Mostra de SP exibe documentários de Sergei Loznitsa

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Por AE
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É a segunda vez de Sergei Loznitsa no Brasil e a primeira em São Paulo. Antes da retrospectiva na Mostra Internacional de Cinema, já houve outra de sua obra documentária e ficcional no Recife. Loznitsa ficou amigo do curador - o crítico e cineasta Kleber Mendonça Filho. Ele viu o filme de Kléber, "O Som ao Redor"? "Só a metade, porque deu pane no sistema digital e a projeção foi interrompida." Estava gostando muito. Loznitsa conversa com a reportagem num hotel da Alameda Santos. Fica lisonjeado quando o repórter lhe transmite o elogio de Andrei Andreiévitch Tarkovski. O filho do grande diretor disse que Loznitsa é o autor que melhor espelha o que é hoje a Rússia pós-comunista. "Ele disse mesmo isso?", Loznitsa pergunta.A Mostra exibe agora seus documentários e as duas ficções. Pela primeira, "Minha Felicidade, My Joy", ele ganhou o prêmio da crítica da Mostra em 2010. Pelo segundo, "In the Fog, Na Neblina", venceu o prêmio da crítica de Cannes, em maio. "Não faço filmes para ganhar prêmios, mas é muito bom obter reconhecimento", admite. Ser um crítico do regime do czar Vladimir Putin cria problemas. "Quando apresentei Minha Felicidade ao comitê de financiamento do cinema, eles foram logo dizendo que desistisse. O filme não ganharia um centavo do comitê." "My Joy" foi feito com dinheiro da Alemanha e Ucrânia, onde ele nasceu. "In the Fog" ganhou dinheiro na Rússia somente depois de haver sido filmado.Loznitsa reside em Berlim, mas filma na Rússia. Embora não se sinta em perigo, admite que a trajetória de muitos oposicionistas de Putin tem sido interrompida à bala. Por que, depois de um filme sobre a Rússia pós-comunista, outro sobre a Rússia ocupada pelos alemães, durante a 2.ª Grande Guerra? "A história da ocupação e da resistência foi sempre mal contada pelo cinema e pela historiografia oficial, mas explica muita coisa que se passou depois, no contexto do stalinismo e da Guerra Fria", ele resume.Há dez anos Loznitsa sonhava adaptar o romance do bielo-russo Vasyl Bykov. No país ocupado, um homem suspeito de ser agente duplo vai ser executado, mas um de seus captores (são dois) é atingido por um tiro. Como em "Minha Felicidade", Loznitsa cria uma metáfora poderosa. Durante boa parte da narrativa, o personagem carrega um morto. E há a neblina do título. O peso morto - que evoca o Richard Burton de "Amargo Triunfo", mas Loznitsa diz que não viu o filme famoso de Nicholas Ray - e a neblina configuram uma crítica à maneira como os russos ainda veem a 2.ª Guerra. Vem do livro?"Digamos que estejam lá, como muitas outras coisas que também coloquei no filme. Mas não estão na mesma ordem nem têm a mesma importância. Como adaptador, escolhi o que me interessa para falar de temas que considero relevantes. As escolhas morais, o comprometimento é que movem." Loznitsa demorou em torno de um ano e meio para fazer cada filme. Quando escreve o roteiro, ele já pensa na filmagem - e na edição. Sua estética privilegia o plano-sequência. "Quando os resistentes emergem da florestas, eu poderia fazer a cena cheia de cortes, mas prefiro o plano-sequência. O que ele me dá? A concentração do tempo."Seu próximo filme, na Bielo-Rússia, de novo após a 2.ª Guerra, será sua experiência mais radical. "Vou contar várias histórias sem um protagonista." Será um projeto de risco. "Poderei afundar, com meus investidores. Mas estamos excitados, e a as pessoas que vão fazer o filme comigo estão acreditando no projeto." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.NA NEBLINACine Sabesp - segunda, 21h40Faap - terça, 15hEspaço Itaú Frei Caneca - 4ª, 21 h; 5ª, 14 h.

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