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Mostra expõe três visões sobre inconsciente e loucura

Instituto Moreira Salles inaugura exposição com fotografias de Alice Brill, desenhos de Lasar Segall e trabalhos de internos do Hospital Psiquiátrico do Juquery

Por Agencia Estado
Atualização:

Três visões sobre o Hospital Psiquiátrico do Juquery, em Franco da Rocha, compõem a exposição que o Instituto Moreira Salles inaugura amanhã em São Paulo, uma maneira de reunir um conjunto de fotografias - muitas inéditas - de Alice Brill, desenhos feitos em 1942 por Lasar Segall, que tinha especial interesse pelo tema da loucura, e trabalhos dos próprios internos que freqüentaram a Escola Livre de Artes Plásticas do hospital. Todas as obras são um registro documental e artístico de como um espaço dedicado a um tipo de terapia alternativa, a arte-terapia, pode ajudar doentes psiquiátricos a exprimir seus dramas, se desligar um pouco de seus sofrimentos por meio de desenhos, quadros e esculturas feitos a partir de símbolos de seus inconscientes. Mas a exposição, realizada em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, é, também, uma dupla homenagem. Tanto a Osório César, médico e intelectual que orientou os trabalhos realizados na Escola Livre de Artes Plásticas do Juquery, criada em 1948, quanto a Alice Brill, fotógrafa e artista plástica alemã que chegou ao Brasil menina, em 1934, fugindo do nazismo. Agora, Alice está prestes a fazer 82 anos e pinta até hoje - preferencialmente suaves aquarelas - em seu ateliê, no Sumaré. Lá, conta à reportagem suas histórias, sua saída da Europa, a chegada ao Brasil e o dia em que ganhou do pai a primeira máquina fotográfica, uma Baby-Box "que só precisava fazer clic". Tinha 12 anos. Depois, no Brasil, sobreviveu por muito tempo por meio da fotografia, tanto fazendo os conhecidos retratos espontâneos de crianças para os álbuns que confeccionava e fazia por encomenda, uma revolução na época já que as crianças eram fotografadas fazendo pose, quanto os registros de uma São Paulo entre as décadas de 30 e 60, e as imagens de seu trabalho como fotojornalista, totalizando um acervo de cerca de 14 mil negativos entregue aos cuidados do Instituto Moreira Salles por vontade da própria Alice. Duplo exemplo - Filha do pintor Erich Brill e de Marta Brill, uma espécie de jornalista que fazia matérias para a revista de uma companhia náutica alemã e que era "muito esperta politicamente", Alice diz que toda sua trajetória está atrelada ao "duplo exemplo" que teve diante dela. "Herdei tudo de meus pais, não posso dizer que fiz uma coisa só minha." Pelo pai, Alice foi estimulada a fotografar, pintar, desenhar e gravar. De sua mãe, diz que aprendeu a escrever - e ri quando diz isso. Além de sua produção artística, Alice também é reconhecida como uma teórica da arte, doutora pela USP, tendo publicado três livros: Mario Zanini e Seu Tempo; Da Arte e da Linguagem, da série Debates da Editora Perspectiva; e Sanson Flexor: Da Figuração à Abstração, premiado em 1991 pela Associação Paulista de Críticos de Artes. Alice Brill chegou ao Brasil porque sua mãe já sentia o que estava por acontecer na Europa. De família judia, Marta, em 1933, estava pensando em viver em outros países. Marta levou Alice para a Espanha, depois, para a Itália. Mas com a situação ainda complicada - seus pais eram separados -, Marta pensou em tentar o Brasil. Enquanto Alice ficou com o pai na Alemanha, Marta veio a São Paulo arrumar uma vida para as duas. No ano seguinte, Erich Brill trouxe a filha para ficar com a mãe. Alice iniciou sua carreira artística acompanhando, na década de 40, o grupo Santa Helena, formado por Alfredo Volpi, Francisco Rebolo e Mario Zanini, entre outros artistas. Depois, entre 1947 e 1948, ganhou uma bolsa de estudos para estudar arte nos EUA. Quando voltou a São Paulo, foi mais fotógrafa do que pintora pela falta de dinheiro, trabalhando, até a década de 60, com fotorreportagens. Foi nesse período que retratou a arquitetura paulistana para a extinta revista Habitat, além de outros registros pedidos pelo professor Pietro Maria Bardi. As fotos da mostra no Instituto Moreira Salles fizeram parte de uma de suas primeiras reportagens, nos anos 50. "É muito comum que alguns desses pacientes-artistas sejam vistos e reconhecidos individualmente e essas fotografias de Alice Brill mostram o conjunto, como eram realmente todas as pessoas que freqüentavam o ateliê", analisa Antonio De Franchesi, diretor do Instituto. Arte e Inconsciente: Três Visões sobre o Juquery - Fotos de Alice Brill, desenhos de Lasar Segall e obras de pacientes internados. De terça a sexta, das 13 às 19 horas; sábado e domingo, das 13 às 18 horas. Instituto Moreira Salles. Rua Piauí, 844, São Paulo, tel. 3825-2560. Até 17/11. Abertura, amanhã (29), às 20 horas.

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