado pela Nova Fronteira. Montello foi escolhido embaixador do Brasil junto à UNESCO e conseguiu tornar Brasília o primeiro patrimônio moderno da humanidade. Uma foto registrando sua participação, nunca antes exposta, integra a mostra. Mas o projeto da criação da nova capital recebeu muitas críticas, tanto pelo custo quanto pelo tempo necessário à sua realização. Estará em exposição uma carta, de fevereiro de 1960, de desagravo de Lúcio Costa ao então redator do Correio da Manhã Antonio Callado. Ele criticava a demora na conclusão das obras. O documento histórico do acervo da Casa de Rui Barbosa contém esboços explicativos sobre as obras e informações sobre o andamento do projeto. "Tratando-se da criação de uma cidade destinada a ser a capital do País, impunha-se construir desde logo os edifícios públicos essenciais", escreve o arquiteto. E finaliza : "Lamento que um jornalista fundamentalmente honesto e da sua qualidade se deixasse levar pelo diz-que-disse a ponto de trazer a público - lá e aqui - invenções tão descabidas". Juscelino governou até 1961. Em 64, foi teve seu mandato de senador cassado e seus direitos políticos suspensos por dez anos com base no Ato Institucional nº 1. Partiu assim para o exílio na Europa. Nesse período conturbado, estreita-se ainda mais o relacionamento com outro grande amigo, Adolpho Bloch, que manteve um contato diário com Juscelino nos seus últimos 13 anos de vida. Ele chegou a montar um escritório para JK no prédio da Manchete no Rio depois da sua volta ao Brasil em 67. Através de Bloch, ele conheceu os jornalistas e hoje acadêmicos Carlos Heitor Cony e Murilo Melo Filho. A ligação amistosa que teve início desde a construção de Brasília aumentou cada vez mais. Em carta a Murilo Melo, de agosto de 70, JK resume seu sentimento em relação ao Brasil. "Numa entrevista que dei à Manchete, em 1960, perguntado pelo repórter o que havia feito pelo Brasil, respondi: - Despertei-o! Sacudi o Gigante de Norte a Sul". O curador Anselmo Maciel selecionou para a exposição, além das cartas e serigrafias, livros sobre a construção da cidade, o programa oficial de inauguração, de 21 de abril de 1960 e o programa da peça de inauguração de Brasília, Alegoria das Três Capitais, com texto de Josué Montello e música dos maestros Heckel Tavares e Villa Lobos. A exposição fica em cartaz até 13 de outubro. Exposição Brasília Para Sempre - Galeria do Centro Cultural da Academia Brasileira de Letras. Lançamento às 17h30, dia 14 de setembro. Av. Presidente Wilson, 203, Castelo, Rio. Tel. 524-8230.

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