Mostra em Paris recupera meio século de produção fotográfica brasileira

Mostra 'O Elogio da Vertigem - Coleção Itaú de Fotografia Brasileira' coloca em diálogo o modernismo da fotografia nacional

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Por Redação
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PARIS - Uma história recente da fotografia brasileira traçada em espirais: é possível, por exemplo, relacionar a repetição das formas e sombras das flores em Anturius Cruzadus fotografados em 1960 por German Lorca com a imagem colorida da série Desejo Eremita, do artista Rodrigo Braga, de 2009, na qual aparece, em primeiro plano, um amontoado de orelhas de bois? A mostra O Elogio da Vertigem - Coleção Itaú de Fotografia Brasileira, que se abre hoje para o público na prestigiada Maison Européenne de la Photographie (MEP) de Paris, coloca em diálogo o modernismo fotográfico brasileiro das décadas de 50 e 60 com obras contemporâneas justamente para "criar faíscas", como diz o curador Eder Chiodetto, e ressaltar o "experimentalismo" tupiniquim.É uma visão "de risco", afirma Chiodetto, misturar dois períodos da produção fotográfica no Brasil separados pelo "hiato" da Ditadura Militar, podadora de uma efervescência experimental das criações formais, especialmente pelos integrantes do então Foto Cine Clube Bandeirante (Lorca, Thomaz Farkas, Geraldo de Barros), ou pelo carioca José Oiticica Filho. "Trata-se de uma orquestração mais poética do que voltar a restituir a história de uma maneira linear", diz Chiodetto.Como se vê em O Elogio da Vertigem, que ficará em cartaz até 25 de março, a ressonância de uma vontade de "testar os limites da fotografia", elementar nas imagens modernistas, se faz nas obras do fim dos anos 1980 em diante de uma maneira diferente. Não como uma "filiação direta" do modernismo, explica o diretor da MPE, Jean-Luc Monterosso, mas como uma "questão de pele" relacionada a uma criatividade brasileira."O Brasil e a América Latina têm uma tradição documental apresentada na Europa de uma maneira que me incomoda, a partir de um olhar hegemônico, perverso e repleto de clichês", afirma Chiodetto, chamando atenção para o apelo que se faz de imagens de cunho social. O Elogio da Vertigem traça, assim, um panorama da fotografia brasileira por meio de cerca de 90 imagens que incorporam o onírico e a subjetividade com semente conceitual. "Temas como a pobreza, a escravidão e o regionalismo são subvertidos da visão historicista para chegar à questão da transcendência", diz o curador, destacando o território do mito nos retratos de Mario Cravo Neto ou a fusão da temática indígena com a representação de uma ideia de cosmos nas obras de Claudia Andujar.

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