Mostra destaca a fotografia moderna brasileira

Exposição reúne 116 imagens, quase a totalidade de fotografias modernistas brasileiras do Acervo Itaú

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Por Camila Molina
Atualização:

“O grande assunto do modernismo é a forma”, diz o fotógrafo Iatã Cannabrava, curador da mostra Moderna Para Sempre, que será inaugurada  no Itaú Cultural. A exposição reúne 116 imagens, quase a totalidade de fotografias modernistas brasileiras do Acervo Itaú, segmento colecionado pela instituição desde 2007. São obras – 40 delas, cópias vintage – datadas entre as décadas de 1940 e 70, assinadas por criadores como Thomaz Farkas, Geraldo de Barros, German Lorca, José Oiticica Filho, José Yalenti, Georges Radó e Eduardo Salvatore. “O fotógrafo moderno é um ser curioso, preciosista, urbano, excelente laboratorista e estudioso da técnica e da estética fotográfica”, define Cannabrava.

 

 

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A construção geométrica dá o tom das imagens modernistas, como define Iatã Cannabrava, que arrisca definir a escola paulista – ou a experiência dos integrantes do Foto Cine Clube Bandeirante, fundado em São Paulo em 1939 – como exponencial da fotografia moderna brasileira. Segundo o curador, mesmo os fotógrafos de outras cidades do Brasil, como o carioca José Oiticica Filho, estiveram em contato intenso com os fotocineclubistas paulistas. “É uma coleção com cara de São Paulo”, diz Cannabrava.

Há muita experimentação formal nas imagens do período representado na exposição, mas também a aparição natural de temas como a urbanidade, a indústria e a arquitetura, explica o curador. Afinal, a fotografia moderna também era documental, nasceu para “registrar os avanços, o sucesso da revolução industrial”, define Cannabrava, que lembra ainda da “conversa com a arte moderna” – como Paul Klee e Calder – promovida pelos fotógrafos em suas criações.

Muita geometria, poucos homens nas imagens modernistas, mas é possível ver a presença humana no trabalho de Ademar Manarini, Paulo Pires – autor de Construtores e Asfalto – e em uma das imagens icônicas da coleção de fotografia moderna do Itaú, Paralelas e Diagonais (1950), de José Yalenti, por exemplo. Aliás, a obra de Manarini (1920-1989), “um clássico contaminado pelo moderno”, como afirma o curador, tem sido uma das últimas grandes novidades do acervo.

Já na entrada da exposição, que ocupa apenas o primeiro piso do prédio do Itaú Cultural, estão os trabalhos do fotógrafo natural de Campinas, representado na coleção por 10 peças. “Ele rompeu menos, mas era um grande operador do ofício da fotografia, criador de obras que têm algo de documental, que se assemelham ao modernismo mexicano”, afirma Cannabrava. Uma das obras de Manarini, vale destacar, traça diálogo com a pintura de Alfredo Volpi de maneira curiosa – as formas de “bandeirinhas” das telas do artistas parecem transpostas para as paredes brancas pelas sombras do local registrado em 1950 pelo fotógrafo.

Entre os mais “experimentadores”, dois expoentes, Geraldo de Barros (1923-1998) – integrante do Foto Cine Clube Bandeirante, representado por trabalhos de sua importante série, Fotoforma, entre outras – e José Oiticica Filho (1906-1964), autor de uma bela obra como Estudo com Cálices (1950). São dois criadores que já eram bem valorizados no mercado antes mesmo do interesse recente no mercado, segundo Iatã Cannabrava, pela fotografia moderna brasileira. “É um segmento que há sete anos não valia nada”, conta o curador, que tem contribuído com seu olhar na criação do acervo do Itaú. “Muita coisa está nas mãos das famílias dos artistas, como a de Yalenti e Manarini, mas algumas coisas foram compradas em leilões também”, conta ainda.

Moderna Para Sempre vai misturando as obras dos fotógrafos – German Lorca é dos poucos com trabalhos agrupados em um mesmo painel –, traça um “jogo geométrico em branco e preto”. “A exposição é como se fosse feita por dois ou três fotógrafos”, define Iatã Cannabrava, já que a procura pela “unicidade” era uma busca dos criadores perfeccionistas modernos, interessados em “aprimoramento matemático” quando construíam suas composições.

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Mas a exposição, que depois vai itinerar para o Peru, também reúne criações feitas a partir de formas orgânicas e trabalhos de cunho surrealista. Traz ainda, entre suas recentes aquisições, algumas experiências de laboratório interessantes, como a obra A Folha Morta (1953), de Gertrudes Altschul.

MODERNA PARA SEMPREItaú Cultural. Av. Paulista, 149, 2168-1776. 3ª a dom., 9 h/20 h (sáb. e dom., 11 h/20 h. Grátis. Até 9/3. Abertura amanhã, 11 h.

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