Morre o humorista Ronald Golias

Internado desde o dia 8 devido a uma infecção generalizada, o humorista, de 76 anos, morreu durante a madrugada Veja a galeria de fotos Leia repercussão Ouça cena de Golias com Hebe Camargo I Ouça cena de Golias com Hebe Camargo II Ouça a canção Televisão, dos Titãs

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Por Agencia Estado
Atualização:

O humorista Ronald Golias morreu durante a madrugada desta terça-feira no Hospital São Luiz, na zona sul de São Paulo, às 5h30, por insuficiência de múltiplos órgãos. Golias tinha 76 anos e foi internado no dia 8, com infecção generalizada decorrente de uma infecção pulmonar. O velório acontece de hoje até as 9h30 de amanhã, na Assembléia Legislativa. O sepultamento será no Cemitério do Morumbi, por volta das 11 horas de amanhã. "Ô, Cride, fala pra mãe...". Com esse bordão o personagem Pacífico foi eternizado pelo humorista Ronald Golias na Praça da Alegria, de Manoel de Nóbrega, em 1956, na TV Record. O programa foi precursor da Praça é Nossa, atualmente no ar, no SBT, com o filho do Manoel, Carlos Alberto de Nóbrega, no comando. Golias foi homenageado pela banda Titãs, que na música Televisão incluiu o bordão "ô Cride, fala pra mãe!". Um dos maiores humoristas brasileiros, Golias foi alfaiate, funileiro e participou do grupo de acrobacias aquáticas Aqualoucos. Nasceu em São Carlos, interior paulista, em 4 de maio de 1929. Entrou na televisão pelas mãos de Manoel de Nóbrega, que o conheceu na Rádio Nacional, em 1940. Nunca mais saiu do universo televisivo do humor nacional. Mas foi no clássico Família Trapo que Golias eternizou sua melhor performance, a do Bronco, personagem nascido Carlos Bronco Dinossauro, e que Silvio Santos mandou ressuscitar no seriado Meu Cunhado, exibido até pouco tempo atrás pelo SBT. Foi Golias quem deu a Silvio Santos o apelido de ?Peru?. É que Senor Abravanel, um pouco pela timidez, um pouco pela hipersensibilidade à luz, corava diante das colegas de trabalho que o acompanhavam em suas caravanas. Manoel de Nóbrega criou daí a ?caravana do Seu Peru? - anos depois, o apelido seria anulado pelo título de Homem do Baú. Em abril de 2004, estreou na rede de Silvio Santos o programa Meu Cunhado, protagonizado por ele, ao lado de Moacyr Franco, e que vinha sendo gravado havia mais de um ano. Na época da estréia, Golias sofreu uma cirurgia para a implantação de um marca-passo no coração, no Hospital Sírio-Libanês. Em maio, voltou a ser internado, em razão de um coágulo no cérebro. E, desde então, seu estado de saúde vinha se apresentado delicado. O programa, que estreou com 52 episódios já gravados, foi um dos últimos títulos a render mais de 20 pontos de média no ibope ao SBT. Meu Cunhado foi uma encomenda do dono do SBT a Moacyr Franco, baseado em um seriado argentino. Com um detalhe: na versão original, o cunhado do título era um sujeito de 22 anos. E Silvio Santos passou a bola a Moacyr apenas com essa ressalva: o cunhado, aqui, teria de ser o Golias. Tudo em torno de Golias. Assim tinha de ser, assim foi. Família Trapo Na Família Trapo (foto ao lado), com Zeloni, Renata Fronzi e Jô Soares, nos anos 1960, já era assim. Título dos tempos áureos da Record, a sitcom é referência na história da TV brasileira e serviu de fonte para várias comédias de situação que vieram nas décadas seguintes, incluindo o Sai de Baixo, produzido durante cinco anos pela Globo - só para citar um exemplo mais recente. No cinema fez dez filmes - poucos, considerando o tempo e o potencial de carreira: Golias Contra o Homem das Bolinhas (1969), Agnaldo, Perigo à Vista (1968), Marido Barra Limpa (1967), O Homem Que Roubou a Copa do Mundo (1963), Os Cosmonautas (1962), O Dono da Bola (1961), Os Três Cangaceiros (1961), Tudo Legal (Bronco) (1960), Vou Te Contá (1958), Um Marido Barra Limpa (1957). Hábitos solitários De hábitos solitários, Golias tinha como endereço uma das ruas mais requisitadas de móveis de São Paulo, a Gabriel Monteiro da Silva, mas, ironicamente, não prezava a mobília sob seu teto. Os poucos amigos que o visitavam achavam graça na ausência de cadeiras, sofá ou estantes no recinto. Na profissão, o fôlego era mesmo de iniciante. Em 2003, quando acompanhou as gravações de uma segunda versão cômica para o clássico Romeu e Julieta, com Hebe Camargo e Golias, a repórter Niza Souza, do Estado, constatou que Golias não era, nos bastidores, o palhaço inconseqüente que exibia diante das câmeras. Perfeccionista, preocupava-se com cada detalhe, perguntando a todo instante se a cena gravada havia ficado boa, e interferindo no roteiro, sutilmente, se preciso fosse para melhorar o resultado. Max Nunes, o famoso redator de humor que há anos acompanha Jô Soares, já disse que se há um personagem que ele gostaria de ter criado este é Bartolomeu Guimarães, ?aquele velhinho que Ronald Golias fazia?. Mas Nunes, em entrevista a Leila Reis há dois anos, já dizia também que esse tipo de humor, o humor de personagens, vai acabar. ?A TV não se interessa mais pelo humor, só se interessa por esses programas americanos?, lamentou Nunes. É um humor em extinção. Agora, com um Golias a menos na tela - e vê-se aí que não procede aquele negócio de que ninguém é insubstituível -, definitivamente em extinção.

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