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Mostra no MIS homenageia o produtor Antonio Polo Galante

Na retrospectiva, estão programados alguns dos filmes mais representativos da carreira do artista

Por LUIZ ZANIN ORICCHIO - O Estado de S.Paulo
Atualização:

Antonio Polo Galante (1934), o mitológico produtor, é homenageado pela mostra A Boca da Boca, que começa hoje, no MIS, com a apresentação às 18h15 de trailers e, às 18h30, do longa A Mulher de Todos, de Rogério Sganzerla. Após a sessão, haverá debate com o homenageado e o crítico Inácio Araújo. Na retrospectiva, estão programados alguns dos seus filmes mais representativos, como Trilogia do Terror (Luis Sérgio Person, Ozualdo Candeias e José Mojica Marins), A Ilha dos Prazeres Proibidos (Carlos Reichenbach), Convite ao Prazer (Walter Hugo Khouri), O Cangaceiro Sanguinário (Oswaldo de Oliveira), Kung Fu entre as Bonecas (Adriano Stuart), entre outros. A retrospectiva permite reavaliar a produção da chamada Boca do Lixo, na qual Galante foi um dos personagens centrais. De formação essencialmente prática, era um produtor com faro de mercado. Apostava numa paleta diversificada de gêneros: terror, comédia, cangaço, etc. O predomínio era do filão erótico, naquilo que se convencionou chamar de pornochanchada. O atrativo eram as belas atrizes, nuas, que assim firmaram nome no imaginário masculino da época. Quatro dessas beldades remanescentes debatem na terça, dia 7, sob a mediação do crítico Gabriel Carneiro: Helena Ramos, Neide Ribeiro, Zilda Mayo e Aldine Müller. Com essas atrizes, Galante queria fazer dinheiro. Mas se o diretor fosse inteligente, seria capaz de convencê-lo a embarcar em projetos improváveis. É assim que levam a assinatura do produtor filmes tão transgressores como A Ilha dos Prazeres Proibidos ou A Mulher de Todos. O fato é que a imensa maioria desses filmes era muito ruim. Ajudaram a criar um clichê. A fase da pornochanchada é ainda responsável pelo difundido preconceito da classe média sobre o cinema brasileiro como "apelativo e cheio de palavrões". Também o meio intelectual via com muita desconfiança esse tipo de filme. Machistas, alienados, exploradores dos baixos instintos do público, pouco dignos de consideração ou análise. A exceção era, justamente, o maior dos nossos críticos, Paulo Emilio Salles Gomes, para o qual mesmo o pior dos filmes brasileiros diria alguma coisa importante sobre a nossa condição. Mas o que permaneceu na tradição da crítica foi o menosprezo por esse tipo de produção, da qual Galante é talvez o nome principal como produtor. Como se poderia prever, à sombra do desprezo nasceu a atitude contrária, vinda de outra facção crítica - aquela que, por reação, supervaloriza essas produções e nelas enxerga aspectos com os quais sequer sonhavam seus produtores. Talvez a retrospectiva dedicada a Galante reponha em cena essas visões antagônicas. Mas a tendência maior é a celebração acrítica.

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