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Mostra inverte mensagens da mídia

O Mídia Tática Brasil mostra em três endereços diferentes uma comunicação de massa que em vez de tentar convencer, confunde

Por Agencia Estado
Atualização:

Fazer uma comunicação de massa radicalmente oposta àquela produzida pelas grandes empresas de jornalismo e publicidade. Em vez de tentar convencer, confundir. No lugar das certezas, a criação de dúvidas. Estes são alguns dos objetivos dos grupos que se reúnem desta quinta-feira até domingo, no evento Mídia Tática Brasil, que vai ocupar a Casa das Rosas, a Fundação Japão e o Sesc Avenida Paulista. Não se trata de arte, ou apenas de arte, e nem só de comunicação. O que os grupos de mídia tática exibem em São Paulo nos próximos dias são amostras das intervenções que produzem no cotidiano usando meios variados, como a internet, rádios, canais de TV universitária, cartazes de rua. Em comum, estas manifestações têm o desejo de criar táticas de intromissão nas mídias tradicionais para colocá-las em questão. O grupo A Revolução Não Será Televisionada leva para o evento displays de banca de jornal com imagens das estrelas da TV em tamanho real. As imagens ficam de costas para quem entra na sala, deixando à mostra o papelão. Quem dá uns passos adentro vê figuras conhecidas como Gugu Liberato e a ex-miss Joseane Oliveira. ?A intenção nunca foi mostrar as estrelas, mas elas são uma decorrência deste tipo de mídia?, diz Daniel Lima, integrante do grupo. Já no trabalho Mídias Mortas, criação coletiva do grupo Formigueiro, o que se vê são fitas cassete, no sistemas Betamax e U-Matic e outros suportes tecnológicos ultrapassados. Ao lado de cada um, um papel apresenta seu suposto conteúdo. Um rolo de filme 16 mm tem a seguinte legenda: ?contém as últimas imagens de Getúlio Vargas na noite de seu suicídio. Intuindo que algo de ruim poderia acontecer ao presidente, seu secretário, Gregório Fortunato, realizou tais filmagens com a câmera do Palácio do Catete.? Mas o filme está completamente deteriorado, o que torna impossível a comprovação do conteúdo que a legenda indica. Para Rachel Rosalen, que faz parte do Formigueiro, mais importante é pensar que ?os registros de uma mídia ultrapassada se perdem. Acho que a renovação tecnológica é um projeto de fabricar esquecimento, já que um registro numa mídia antiga pode se tornar impossível de ver?. O Formigueiro também cria registros inexistentes. Uma cópia do site da reviste Wired vai ser exibida na sala do grupo com ?notícias? criadas pelo grupo. Mas os adeptos da mídia tática também levam suas estratégias de guerrilha de comunicação para as ruas. O grupo Bijeri mostra, também na Casa das Rosas, os painéis que instalou no centro de São Paulo com os dizeres ?Anuncie Aqui? e ?Procura-se?. Mesmo sendo a mensagem completamente falsa, dezenas de pessoas atenderam ao reclame e anunciaram ou ofereceram coisas, sempre respeitando a ordem dada no painel. O mesmo grupo instalou bancas de troca no centro de SP anuciando que compra e vende imagens. Quem passa e quer deixar qualquer coisa, leva uma cópia de um passe de metrô que não vale nada. Para se ter uma idéia completa do que significa a mídia tática, só conferindo in loco. Mas adianta saber que os trabalhos dos diversos grupos aproveitam-se das brechas deixadas pela mídia para fazer um uso transgressor da comunicação. Um sinal é que, para vários adeptos do movimento, o caso mais exemplar de mídia tática é o 11 de setembro. Não no que teve de trágico, mas no que teve de ?pensado para a mídia?. ?O fato de que o segundo avião bateu no prédio 18 minutos depois do primeiro, já com as câmeras ligadas, indica uma grande estratégia de mídia por trás do terrorismo?, dizem Rachel e Daniel Lima. Mídia Tática Brasil - De 13 a 16 de março. Casa das Rosas e Fundação Japão: Av. Paulista, 37. Tel.: 251-5271. Sesc Avenida Paulista: Av. Paulista, 119. Tel.: 3179-3400. Entrada franca.

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