Mostra levanta polêmica sobre autoria de grafite

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Por Agencia Estado
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Instaurou-se uma polêmica em relação à exposição sobre a história do grafite em São Paulo intitulada Rendam-se Terráqueos, abrigada na Casa das Rosas desde 22 de janeiro. Quem seria o verdadeiro autor da pichação que dá nome à mostra? De um lado, o catálogo deixa claro a atribuição da autoria a Alberto Marsicano. Está na primeira frase do texto de apresentação do diretor da Casa das Rosas, José Roberto Aguilar. Entretanto, um grupo formado por Paulo Zocchi, Alex Antunes, Celso Pucci e Renato Cosentino reivindica a autoria do grafite. Hoje, os amigos são, respectivamente, jornalista, escritor e DJ, jornalista e músico e vídeo designer. Mas no final da década de 70, época em que "pipocaram" pichações pela cidade, Zocchi, Antunes, Pucci e Cosentino eram colegas do 2.º ano de comunicações da Escola de Comunicações e Artes da USP. Segundo Zocchi, o grupo se reuniu em uma noite no começo de 1979 em sua casa para criar uma pichação. Fizeram até um caderno para registrar o processo de criação do grafite que, depois de uma hora e meia, seria uma carinha de dentes afiados, usando uma cartola, com a frase "Rendam-se Terráqueo$". Para uma época em que pichação podia ser identificada como atividade política, o grupo conseguiu fazer cerca de 30 pichações entre as zonas sul e oeste de São Paulo. O grafite foi até mesmo capa de um jornal daquele período, o City News. Quando Alex Antunes viu a exposição montada na Casa das Rosas, ligou imediatamente para Alberto Marsicano e, depois, para Aguilar para perguntar o que estava acontecendo e os dois mantiveram uma pergunta-opinião homogênea: grafite tem autoria? "Essa frase é quase uma expressão clássica de quadrinhos de ficção científica trash da época. É ridículo reivindicar a autoria", diz Marsicano. "Naquela época era ilegal, podíamos ser presos e torturados. Por isso, ninguém via o outro pichando. Víamos somente que as frases iam se reproduzindo. Vi vários Rendam-se Terráqueos que eu não tinha feito, mas nenhum com o $ no final." "Não é nenhum grande problema. Nessas pichações não se faz registro em cartório. Mas vamos colocar a controvérsia no site da Casa das Rosas", diz Aguilar. Mesmo assim, o grupo reivindica a autoria. Fizeram um texto bem irônico, com o título "O Marciano não É o Marsicano", contando toda a história da pichação. "Esperamos evitar que a divulgação resultante da mostra gere uma documentação tão falsa como um marciano sem antenas." Para se reapropriar da autoria, o grupo está marcando uma performance com pichação e música que está prevista para ocorrer no domingo, às 18 horas, na própria Casa das Rosas. Rendam-se Terráqueos. De terça a domingo, das 12 às 19 horas. Casa das Rosas Avenida Paulista, 37, tel. 251-5271. Até 31/3.

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