PUBLICIDADE

Mostra e livro revisitam obra de Pennacchi

Exposição na Dan Galeria e livro Pennacchi - Pintura Mural destacam a fértil e inventiva produção do italiano radicado em São Paulo nos anos 20

Por Agencia Estado
Atualização:

Um dos principais expoentes da arte paulista da primeira metade do século 20, o artista italiano Fulvio Pennacchi tem sua obra revisitada por livro e exposição, que serão lançados amanhã à noite na Dan Galeria, em São Paulo. Essas iniciativas enfatizam a produção mural do artista, que se notabilizou pelos impressionantes murais em que conciliou a tradição artística de sua terra natal e o desejo de retratar o cotidiano e os hábitos simples dos camponeses, sejam eles italianos ou paulistas. Por coincidência - ou como prova de que a história da arte paulista do século 20 começa a despertar cada vez mais o interesse da crítica e do público -, também é possível ver alguns exemplos da produção de Pennacchi na exposição Operários na Paulista, que traz na Galeria do Sesi uma mostra do trabalho dos artistas artesãos de origem européia, principalmente italiana, que se uniram no que mais tarde se intitulou de grupo Santa Helena (nome do palacete em que se reuniam, no centro da cidade). A importância de Pennacchi neste grupo é indiscutível. Além de ter uma certa tranqüilidade econômica - ao chegar ao País em 1929, em plena crise do café, ele monta um açougue para garantir sua subsistência e é "descoberto" alguns anos depois pelo escultor Galileo Emendabili por meio dos desenhos que viu nos papéis de embrulho que usava no estabelecimento O Boi de Ouro -, ao contrário de vários de seus companheiros de jornada, Pennacchi não era um artesão autodidata. Ele tinha uma formação artística, tendo freqüentado a Real Academia de Arte de Lucca, sua cidade natal. Formação essa que está na base da sofisticação compositiva e técnica que se pode ver em seu trabalho, cujo caráter por vezes ingênuo não tem nada a ver com precariedade, mas com o que Valerio Antonio Pennacchi, autor de Pennacchi - Pintura Mural, chama de "linguagem conciliatória entre o clássico ou o moderno". Apesar da coincidência nos nomes, convém ressaltar que não há nenhum vínculo familiar entre o artista e o pesquisador. A obra, no entanto, contou com o apoio decisivo da filha do pintor, Giovanna Pennacchi, responsável pela pesquisa exaustiva da obra mural de seu pai, morto há dez anos. O fato de suas pinturas murais a óleo ou seus afrescos terem sido feitos basicamente para casarões construídos na primeira década do século passado torna essa pesquisa - e o que não dizer da conservação das obras - algo extremamente difícil, que requer soluções criativas como a transferência de paredes inteiras para outros locais (solução que só é viável com a colaboração dos proprietários). Apesar dos efeitos nefastos do tempo e da modernização, ainda há trabalhos de Pennacchi que podem ser admirados in loco como A História da Imprensa, de 1938, que se encontra atualmente no Tribunal Regional do Trabalho (antigo edifício A Gazeta) ou os trabalhos feitos para a Igreja Nossa Senhora da Paz (1941/1943), exemplo perfeito da profunda religiosidade da obra do artista, que, segundo Pietro Maria Bardi, era "o único pintor de afrescos no Brasil, só comparável aos grandes mestres da antiguidade". Quem quiser ter uma idéia de sua fértil e inventiva produção - que inclui não apenas os murais, mas a pintura, o desenho e a cerâmica - sem ter de deslocar-se Estado afora, poderá fazê-lo visitando a exposição organizada pela Dan Galeria com obras da galeria e da família. Lá estão estudos e telas de vários projetos, como o das festas de São João ou do cozimento do pão, exemplos visuais do interesse de Pennacchi pelo cotidiano popular. "Gosto de gente simples, como os operários, os colonos, os pedreiros e os bêbados", dizia. Fulvio Pennacchi. De segunda a sexta, das 10 às 19 horas; sábado, das 10 às 13 horas. Dan Galeria. Rua Estados Unidos, 1.638, São Paulo, tel. 3083-4600. Até 10/10. Inaugura amanhã, às 18h30, com lançamento do livro Pennacchi - Pintura Mural, de Valério Pennacchi. Editora Metalivros.R$ 48,00. 128 páginas. Patrocínio: Grupo Tejofran.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.