Mostra põe à venda a arte de Brecheret

Reunindo trabalhos dos anos 20 aos 50, exposição no Espaço 689 contempla várias fases do artista, considerado o grande escultor modernista do Brasil

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Por Agencia Estado
Atualização:

Com 22 esculturas e 20 desenhos realizados entre as décadas de 20 e 50, será aberta amanhã aquela que é apresentada como a maior exposição comercial de Victor Brecheret já realizada. Os interessados em adquirir um Brecheret terão de desembolsar entre R$ 22 mil e R$ 100 mil no caso das esculturas e aproximadamente R$ 8 mil no caso dos desenhos. As obras pertencem à filha do artista, Sandra Brecheret Pellegrini, que pretende utilizar parte da verba para financiar a fundação que acaba de criar para cuidar da obra do pai. A seleção de trabalhos, realizada pela marchande Mônica Filgueiras, procurou traçar um panorama abrangente da obra do artista, considerado o grande escultor modernista brasileiro, e contempla vários momentos de sua produção. Houve, por parte da curadora e da herdeira, uma preocupação em contemplar os principais momentos da cronologia de Brecheret. Nascido em 1894, formado inicialmente pelo Liceu de Artes e Ofícios e posteriormente tendo concluído seus estudos na Itália, Brecheret retorna ao País em 1919 para tornar-se um dos grandes nomes da vanguarda modernista (ele chega a participar da Semana de Arte Moderna com 12 peças, apesar de estar em Paris quando o evento ocorreu). Mas os dois grandes eixos de organização da exposição são os temas e os estilos desenvolvidos por Brecheret ao longo de seus quase 40 anos de produção. Todas as obras da exposição podem ser divididas em três grandes categorias: os nus femininos, mais relacionados à tradição clássica e à forte influência art decó que marcou a obra de Brecheret, principalmente nas primeiras décadas de sua carreira (uma peça especial da exposição é uma bailarina desse período); os trabalhos de caráter religioso e as esculturas de animais, nas quais torna-se mais evidente a influência da tradição indígena local sobre o trabalho do escultor. Evidentemente, essa segmentação não é rígida. Brecheret não abandonou seus temas preferidos ao longo da vida. Elas apenas foram adquirindo novas formas à medida que suas pesquisas formais avançavam. Um bom exemplo disso são as várias Madonas existentes na exposição. Lá estão desde a clássica Fuga para o Egito, em bronze polido da década de 20, em que Nossa Senhora e o Menino Jesus aparecem numa evidente estilização art decó sobre o burrinho que os leva para longe dos soldados de Herodes, até uma bela peça de bronze patinado da década de 50 na qual se evidencia a afirmação de Mônica Filgueiras de que possivelmente ele se tornaria um artista abstrato se tivesse vivido mais alguns anos. Neste trabalho, de influência brancusiana, a noção de figura humana é apenas insinuada. As figuras religiosas são o grande destaque da exposição. Algumas delas, como um grande São Francisco ou uma belíssima Santa Ceia, estão entre os destaques da mostra. Outro ponto alto são as figuras de animais, como os cavalos e o Boi, da década de 50, na qual fica evidente a assimilação por Brecheret de um certo grafismo derivado de suas pesquisas da cultura marajoara, do abstracionismo indígena, o que, segundo Mônica Filgueiras, dá um toque arqueológico à obra tardia do artista. Além de ter uma longa experiência no mercado de artes brasileiro, Mônica também tem uma relação pessoal com os Brecheret, tendo sido quase vizinha deles quando criança. "Íamos escondidos espiar ´o artista´ (era como o chamávamos) trabalhando", lembra ela. Outra lembrança afetiva que lhe resta é a da inauguração do Monumento às Bandeiras, onde esteve ainda criança, em companhia dos pais. Ela também estudou na mesma escola que Victor Brecheret - filho e também herdeiro do escultor, que também patrocina exposições e eventos em torno da obra do pai. Aliás, um dos maiores atrativos da mostra é exatamente o jogo de ligue os pontos que o visitante poderá fazer entre as esculturas presentes no Espaço 689 e as peças renomadas do escultor, como o Monumento às Bandeiras, essencial em grande parte de sua trajetória, até porque levou 33 anos até ser concluído. Desenhos - Entre os desenhos, que são mais projetos do que obras acabadas, sendo chamados pelo próprio pintor de "a cozinha do artista", há traços que estão na origem de trabalhos importantes, como o painel que esculpiu para o Jockey Club (também faz parte da seleção um cavalo que pertence ao acervo da instituição) ou os estudos para a Via Sacra em terracota que pertence à Pinacoteca do Estado. Outra peça importante do museu assinada pelo artista, a Portadora de Perfume, também mantém um íntimo diálogo com a Tocadora de Guitarra, da década de 20, exemplo típico do chamado "período parisiense" do artista. É importante ressaltar que, apesar de se falar muito dos períodos de produção de uma obra, nenhuma das esculturas da mostra é de época. Algumas delas, como o enorme São Francisco de Assis - santo da devoção de Brecheret, que é um dos destaques da seleção -, foram fundidas recentemente e estão sendo expostas pela primeira vez (leia mais). Isso não quer dizer que não sejam autênticas. É que segundo uma convenção internacional, as esculturas (assim como as gravuras) podem ter um limite máximo de seis cópias cada uma, sem perder com isso sua originalidade e autenticidade. Victor Brecheret. De segunda a sexta, das 10 às 19 horas; sábado, das 10 às 14 horas. Espaço 689. Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 689, tel. 3062-3808. Até 16/6. Abertura amanhã, às 20 horas.

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