Mostra de SP homenageia a atriz Claudia Cardinale

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Por AE
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Quando garota, em Túnis, Claudia Cardinale queria ser menino. "Vivia na rua, brincando e brigando. E não falava." Depois, de tanto forçar as cordas vocais, sua voz adquiriu a rouquidão que se tornou uma das características de sua persona cinematográfica - e que grandes diretores como Luchino Visconti souberam usar tão bem. Claudia, 73 anos, está em São Paulo. Veio para a Mostra Internacional de Cinema, que a homenageia, além de exibir dois filmes. "Era Uma Vez no Oeste", de Sergio Leone, é um marco da tendência chamada de spaghetti western, e passa na versão restaurada, com aquela trilha de Ennio Morricone. O outro é "O Gebo e a Sombra", o novo Manoel de Oliveira."Faço uma mãe que vive à espera do filho pródigo. Há uma revelação decisiva sobre o caráter desse filho", ela define sua personagem. E como é trabalhar com um diretor de 100 anos? "104", ela corrige. "Manoel tem mais energia que nós dois juntos. É um esportista. O filme foi rodado em 25 dias. Câmera fixa, tomadas longas, como no teatro. Ele ficava modelando a voz da gente, os gestos. E todo dia, antes de se encerrar no estúdio, ele nadava."E Leone? "Faço uma personagem tradicional do western, a p... de bom coração. O que mais posso dizer? Sergio filmava a gente em câmera lenta. A câmera parecia perscrutar o rosto da gente. Ele buscava uma música interior, sobre a qual colocava a música de Morricone." Claudia não gosta de viver no passado, mas sabe que pertence a uma época de ouro do cinema italiano. Filmou com os maiores - Luchino Visconti, Federico Fellini, Valerio Zurlini, Luigi Comencini. O próprio Mauro Bolognini, considerado um Visconti menor, era um esteta e ela ama "Caminho Amargo", em que dividia a cena com Jean-Paul Belmondo. "É um filme que permanece inteiro, muito bonito", avalia.Alguns dos homens mais belos do mundo foram seus companheiros de elenco - Alain Delon, Alain Delon, Alain Delon. "Quando filmamos a cena do beijo em ''O Leopardo'', Luchino (Visconti) me chamou no canto e disse que seria um plano próximo e que ele queria ver minha língua entrando na boca de Alain." Ela conta e ri, como se fosse uma travessura. "Sempre fui pela superioridade feminina. Luchino era gay assumido. Gostava de explorar minha força."Seus ídolos, quando começou, no fim dos anos 1950, eram Brigitte Bardot e Marlon Brando. OK, ela não vive no passado, mas se arrepende de algumas coisas que não fez. Era frequente atores como Delon e Belmondo tentarem seduzi-la. Na primeira vez que foi aos EUA, Marlon Brando chegou no quarto do hotel com flores e champanhe. Ela o dispensou, mas quando fechou a porta, admite que pensou. "Sono una stronza", como sou burra. Claudia possui um currículo impecável de grandes filmes, mas pode colocar nele, também, que disse não para o homem que encarnava, na época, a sedução de Hollywood. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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