Morre Harry Stone, no Rio

O ex-vice-presidente da Motion Picture Association para a América Latina, Harry Stone, morreu na quinta-feira de madrugada, de mal de Alzheimer. Ele tinha 74 anos e vivia com sua mulher, a brasileira Lúcia Stone (Burle Marx, de solteira)

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Por Agencia Estado
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O cinema americano perdeu seu maior defensor no Brasil. O ex-vice-presidente da Motion Picture Association para a América Latina, Harry Stone, morreu na quinta-feira de madrugada, de mal de Alzheimer. Ele tinha 74 anos e vivia com sua mulher, a brasileira Lúcia Stone (Burle Marx, de solteira) num apartamento na praia do Flamengo, na zona sul. Nos dois últimos anos, devido ao agravamento da doença, o casal estava afastado da intensa vida social que sempre levou em função da atividade de Stone: a defesa dos interesses da indústria cinematográfica americana. Stone era natural da Califórnia e teve seu primeiro contato com brasileiros durante a 2.ª Guerra Mundial, quando lutou na Itália como soldado do exército americano. Lá, aprendeu português e, poucos anos depois, na década de 50, veio para o Brasil como representante da Motion Picture, a associação que reúne as sete maiores produtoras de cinema dos Estados Unidos. Exerceu o cargo até 1995, quando foi substituído por Steve Solot. Stone decidiu ficar no Brasil atuando com consultor da associação. O produtor Luiz Carlos Barreto o conheceu quando ainda era fotógrafo da revista O Cruzeiro, ainda nos anos 50. Apesar de terem interesse opostos (afinal, Stone defendia os interesses do cinema americanos, muitas vezes conflitantes com o dos cineastas brasileiros), os dois ficaram amigos pelo resto da vida. "Ele cumpria seu papel, mas era um homem confiável, nunca foi mau caráter e tornou-se amigo de seus adversários", lembrou ontem Barreto. "Sempre procurou discutir as divergências e era um homem muito preparado para sua função, que era fazer lobby para o cinema americano." Suas histórias ficaram famosas assim como as sessões de cinema que promovia para um grupo seleto de socialites. Ainda nos anos 50, numa visita do galã Rock Hudson ao Brasil, inventou um namoro com a atriz Ilka Soares, uma das divas da época, para despistar o homossexualismo do ator. De outra feita, numa reunião do presidente da Motion Pictures, Jack Valenti, com cineastas brasileiros ele traduziu as agressões verbais destes como agrados. "Quando nós reclamamos ele piscou o olho e pediu calma porque não queria perder o emprego", contou Barreto. Ser convidado para sua sessão de cinema semanal era sinal de prestígio social. Especialmente se era a que acontecia às vésperas da entrega do Oscar, pois ano após ano o filme exibido ganhava o maior prêmio da indústria americana. E quando os cineastas e atores brasileiros precisavam falar com os americanos, era Stone quem facilitava o contato. "Se o pedido não prejudicava sua área de atuação, ele estava sempre pronto a ajudar", comentou Barreto. "A gente brincava que, aposentado, ele ia fazer lobby do cinema brasileiro no Congresso americano." Esse abrasileiramento se refletiu na vida profissional, social e pessoal. Além de ter se casado com uma brasileira, Harry Stone fazia questão de, no dia 7 de setembro, vestir de novo seu uniforme de soldado americano para desfilar entre os pracinhas brasileiros. Harry Stone não tinha filhos e foi enterrado no mesmo dia de sua morte, no cemitério São João Batista, numa cerimônia só para a família.

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