Moscheta traz o céu para a capela

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Por Redação
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Em caixas de bombom de acrílico transparentes e iluminadas, Marcelo Moscheta condensa a representação onírica de nuvens usando apenas flocos de algodão. É uma obra de dimensão reduzida, que já encantou o público na mostra do programa Rumos Itaú Artes Visuais, em 2009. Agora, na exposição que ele acaba de inaugurar na Capela do Morumbi, o céu se expande em um painel de chapas de aço, desenhado a camadas de pó de grafite, no fundo da sala. A paisagem ? ou a natureza ? é tema recorrente na produção do artista, assim como a raiz de uma ação simples e pura, engajada em nos revelar um prazer estético e simbólico.Verdade também que uma curiosa característica dos trabalhos do jovem Moscheta é a proporção tão realista de seus desenhos sobre chapas de metal ou mesmo das caixas com algodão, o que faz remeter a um limiar de fotografia (e ele se baseia em imagens fotográficas para criar suas obras).Na instalação Contra Céu, na Capela do Morumbi, o grande desenho inclinado, de atmosfera alvinegra e cinza ? como se fosse uma enorme fotografia em preto e branco ? condiciona o espectador a um embate de si com a grandeza da natureza, tal era esse um dos temas principais do romantismo na pintura. Afinal, é no confronto entre a paisagem e sua representação que o homem "pode aspirar a uma condição de transcendência", como define o crítico Guy Amado. E essa é a questão na trajetória de Moscheta.Resposta. Contra Céu é um site specific, ou seja, obra que parte da relação com um lugar específico. A Capela é um espaço pequeno, que, pertencente à chamada Fazenda do Morumbi, conserva o aspecto de ser quase um local arcaico, com suas paredes com resquícios de taipa, partes de tijolos e afrescos pintados por Lúcia Suanê ? tanto que é tombada pelo Departamento do Patrimônio Histórico. O espaço, unidade do Museu da Cidade, da Prefeitura, vem abrigando instalações contemporâneas criadas por artistas convidados.Sendo assim, o desafio de Moscheta, que dia 22, às 14 horas, participará de encontro com o público na exposição, foi o de "trazer o céu", ao mesmo tempo, para o chão e para um lugar sagrado (a obra fica onde seria o altar da capela). "Um céu construído num jogo ilusionista que vai se descortinando à frente dos olhos de quem se aproxima ou se afasta da estrutura", descreve Amado. E, dependendo de onde se olha a obra, acrescenta o crítico, o trabalho chega a ser até abstrato. Como parte da mostra, ainda, a peça das nuvens condensadas nas caixas de bombom está na Capela, repousando embaixo de um afresco. / C.M.

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