
15 de setembro de 2010 | 10h02
Com curadoria de Teixeira Coelho e Tereza de Arruda e patrocínio da Mercedes-Benz, a exposição reúne artistas que antes nem se cruzavam - por causa do muro ou diferenças ideológicas. Veteranos como Heisig, hoje com 85 anos, membro do Partido Socialista e fundador da denominada Escola de Leipzig, defendia, por exemplo, uma pintura realista na tradição de Cranach e Max Beckman, renegando a arte contemporânea da Alemanha Ocidental, especialmente a realizada sob influência de Joseph Beuys. Assim, é justo dizer que o muro político de Berlim foi derrubado, mas não o artístico. Discípulo de Heisig, o pintor Neo Rauch, nascido em Leipzig há 50 anos, assume que seu estilo é conservador, embora resista ao rótulo de realista socialista. Na mostra, grandes telas suas mostram operárias e trabalhadores, de fato, mas com balõezinhos do tipo usados pelo pop Lichtenstein (sem legendas, desta vez), o que pressupõe um comentário irônico do autor.
Se o regime comunista impôs o realismo socialista em oposição à ação libertária de Beuys, por que os artistas de Leipzig, então, seguiam o expressionista Beckman, desprezado tanto pelos nazistas como pelos comunistas? Por que Heisig, voluntário da Juventude Hitlerista, passou a pintar os horrores do Terceiro Reich? Como Werner Tübke (1929-2004), expoente da escola realista de Leipzig, que se dedica à crítica social com sua pintura, assumiu justamente o estilo glorificado pelos pintores oficiais de Hitler para condenar o nazismo? São questões que incomodam também os alemães, como comprovam os curadores da mostra.
Teixeira Coelho conta que ele e Tereza de Arruda, visitando os museus alemães em busca de obras, tiveram de ouvir de seus diretores "que tais e tais artistas ou períodos não interessavam ou eram irrelevantes". Esses períodos "inconvenientes", segundo o curador do Masp, eram invariavelmente os anteriores à queda do muro. Entra aí não uma questão de gosto, mas política, mercadológica. Em 1989, a Alemanha Ocidental estava cheia de neoexpressionistas renegados pela Oriental por serem considerados decadentes. Hoje são estrelas na mostra do Masp, como o falecido Martin Kippenberger (1953- 1997), um dos mais paródicos representantes da escola de Hamburgo, à qual também esteve filiado Jonathan Meese - ambos fixados em temas ligados à sexualidade fora dos trilhos.
Outros que trabalharam perto de Kippenberger - e para quem os diretores de museus alemães torceram igualmente o nariz - são os rebeldes Werner Büttner e Albert Oehlen, representantes do que se convencionou chamar de "bad painting" (ou transvanguarda), gênero que nos anos 1980 identificava uma pintura de aparência rudimentar, figurativa e contrária à ordem rígida minimalista da década anterior. Dois nomes da pintura alemã se destacaram por essa época, Baselitz e Kiefer, referências obrigatórias quando se fala em pintura alemã contemporânea. Teixeira Coelho justifica a ausência dos dois ao lembrar que o primeiro já teve mostra na Pinacoteca e as obras de Kiefer estiveram em exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Se Não Neste Tempo - Masp (Av. Paulista, 1.578). Tel. (011) 3251-5644. 3ª, 4ª, 6ª, domingo e feriado, 11h às 18h; 5ª, 11h às 20h. A bilheteria fecha uma hora antes. 3ª, grátis. Abre domingo, dia 19. Até 9 de janeiro.
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