
11 de março de 2013 | 09h49
Entre as raridades estão livros que compilam a história dos países latinos em imagens, como o que trata da Revolução Mexicana nos anos 1910 e traz fotos clássicas de Pancho Villa e Emiliano Zapata. A quantidade de fotolivros de propaganda política ocupa quase uma seção da mostra, e surpreendeu o curador Horacio Fernández, historiador e professor da Faculdad de Bellas Artes, em Cuenca, Espanha. "Antes da investigação sabíamos muito de propaganda russa, nazista, mas é uma surpresa terem aparecido livros tão brilhantes cubanos, argentinos, chilenos", afirma Fernández. "Depois desta pesquisa, podemos dizer que o tema da propaganda não é particular das ideologias totalitárias dos anos 1930, mas sim de todo o século."
Os livros literários com ensaios fotográficos são um dos seis temas da exibição. O poeta Pablo Neruda selecionou fotos do peruano Martin Chambi para ilustrar os versos metafóricos que recorrem à tópica da pedra e assim justificam uma América forte - surgia o raro Alturas de Macchu Picchu (1954). Os poemas de Paranoia (1963), de Roberto Piva, fundem-se à visão alucinada de São Paulo transmitida pelas lentes de Wesley Duke Lee. Para Fernández, a obra antecipa o momento político que viria a seguir. "O livro mostra uma cidade caótica, violenta. Mas São Paulo ainda era vista como uma cidade pacífica, tranquila. Considero um livro profético, porque fala de um caos que ainda não existia." Meses depois da publicação se iniciariam os anos de chumbo da ditadura militar.
A cidade desordenada, quase impossível de se compreender, é retratada no trabalho vigoroso de Sistema Nervioso (1975), onde a fotógrafa venezuelana Barbara Brändli interpreta a cidade de Caracas como um quebra-cabeça de signos enigmáticos. A inversão de papéis entre os centros urbanos dos países ricos e pobres é a tônica de Retromundo (1984), onde o artista ítalo-venezuelano Paolo Gasparini traça dicotomias entre o visual e o real e mostra imagens que subvertem o pensamento dominante. Em seu trabalho, as cidades do "primeiro mundo" são vistas como violentas, injustas e ameaçadoras. "Ele tenta penetrar por trás da superficialidade da imagem. O mundo nos Estados Unidos e na Europa é fantasmagórico, e a realidade pertence ao campo da publicidade. Predomina o nada, o vazio", afirma o curador. "Mas se vamos à América, vemos as pessoas produzindo, pensando. Há a ideia do tato."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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