Mostra explica o Brasil na Espanha

Com temas como fé, sonho, ócio e fome, exposição Ressonâncias, em Santillana del Mar, inclui desde obras barrocas até instalações

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Por Agencia Estado
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A exposição multimídia Ressonâncias do Brasil vai explicar o País para os mais de 100 mil turistas que são esperados em Santillana del Mar no verão europeu. A cidade fica no norte da Espanha, perto de Bilbao, capital do País Basco, e do Oceano Atlântico, uma das regiões mais visitadas daquele país. A mostra foi encomendada ao videomaker Marcello Dantas pela Fundação Santillana, braço cultural do grupo editorial Prisa, proprietário do jornal El País, que há cerca de um ano adquiriu a editora Moderna/Salamandra, para fincar seu pé no Brasil. "Era uma tarefa imensa, dada a quantidade de temas que comporta. Não camuflei nossos problemas, mas evitei o carnavalesco e as más notícias que cercam o Brasil", conta Dantas. Ele faz a curadoria a convite da produtora Arte Viva, de Frances Marinho, que trouxe a mostra do barroco espanhol há dois anos e tem outra sobre a arte castelhana do século 18 agendada para julho. Dantas levou um ano para conceber e realizar a exposição. "Dividi em módulos representando os sentimentos que são a mola propulsora da atividade cultural brasileira. A música costura tudo por ser nossa linguagem mais universal." Ressonâncias do Brasil será montada na Torre don Borja, castelo medieval da cidade de 2 mil habitantes, que recebe milhares de turistas durante o verão, por juntar a proximidade dos balneários do Atlântico espanhol com o clima ameno de montanha. A comunidade local estará envolvida com o projeto, a partir da fachada do castelo, que terá painéis situando o Brasil para o europeu, contando nossa história com reproduções de obras de arte. Dentro, os seis módulos - intitulados Fé, Sonho, Celebração, Ócio, Fome e Liberdade - reúnem obras feitas especialmente para a mostra, vídeos antigos e novos de Dantas e peças fundamentais da arte brasileira. "Juntei, no núcleo Fé, o São Sebastião Índio, obra do barroco fluminense, com uma peça de Mestre Didi, artista e sacerdote das religiões afro-brasileiras. Para falar de ócio, coloquei redes em que o público vai se deitar enquanto vê no teto fotos e projeções de Pierre Verger, retratando pessoas ocupadas em não fazer nada", adianta Dantas. "O Arthur Omar refez, em cores, a instalação Antologia da Face Gloriosa para o núcleo Celebração, enquanto o Marco Antônio Guimarães, do Uakti, criou uma escultura sonora para abrir a mostra." Entre as peças de colecionadores estão um dos Bichos da neoconcretista Lygia Clark, fotos do Brasil feitas pelo francês Marcel Gautherot, e a escultura O Impossível, da surrealista Maria Martins. "Quis ainda retratar a liberdade com o tropicalismo e a revolução cultural ocorrida nos anos 60, e abordei a fome, mostrando a capacidade que o brasileiro tem de fazer sua arte a partir das próprias carências. Nesse módulo, filmei artistas de vários lugares, como o grupo Bagunçaço, da Bahia, e o chorão Beto Cazes, que fazem percussão a partir dos materiais mais variados", conta o curador. "Consegui fugir do folclórico e mostrar um Brasil orgânico e tecnológico, tal como somos." Dantas não espera esgotar o assunto Brasil com a exposição, centrada na produção cultural do século 20, pois, segundo Frances Marinho, a intenção é mostrar um Brasil contemporâneo. A exposição fica em Santillana durante o verão europeu (até setembro) e depois viaja pela Europa (mais duas cidades da Espanha, Roma, Lyon e Lisboa) e deve aportar no Brasil no ano que vem. "Essa foi a forma de a Prisa chegar ao Brasil, pois nosso interesse é criar raízes e não apenas aproveitar bons negócios", conta o representante da holding espanhola e correspondente no Rio do El País, Juan Árias, que vive no Brasil há quatro anos. O investimento na exposição foi de US$ 1 milhão (cerca de R$ 2,6 milhões) e a empresa pretende investir mais ainda na área de comunicação. "Já temos braços em todos os países latino-americanos e nosso próximo passo será criar uma rede pan-americana de rádio. Mas antes de nos estabelecermos aqui, era preciso fazer os espanhóis conhecerem e amarem o Brasil. Esse é o objetivo dessa exposição."

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