Morre em Minas o escritor Wander Piroli

Autor de livros infantis como O Menino e o Pinto do Menino e contos como Minha Bela Putana, entre outros, morreu aos 75 anos

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Morreu sábado, às 9h, no Hospital Life Center, em Belo Horizonte, o escritor mineiro Wander Piroli. Ele tinha 75 anos. A informação de sua morte foi transmitida à reportagem por sua filha, Silvana. O escritor tivera um derrame há 20 dias e teve de ser operado, o que complicou muito seu estado neurológico (sofrera uma isquemia em 1998). Traduzido até para o búlgaro e o polonês, Wander Piroli foi um dos grandes cronistas de uma cidade, Belo Horizonte, em livros como Lagoinha (Editora Conceito). Escreveu diversos livros infantis, entre eles O Menino e o Pinto do Menino, de 1975 (grande sucesso de público, hoje em sua 33.ª edição), e Os Rios Morrem de Sede. Apesar de celebrado por seus pares, amigos como João Antônio, Fernando Sabino, Antonio Torres, Ari Quintella e Roberto Drummond, ele amargou um certo ostracismo nas últimas décadas de vida. Seu melhor livro de contos, Minha Bela Putana, escrito em 1984, só teve a primeira reedição em 2004, pela Editora Papagaio, de São Paulo (141 págs., R$ 27). Essa semana, a Editora Leitura, de Belo Horizonte, anunciou que pretende relançar toda sua obra e editar seus inéditos, a partir de agosto. Jornalista atuante em Minas, ele integrou a redação do mítico Binômio, fechado pelo regime militar. Escapou de ser preso porque viu, da rua, militares invadindo o edifício no momento em que ia trabalhar. Neto de operário de origem italiana, começou na literatura ao inscrever, em 1951, um conto num concurso da prefeitura. Era O Troco. Ganhou o concurso e não parou mais. Leia aqui um conto de Wander Piroli LAGOINHA Ninguém sabe como começou a briga. Eles estavam ali na calçada, na Rua Itapecerica, e o mendigo-um, de pé, dava chutes no mendigo-dois, deitado. Como se estivessem embriagados, tudo transcorria em câmera lenta, com intervalos demorados entre os chutes. Era difícil distinguir o mendigo-um do mendigo-dois. A miséria e a bebida os haviam padronizado. Ambos imundos, barbudos, maltrapilhos e fedorentos continuavam lutando ali na calçada, em frente do botequim, e ninguém se incomodava com eles. Junto ao balcão, uma mulher inchada olha para eles com desinteresse. Conseguiram forças para se colocarem sentados. Respiravam com dificuldade. O mendigo-um arrastou-se até o meio-fio e pegou uma pedra. Enquanto isso, o mendigo-dois revolve os bolsos da calça e tira um canivete. Com o tempo, os golpes foram se tornando mais espaçados e o mendigo-dois tombou de lado. A radiopatrulha demorou quase uma hora para chegar, e os soldados recolheram enfadados o que restava dos dois mendigos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.