Morre Alain Robbe-Grillet, fundador do 'novo romance' francês

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Por RICHARD BALMFORTH
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O escritor e cineasta Alain Robbe-Grillet, "enfant terrible" do establishment literário francês que ajudou a fundar a escola do novo romance, nos anos 1950, morreu na segunda-feira aos 85 anos, informou sua editora. Robbe-Grillet tornou-se figura cult entre intelectuais franceses do pós-guerra, com um gênero de romance que rejeitava convenções como trama, caracterização e emoções. O gênero lançou um tipo de ficção semifilosófica em que pouco acontece, mas muita coisa é observada, imaginada ou pensada. Após a publicação de "Les Gommes" em 1953, Robbe-Grillet lançou mais de uma dúzia de romances ao longo de 20 anos, incluindo "Le Voyeur", em 1955, e "La Jalousie" em 1957. Mas o gênero frio que ele ajudou a fundar, frequentemente destituído de foco narrativo mas obcecado com a descrição de objetos inanimados, não agradou ao grande público e nunca chegou a ser largamente aceito. No auge de sua fama, em 1961, ele foi convidado a escrever o roteiro do filme "O Ano Passado em Marienbad" -- quase um reflexo do "novo romance" em forma cinematográfica, com a interação repetitiva e onírica entre três personagens sem nome. A partir desse momento, Robbe-Grillet dedicou-se sobretudo ao cinema, não apenas escrevendo roteiros mas também dirigindo vários filmes, incluindo "La Belle Captive", em 1983. Ele não chegou a ser largamente conhecido na Europa exceto em seu país, mas ganhou alguma fama nos EUA e lecionou em Nova York e St. Louis por muitos anos, até 1990. Em outubro de 2007 ele chocou o establishment francês ao lançar "Um Romance Sentimental", que continha descrições de incesto e pedofilia. Fez pouco caso das críticas, dizendo que o livro não era parte de sua obra séria. Em 2004 Robbe-Grillet foi eleito para a Academia Francesa, que atua como guardiã da língua francesa. Entretanto, rebelde até o final, ele se negou a submeter-se às condições de ingresso na academia, que incluíam a compra de um traje cerimonial e prestar uma homenagem a seu predecessor. Por essa razão, não chegou a ser formalmente aceito na organização. Robbe-Grillet morreu no hospital na cidade de Caen, na Normandia, informou uma porta-voz da editora Fayard, sem revelar a causa da morte.

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