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Morre Dicró, voz do subúrbio

Por Roberta Pennafort e RIO
Atualização:

Irreverência é a marca dos sambas de Dicró, compositor fluminense que morreu na noite de anteontem, aos 66 anos, de infarto. Ele era diabético, tinha problemas renais e episódios de hipertensão. Passou mal em casa, em Magé, na Baixada, depois de uma sessão de hemodiálise. Até poucas semanas atrás, era visto no Largo da Carioca, no centro do Rio, vendendo seus CDs numa banquinha e fazendo graça com quem passava por ele.Dicró se chamava Carlos Roberto de Oliveira (quando começou a compor, assinava "De C.R.O.", daí o apelido) e era conhecido pelas letras de duplo sentido. As brincadeiras com a figura da sogra eram constantes. Ele brincava dizendo que se pudesse teria dez sogras - "minha mulher é que não deixa".Os sambas sobre o cotidiano dos morros e subúrbios lhe garantiam empatia com o povão. Na década de 90, uniu-se a Moreira da Silva e Bezerra da Silva para fazer o disco Os 3 Malandros In Concert. Depois da morte dos dois sambistas, passou a ser considerado "o último dos malandros cariocas".A Vaca da Minha Sogra (Quem me comprar essa vaca/ Pague o preço que puder/ Eu ainda lhe dou de presente/ A jararaca da minha mulher), Praia de Ramos, O Bingo, Olha a Rima e Funeral do Ricardão estão entre as músicas mais lembradas. O enterro de Dicró estava marcado para o fim da tarde de ontem, no cemitério Jardim da Saudade. Ele era casado havia 46 anos, tinha três filhos e três netos. Cuidava da saúde por pressão familiar, mas não dispensava a cerveja e a comida gordurosa de botequim.A infância foi numa favela da Baixada. A mãe, ligada à umbanda, reunia sambistas no terreiro que mantinha. Mais tarde, ele integraria a ala de compositores de duas escolas de samba da região, a Beija-Flor e a Grande Rio. Roberto Ribeiro o lançaria em disco em 1976. Dicró gravou 12.

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