Mostra no Museu Paulista destaca ofício de alfaiate

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Por AE
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Nos anos 1970, ser alfaiate na cidade de São Paulo era sinônimo de status. Esses profissionais eram reconhecidos e valorizados. "Nosso trabalho era visto com a mesma importância de engenheiros, médicos, advogados", conta o alfaiate Tommaso Greco, 87 anos, um dos mais experientes da cidade e que trabalha em Pinheiros há 54 anos. Mas com o grande crescimento da indústria têxtil e do mercado de importação, a arte de criar e costurar roupas masculinas, como ternos, costumes, calças e coletes, foi perdendo força. Para resgatar a importância dessa profissão, o Museu Paulista da USP promove, até o dia 7 de novembro, a mostra "Ofício de Alfaiate: A Bancada de Roldão de Souza Filho", que homenageia o alfaiate paulistano autodidata que atuava na região de Perdizes.Na exposição, há cerca de 300 objetos de Roldão. Entre eles, tesouras, máquinas de costura, réguas, moldes de papel, ferros de passar, colchas de retalhos e roupas confeccionadas por ele. "Queremos mostrar todo o processo que envolve o trabalho de um alfaiate. Desde tirar medidas e receber encomendas até ver a roupa totalmente pronta", diz Adilson Almeida, 49 anos, especialista em serviços e objetos do museu.Aos 16 anos, Roldão de Souza Filho (1931-2005) teve, pela primeira vez, contato com um alfaiate de São Paulo. "Meu pai ficou fascinado porque o tal alfaiate, que se chamava Carlos, já tinha até carro. E isso numa época em que poucas pessoas possuíam automóvel", lembra o vendedor Silvio Souza, 54 anos, filho de Roldão. Assim, Roldão passou a trabalhar como aprendiz. Era o início de uma grande carreira. Em 1967, aos 26 anos, ele estabeleceu-se como autônomo e, aos poucos, tornou-se um legítimo representante desse ofício."Ele era totalmente autodidata, nunca fez curso de costura. Mas chegou a desenvolver técnicas exclusivas para compor as peças que produzia", diz Silvio Souza, que costumava ir com o pai comprar tecido no Centro. Ele lembra que, apesar da paixão pela alfaiataria, Roldão não queria que nenhum dos quatro filhos seguisse a profissão. "Ele nos dizia: ''aqui, ninguém vai ser alfaiate. É uma profissão em extinção''", lembra Silvio. "Parece que ele já estava prevendo o futuro".Segundo a Associação dos Alfaiates e Camiseiros do Estado de São Paulo, a década de 70 foi o auge da profissão na capital paulista. Lourdes Nóbrega, 53 anos, gerente da associação, diz que, naquela época, havia cerca de 5 mil alfaiates na cidade. Hoje, são menos de 500. Um dos mais antigos é justamente o italiano Tommaso Greco. "Atualmente, a maioria das pessoas compra roupa pronta. Não há mais quem se interesse em aprender a profissão de alfaiate", declara Greco. "É uma pena. Alfaiataria é uma arte que não pode ser destruída. Mas não desisto. Faço por amor". As informações são do Jornal da Tarde.Ofício de Alfaiate: a bancada de Roldão de Souza Filho. Museu Paulista da USP (Parque da Independência s/nº, Ipiranga). Tel. (011) 2065-8000. Ter. a dom., das 9h às 17h. Até 7/11. R$ 6. www.mp.usp.br

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