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Mostra dedicada à Niemeyer estréia nos EUA

Washington é a primeira das oito capitais que irão receber a exposição.

Por Bruno Accorsi
Atualização:

Washington é a primeira parada de uma mostra que levará a obra de Oscar Niemeyer a oito capitais mundiais diferentes. Mas, como de praxe, o arquiteto, que completará 101 anos em 15 de dezembro, não irá vencer seu notório medo de avião para prestigiar a exposição dedicada à sua obra. A exibição foi inaugurada nessa semana na capital americana, no Museu de Arte das Américas. De Washington, onde fica em cartaz até o dia 26 de outubro, a exposição, que abarca diversas fases da obra de Niemeyer, seguirá para Caracas, na Venezuela, onde será inaugurada no dia 1º de dezembro, em um evento que contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Através de maquetes, esboços e fotos, a mostra oferece um retrato dos diferentes momentos da obra do arquiteto. De Pampulha ao futuro ''Queremos mostrar Pampula e Brasília, mas também as coisas mais novas'', conta o curador da exposição, Marcus Lontra. Para Lontra, se com 99 anos Niemeyer é capaz de fazer ''uma coisa dessas'', diz, em menção ao projeto das torres de TV digital de Brasília, criado em 2007, ''é um sinal de que existe uma loucura intrínseca à obra dele''. O curador acrescenta que essa loucura seria ''a mesma inquietação de um Picasso, Monet ou Matisse'', gênios artísticos que seguiram criando compulsivamente mesmo após terem atingido idades avançadas. ''Se você vai ao escritório de Oscar, ele só quer falar de seu último projeto.'' Lado a lado com as indispensáveis e minuciosas descrições da construção de Brasília, a obra-mestra do arquiteto, e registros de suas peças iniciais, como o Painel de Azulejos de Athos Bulcão, estão obras que mostram o momento atual de Niemeyer e que ainda nem saíram do papel. É o caso do Monumento a Bolívar, a ser erguido em Caracas, assinado em 2006, ou do Centro Cultural Principado de Astúrias, em Avilés, na Espanha, esboçado no ano passado. Distância e identificação Para o curador, há um distanciamento entre Niemeyer e o público americano, mas um forte potencial de identificação. Parte da distância, no entender de Lontra, se deveria à ideologia do arquiteto, que segue sendo um marxista-leninista, mesmo após o colapso do império soviético. ''Nos anos 70, ele ganhou um visto de apenas cinco dias para ir aos Estados Unidos e brincou dizendo: 'Fico muito feliz que eu continue o mesmo e que os Estados Unidos também continuem os mesmos'.'' Mas o arquiteto também realizou diversas obras nos Estados Unidos. Desde o Pavilhão do Brasil para a Exposição Mundial de Nova York, de 1939, até a residência projetada por ele em 1964, a Casa Strick, situada em Santa Mônica, na Califórnia. Marcus Lontra acredita que há fatores culturais que podem contribuir para o espectador americano se identificar com a obra de Niemeyer. ''Esteticamente, a contribuição de Niemeyer é americana, ela não se limita a ser latino-americana. Ambos somos países novos, formados por levas de imigrantes. Ele é a referência de um postulado estético criado no Novo Mundo'', afirma. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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