Morre Álvaro Apocalypse, fundador do Giramundo

Autor de 27 espetáculos em 33 anos, o artista mineiro é considerado um dos principais renovadores do teatro de bonecos no País

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Por Agencia Estado
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Morreu no sábado, no Hospital Luxemburgo, em Belo Horizonte, de infecção generalizada, Álvaro Apocalypse, artista plástico, diretor e fundador do grupo mineiro Giramundo. Nascido em Ouro Preto, em 14 de janeiro de 1937, ele foi um dos principais responsáveis pela renovação do teatro de bonecos no Brasil. Formado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1960, começou no ano seguinte a estudar gravura em metal e litografia na Escola Guignard, também em Minas. Em 1970, fundou o Giramundo, em parceira com sua mulher Terezinha Veloso e Maria do Carmo Vivacqua Martins, ambas também artistas plásticas. Começa aí uma intensa e múltipla atividade artística que ao longo dos anos seria premiada no Brasil - entre eles um Molière em 1980 e Prêmio Multicultural Estadão em 1998 - e no exterior. Em 33 anos de existência, foram 27 espetáculos e mais de 700 bonecos criados. Como Apocalypse fazia questão absoluta de jamais "canibalizar" suas criações, a companhia possui um belíssimo acervo de bonecos, confeccionados com os mais diferentes materiais, desde cerâmica, madeira e gesso, até acrílico, pano e papel, em diversos formatos, tamanhos e cores. Acervo que pôde ser visto durante os meses de junho e agosto numa grande exposição - 1,5 mil metros quadrados - realizada no Sesc Santo André, em São Paulo, com cerca de 650 bonecos. Apuro técnico e qualidade de dramaturgia - sempre assinada por Apocalypse - eram também características da companhia, seja nos espetáculos adultos ou infantis. Entre as dramaturgias criadas pelo diretor, que respeitavam a especificidade do teatro de bonecos, estão a adaptação do conto Diário de um Louco, do russo Nicolai Gogol; do poema Cobra Norato, de Raul Bopp, da ópera A Flauta Mágica, de Mozart e Relações Naturais, a partir da obra de Qorpo Santo. Tais adaptações resultaram em espetáculos de forte impacto visual, encantadores, porém sem facilitações. Escola - Jamais um espetáculo do Giramundo se repetia no que diz respeito à técnica. Sem purismos, Apocalypse inovou ao misturar diferentes estilos de manipulação. Nos espetáculos do Giramundo o espectador pode ver marionetes (manipulados por fios), mamulengos (fantoches de luva), bonecos de vara (espécie de estandartes) ou bunraku (manipulados por três atores) e mochila (estilo de manipulação em que o boneco fica apoiado nos ombros). Sem contar os bonecos de invenção própria, como um usado no Diário de um Louco em que o ator "vestia" o boneco sentado numa espécie de lambreta. Também não faltaram o uso de máscaras e o teatro de sombras. Na sede do Giramundo, em Belo Horizonte, Apocalypse mantinha uma escola de formação e o museu com o acervo do grupo. Com um vasto repertório constantemente apresentado pelo Brasil, certamente o Giramundo, que tem um núcleo de 15 marionetistas, não deixará de existir com a morte de seu fundador.

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