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Morre nos EUA o diretor Robert Mulligan

Por AE
Atualização:

Há quase 20 anos que você não ouvia falar de Robert Mulligan, exceto pelas reprises de seus melhores filmes na TV. No sábado, o diretor morreu de problemas do coração, aos 83 anos. Robert Mulligan não era aquilo que você chamaria um mestre. No Brasil, houve um momento em que ele chegou a ser ridicularizado por ?ousar? haver feito "Meu Adorável Fantasma", remake hollywoodiano de "Dona Flor e Seus Dois Maridos", e com Sally Field, a noviça voadora, no papel de Sonia Braga, ainda por cima. Esqueça este pecado, e outros que ele possa ter cometido. Os melhores momentos da carreira de Mulligan compensam as imperfeições associadas ao seu trabalho. Não faz muito tempo, o American Film Institute fez uma enquete com jornalistas, críticos, diretores e formadores de opinião para saber quem era o maior herói do cinema de Hollywood. O vencedor foi Atticus Finch, o advogado que Gregory Peck criou num filme de Mulligan, e que lhe valeu o Oscar de ator de 1963. O filme chama-se "O Sol É para Todos", no original é "To Kill a Mockingbird", e foi adaptado do romance homônimo de Harper Lee. Foi o único romance que ela escreveu, sobre um advogado sulista que dá lições de cidadania aos filhos ao defender um negro acusado de crime - e ameaçado de linchamento - numa cidadezinha racista do sul dos EUA. O filme é do começo dos anos 60, uma década que assistiria à luta dos afro-americanos por direitos . Mulligan pertence à geração que a TV cedeu a Hollywood, lá pelos anos 50. O primeiro longa foi "Fear Strikes Out", em 1957, com Anthony Perkins como um jogador de beisebol que precisa superar uma doença para ser aceito na Liga. Seguiram-se filmes variados, e até anódinos - a comédia "Quando Setembro Vier", com a dupla Rock Hudson/Gina Lollobrigida -, antes que Mulligan achasse o seu tom, com "O Sol É para Todos". Quase sempre em parceria com o produtor - e futuro diretor - Alan J. Pakula, ele fez na seqüência filmes como "O Preço de Um Prazer", "O Gênio do Mal", "À Procura do Destino", "Subindo por Onde Se Desce". Com exceção do terceiro, com Natalie Wood como uma estrelinha de Hollywood que se rebela contra o estúdio, os demais são todos sobre pessoas comuns. Uma balconista (Natalie Wood, de novo) que descobre estar grávida, um sujeito desajustado, uma professora idealista às voltas com alunos problemáticos. Mulligan faz um cinema honesto, crítico, mas um tanto limitado. Ninguém ousaria dizer que é um grande diretor. E aí, no final dos anos 60 e início dos 70, algo se passa. Ele, que parecia o menos indicado para isso, realiza três grandes filmes de gêneros - o romântico "Houve Uma Vez Um Verão (Summer of 42)", o poderoso western "A Noite da Emboscada" e o terror "A Inocente Face do Terror". São três grandes, três imensos filmes. E diversos um do outro. O desastre de sua Dona Flor dá para ser perdoado. O último longa de Mulligan, no começo dos anos 90, "No Mundo da Lua", conta a história do rito de passagem de uma garota. Ela vive no mundo da Lua, mas o filme passa-se nos anos 60 e um homem, Neil Armstrong, está desembarcando na Lua. Mulligan pode ter sido irregular, mas seu saldo é positivo. Filmes como ele fez - os melhores - vivem no coração dos cinéfilos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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